Na noite mais aguardada do cinema mundial, Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional, marcando um feito histórico para o Brasil. O longa, que retrata a luta de uma mulher em busca de seu marido desaparecido durante a ditadura militar, emocionou críticos e público ao redor do mundo, consolidando-se como um dos grandes títulos do ano.

Uma obra de impacto emocional e histórico

Ainda Estou Aqui foi elogiado por sua abordagem sensível e contundente sobre um período traumático da história brasileira. A performance visceral de Fernanda Torres no papel de Eunice Paiva, uma mulher que desafia o silêncio e o medo em busca de justiça, foi um dos elementos mais destacados do filme. A direção de Walter Salles imprimiu um tom poético e realista à narrativa, resultando em uma obra cinematográfica que transcende fronteiras.

“Isso vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande no regime tão autoritário, decidiu não desistir… Esse prêmio vai para ela: Eunice Paiva”, disse Walter Salles durante seu discurso de agradecimento. “E vai para as duas mulheres extraordinárias que deram vida a ela: Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.”

A disputa com grandes adversários

A competição pelo Oscar de Melhor Filme Internacional foi acirrada. Ainda Estou Aqui enfrentou títulos como Emilia Pérez (França), A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha), A Garota da Agulha (Dinamarca) e Flow (Letônia). A vitória do filme brasileiro reflete não apenas sua qualidade cinematográfica, mas também sua ressonância com temas universais de justiça e memória.

Emília Pérez enfrentou a rejeição do público mexicano, desde o início, e uma campanha desastrosa eivada de polêmicas. Flow encantou o mundo com sua originalidade, mas teve contra si o fato de ser uma animação sem diálogos. Os demais filmes são grandes histórias, mas com um apelo menor para os acadêmicos.

Diferente de anos anteriores, Ainda Estou Aqui contou com um investimento recorde na sua campanha para o Oscar. O Brasil apostou em uma estratégia agressiva nos EUA, promovendo exibições especiais em Nova York e Los Angeles, além de eventos com acadêmicos e personalidades da indústria. A presença constante de Walter Salles e Fernanda Torres em talk shows e festivais internacionais ajudou a manter o filme em destaque até a premiação.

O impacto geopolítico da vitória

A vitória de Ainda Estou Aqui ocorre em um momento de crescente interesse internacional por temas ligados a direitos humanos e democracia. A ascensão do autoritarismo de Donald Trump nos EUA e seu desrespeito pelas instituições democráticas tornam a mensagem do filme brasileiro particularmente sensível para os americanos.

“Poucos filmes retrataram os efeitos devastadores da política sobre os indivíduos de maneira tão íntima, visceral e oportuna, chegando num momento em que o crescimento do autoritarismo se tornou uma preocupação global”, escreveu a crítica americana Caryn James, em texto para a BBC Culture.

Ainda Estou Aqui foi lançado oficialmente nos cinemas brasileiros em 7 de novembro de 2024 e, mesmo tendo sido alvo de boicote, consequentemente fracassado, da direita brasileira, imediatamente tornou-se um sucesso de bilheteria, assumindo e mantendo-se na liderança da bilheteria nacional, com arrecadação de mais de 159 milhões de reais e mais de 5,1 milhões de espectadores até o momento.

Ao trazer à tona um passado doloroso do Brasil, o filme também dialoga com outras histórias de resistência ao redor do mundo. A premiação reforça a relevância do cinema como ferramenta de reflexão e mudança social.

O renascimento do cinema brasileiro

Com um sucesso de bilheteria impressionante tanto no Brasil quanto no exterior, Ainda Estou Aqui simboliza um novo momento para o cinema nacional. A vitória no Oscar reacende o interesse pela produção brasileira e abre portas para novos projetos. O feito também lembra a histórica indicação de Fernanda Montenegro ao Oscar de Melhor Atriz por Central do Brasil em 1999, dirigido pelo mesmo Walter Salles, consolidando-o como um dos grandes cineastas brasileiros no cenário mundial.

Com essa consagração, Ainda Estou Aqui entra para a história do cinema, provando que as narrativas brasileiras têm o poder de emocionar e impactar audiências globais. O Brasil, finalmente, ergue sua estatueta dourada com orgulho.

Prêmio para a produção

A produção ficou a cargo de Maria Carlota Fernandes Bruno, Walter Salles e Rodrigo Teixeira, enquanto Juliana Capelini, Renata Brandão, Thierry de Clermont-Tonnerre e Lourenço Sant’Anna atuaram como produtores executivos. O filme foi produzido pela RT Features e VideoFilmes em parceria com Globoplay, Mact Productions, Conspiração Filmes e Arte France Cinéma com gravaçõe no Rio de Janeiro em junho de 2023. O filme é distribuído internacionalmente, incluindo os Estados Unidos, pela Sony Pictures Releasing, através do selo Sony Pictures Classics.

De acordo com o IMDb, base de dados online de informação sobre a indústria do cinema, o filme teve custo de produção estimado em US$ 1,5 milhão (cerca de R$ 8,8 milhões, na cotação atual). O valor o elenca como o mais barato entre os indicados ao Oscar deste ano. Em contraste, o filme de ficção-científica “Duna: Parte 2”, o longa mais caro da lista, foi produzido com US$ 190 milhões, valor 126 vezes maior.

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Last Update: 03/03/2025