Volodymyr Zelensky avalia que a relação com os Estados Unidos pode voltar aos trilhos depois do bate-boca com Donald Trump, que o repreendeu e expulsou da Casa Branca, acusando-o de não estar “preparado” para a paz com a Rússia. A discussão ocorreu nesta sexta-feira 28 e terminou sem que os políticos assinassem um esperado acordo sobre minerais.

“Certamente” que a relação pode ser retomada, declarou o presidente ucraniano em entrevista à emissora Fox News, mas ressaltou que não deve desculpas a seu par americano.

Reconheceu, porém, que seria “difícil” para a Ucrânia conter a invasão das forças russas sem o apoio americano e que gostaria que Trump estivesse “realmente mais” ao lado de seu país. “Ninguém quer acabar com a guerra mais do que nós mesmos”, frisou.

A entrevista ocorreu horas depois de um encontro que começou bastante bem e terminou mal: sem a assinatura de um acordo que daria a Washington acesso a minerais raros ucranianos, nem uma coletiva de imprensa.

Trump, que se orgulha da proximidade com o presidente russo Vladimir Putin, cumprimentou Zelensky com um aperto de mãos antes de fazer uma piada sobre seu traje de estilo militar.

Mas, no Salão Oval, o presidente dos Estados Unidos pediu que a Ucrânia aceitasse “concessões”.

Zelensky exigiu que não houvesse condescendência com o presidente russo, a quem chamou de “assassino”, e mostrou fotos da guerra iniciada há três anos, após a invasão de seu país.

De repente, o tom mudou. O vice-presidente J.D. Vance interveio, defendendo a “diplomacia”.

‘Desrespeitoso’

Zelensky, esforçando-se para permanecer calmo, expressou seu desacordo e argumentou que Putin, após anexar a Crimeia em 2014, nunca cumpriu a palavra sobre a Ucrânia.

O comentário enfureceu Vance. Ele o acusou de ser “desrespeitoso” e o criticou por forçar “os recrutas” a lutarem na linha de frente, enquanto o convidado permanecia com os braços cruzados.

O presidente ucraniano ficou tenso. “Você já esteve na Ucrânia alguma vez?”, perguntou-lhe.

Vance o acusou de propor uma visita “propagandística”.

Zelensky tentou se defender dizendo que os Estados Unidos vão acabar sentindo os efeitos da guerra, embora um oceano os separe da Europa.

E foi nesse momento que Donald Trump interveio: “Não nos diga o que vamos sentir”, protestou, gesticulando e levantando a voz. Zelensky apenas levantou as sobrancelhas e tentou falar.

“Você está se colocando em uma posição muito ruim. Você não tem as cartas” nas mãos, disse Trump.

Redes sociais

Mais tarde, o bate-boca foi levado para as redes sociais. Trump, em sua própria plataforma, a Truth Social, disse que Zelensky “não está preparado para a paz” e repetiu a avaliação de que o ucraniano “faltou com respeito aos Estados Unidos no estimado Salão Oval”. O republicano finalizou, então, informando que o político pode voltar aos EUA apenas “quando estiver preparado para a paz.”

Na rede social X, Zelensky usou tom mais amistoso e agradeceu ao presidente, ao Congresso e ao povo dos Estados Unidos. “A Ucrânia precisa de uma paz justa e duradoura e estamos trabalhando nisso”, escreveu.

Sem acordo

Antes que a reunião azedasse, o presidente ucraniano afirmou que Trump estava “do lado” da Ucrânia, e o republicano de 78 anos se jactou por ter alcançado um acordo “muito justo” sobre o acesso aos recursos ucranianos.

Um acordo que fica no ar. Para Trump, funcionaria como uma espécie de “rede de segurança”, porque ele duvida que alguém “vá procurar problemas” se os Estados Unidos tiverem “muitos trabalhadores” extraindo minerais na Ucrânia.

Horas mais tarde, Trump declarou que seu convidado “forçou a barra” e exigiu “um cessar-fogo agora” na Ucrânia, cujo comandante-chefe do Exército afirmou que “as forças armadas estão” com Zelensky.

Ucrânia e Europa têm acompanhado com preocupação a aproximação entre Trump e Putin, que iniciaram negociações para pôr fim à guerra.

A visão russa

Após o bate-boca, a porta-voz da diplomacia russa estimou que Trump e Vance agiram com “moderação” diante do “canalha” Zelensky.

“Como Trump e Vance se contiveram e não deram um tapa nesse canalha é um milagre da moderação”, escreveu a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, no Telegram.

Outro a repercutir o tema do lado russo foi o ex-presidente Dmitry Medvedev, atual número dois do Conselho de Segurança do país. Ao comentar o bate-boca, o político proferiu uma série de xingamentos ao ucraniano. “Pela primeira vez, Trump disse a verdade na cara do palhaço cheirador de cocaína”, declarou Medvedev.

(Com informações de AFP)

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Last Update: 01/03/2025