O novo líder da bancada evangélica no Congresso, o deputado federal Gilberto Nascimento (PSD-SP), disse considerar, em entrevista a CartaCapital neste sábado 1º, que a rejeição ao governo Lula no segmento não é fruto de falhas na comunicação, mas do que considera “falta de alinhamento real com os anseios” dos evangélicos.
“A relação do governo com o segmento evangélico não se constrói com discursos ocasionais ou gestos simbólicos, mas com ações concretas que respeitem nossos princípios e valores”, acrescenta o deputado, para quem a rejeição deve-se às “escolhas políticas e ideológicas” da gestão. Ele não detalhou, porém, quais escolhas da atual gestão considera equivocadas.
Apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o parlamentar foi eleito para chefiar a bancada na última terça-feira, em eleição marcada pela polarização interna. Nascimento recebeu mais que o dobro de votos do seu adversário, o pastor Otoni de Paula (MDB-RJ), apontado como um postulante alinhado ao Palácio do Planalto.
O bate-cabeça interno, cujo pano de fundo estava relacionado aos rumos da Frente Parlamentar Evangélica nos dois últimos anos da gestão petista, levou os deputados à escolha do seu líder pelo voto direto. Desde a criação da FPE, em 2003, o processo de sucessão interna era solucionado sem votação e na base do consenso.
O novo chefe da bancada, porém, refuta a tese de racha entre os membros do grupo. “Isso representa um amadurecimento democrático”, diz. “Essa eleição fortaleceu a Frente, pois houve debate legítimo. A coesão interna virá naturalmente na defesa das pautas que nos unem.”
Questionado sobre como ficará a relação com o governo Lula, Nascimento contemporiza e argumenta que o diálogo “precisa ser baseado no respeito” às pautas do segmento. Para que a interlocução avance, nas palavras do deputado, é necessário que primeiro o Planalto pare de fazer “oposição sistemática” à FPE e suas bandeiras. “O que temos visto é o governo tentando legislar por vias transversas, impondo resoluções e normativas contrárias aos valores que defendemos”, emenda.
O novo líder da FPE também evitou comentar qual será a posição do bloco sobre a anistia aos golpistas do 8 de Janeiro. A proposta é uma das alternativas para reabilitar politicamente Bolsonaro, inelegível por oito anos em razão dos ataques às urnas eletrônicas.
Nascimento diz considerar que o debate “deve levar em consideração o impacto na pacificação social” e afirma ser inaceitável que cidadãos estejam “distantes de suas famílias” há meses, sem “sentença definitiva”. Até o momento, o Supremo Tribunal Federal condenou mais de 370 pessoas envolvidas na intentona golpista.