Para a cantora e sambista Dorina, o Carnaval é sinônimo de alegria e catarse. “Esse momento em que temos escolas de samba e blocos na rua é uma explosão de emoções”, afirma.
Carioca do Irajá, Dorina tem 30 anos de carreira e 10 álbuns lançados. Desde 2018, idealiza o Encontro Nacional e Internacional de Mulheres na Roda de Samba. Além disso, é jurada do Estandarte de Ouro desde 2006, a mais tradicional premiação das escolas de samba do Rio de Janeiro.
Observadora atenta do Carnaval, Dorina vê nos desfiles das escolas de samba um processo simultâneo de evolução e retrocesso. “Todo segmento importante da escola sofre alguma mudança ao longo do tempo. E, de certa forma, nos acostumamos com isso”, comenta.
Uma das transformações que mais lhe chamam atenção é a velocidade dos desfiles, que, segundo ela, impacta a ala de passistas. “Não conseguimos mais vê-los dançar como antes. A passagem ficou tão rápida que pararam de escolher os passistas com o mesmo critério de antigamente”, diz. Essa é uma das principais críticas ao modelo atual dos desfiles na Sapucaí.
Este ano, as escolas do Grupo Especial terão três dias de desfile, em vez de dois, e um tempo maior de evolução na avenida. “É uma experiência”, resume Dorina.
A sambista também destaca outra mudança marcante: a identidade das baterias. “Antes, era possível reconhecer a escola só pelo som da bateria. Hoje, isso se perdeu um pouco. Quando um mestre muda de escola, ele leva consigo traços da sua antiga agremiação, misturando as referências”, analisa.
Se há algo que, na sua visão, não pode ser alterado, são as alas das baianas, um dos símbolos mais emblemáticos do Carnaval. “Teve uma época em que muitas baianas deixaram de desfilar por influência das igrejas evangélicas. Para preencher o número mínimo exigido, homens passaram a integrar a ala. Hoje, esse conflito diminuiu porque se compreendeu que desfilar na ala das baianas não tem nada a ver com religião”, explica.
Para ela, a ala representa um dos pilares do desfile. “O coração da escola é a bateria. A força da fé e da ancestralidade está na ala das baianas”, define.
Dorina também tem forte ligação com os blocos carnavalescos dos subúrbios cariocas, como os Suburbanistas — que contava com Mauro Diniz e Luiz Carlos da Vila — e o Mulheres de Zeca, criado para homenagear Zeca Pagodinho.
“Os blocos no subúrbio ainda existem, mas não se fala muito sobre eles”, lamenta. “Agora, com o patrocínio, surgiram esses blocos gigantes.” Para a sambista, deveria haver uma política de incentivo para os blocos menores, garantindo que uma parte dos recursos destinados aos grandes blocos fosse distribuída para os menores.
Outro fenômeno que Dorina destaca é o afastamento dos sambistas das escolas de samba. “Quando os compositores perceberam que não tinham mais espaço para apresentar seus sambas fora do enredo oficial, migraram para as rodas de samba, onde ainda podem mostrar suas novas composições”, observa.
Apesar das mudanças, Dorina vê o Carnaval do Rio como um grande encontro da folia.
Assista à entrevista completa de Dorina para CartaCapital: