Alcione chegou ao Rio de Janeiro em 1967 e percorreu as tradicionais boates da Zona Sul, onde a música ao vivo reinava. Cantava de tudo. Em 1972, começou a lançar compactos — o que hoje chamaríamos de singles —, mas seu primeiro álbum só veio em 1975.

A gravadora que apostou em sua carreira queria que ela cantasse samba, um gênero que estava em alta com nomes como Martinho da Vila e Paulinho da Viola, além de figuras inesquecíveis como Clara Nunes e Beth Carvalho.

Assim nasceu A Voz do Samba, disco que completa 50 anos de lançamento em 2025. Gravado com a cadência do samba de raiz, o álbum trouxe o grande sucesso que projetou Alcione nacionalmente: Não Deixa o Samba Morrer. Composta por Edson Conceição e Aloísio Silva, a canção se tornou um hino sobre a preservação da maior herança musical brasileira.

Outro destaque foi O Surdo, de Totonho e Paulinho Rezende. Este último, mais de duas décadas depois, comporia dois outros sucessos marcantes da fase de Alcione como intérprete do pagode romântico: A Loba (Paulinho Rezende e Julinho Peralva) e Meu Ébano (Paulinho Rezende e Neneo).

O disco também guarda algumas curiosidades. Alcione gravou Acorda que Eu Quero Ver, de Carlos Dafé, e É Amor… Deixa Doer, de Dom Mita, dois nomes ligados à black music brasileira, que estava em evidência na época.

Com um total de 12 faixas, o álbum se encerra com um pot-pourri de duas canções icônicas: Samba em Paz, de Caetano Veloso — a primeira música do baiano a ser registrada em disco, lançada originalmente em um compacto de 1965 —, e Voz do Morro, o emblemático samba de Zé Keti.

A maranhense também homenageou Candeia, um dos maiores compositores do gênero, ao gravar História de Pescador e Batuqueiro Feiticeiro. Sambistas baianos também tiveram espaço no repertório, com Aruandê (Edil Pacheco e Nelson Rufino), Espera (Batatinha e Ederaldo Gentil) e Até o Dia de São Nunca (Edil Pacheco e Paulinho Diniz).

A relação com a música veio de berço, e Alcione fez questão de registrar essa influência ao incluir Etelvina, Minha Nega, composição de seu pai, o maestro João Carlos Nazareth. Além disso, interpretou Todo Mundo Quer, do lendário sambista Ismael Silva.

Com sua voz grave e imponente, Alcione demonstrou uma habilidade musical excepcional em A Voz do Samba. O álbum foi o passaporte que abriu as portas para a Marrom se consolidar como uma das maiores cantoras da música brasileira.

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Last Update: 03/03/2025