Jornalista Elio Gaspari. Foto: Divulgação

O jornalismo é uma das atividades, ao lado da investigação policial, que mais lidam com a coerência dos encadeamentos entre episódios traumáticos, para assim chegar a um conjunto coerente que dê sentido a um ou a vários eventos.

Pois Elio Gaspari, um jornalista veterano, pisoteia na ideia básica dos encadeamentos, para tentar, pela segunda vez, livrar a cara de Bolsonaro e dos militares como golpistas envolvidos também no 8 de janeiro.

Na Folha hoje, ele escreve que os preparativos para o golpe, durante 2022, e a invasão de Brasília no começo de 2023 são coisas distintas. Por que diz isso? Para tentar atenuar as culpas dos líderes e largar tudo no colo dos manés.

Leiam o que ele escreve:

“O inquérito do 8 de janeiro documenta fatos que aconteceram. Os documentos da trama golpista revelam que os planos existiram e não foram adiante. As duas coisas podiam ter o mesmo objetivo, ainda assim, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.

Gaspari diz até que, se fugiu para os Estados Unidos, Bolsonaro não estava no local do crime no 8 de janeiro. Seria golpista, se não estava ali? O raciocínio é de constranger estagiário de jornalismo.

Vamos repetir seu argumento. O 8 de janeiro documenta fatos que aconteceram. E os planos, que não deram certo, segundo ele, não aconteceram porque os fatos que projetaram não existiram. Eureca.

Qualquer um capta o argumento enviesado. Os planos de 2022 não têm relação com a invasão de 2023 porque seriam coisas diferentes, talvez com grupos diferentes e líderes diferentes, que nem se comunicavam entre si.

É um raciocínio torto, de envergonhar a geração do próprio jornalista, considerado por muitos o que mais entende de golpes militares. Deve por isso que agora ele oferece argumentos aos golpistas da turma de Bolsonaro.

(Gaspari sabe que quase todas as áreas da atividade humana buscam nas origens de fatos as explicações para seus efeitos. É coisa da antiguidade, talvez das cavernas. Mas despreza os planos de 2022 como causadores da invasão de 2023. A medicina, a engenharia, a biologia em geral, o ambientalismo, o direito criminal – todos lidam com o que ainda chamam de nexo casual. Gaspari assassinou o nexo casual.)

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Last Update: 02/03/2025