A direita comemorou a vitória do CDU/CSU, a chamada União Democrática Cristã, um partido de perfil conservador. A esquerda também comemorou: o Die Linke recuperou sua credibilidade e subiu para 8% o percentual de eleitores desde as últimas eleições, quando vinha perdendo apoiadores, chegando até a ficar abaixo dos 5%, que é a cláusula de barreira. Registre-se também a relevante votação da recente Liga Sahra Wagenknecht que, por muito pouco – 0,05% –, não conseguiu assento no parlamento alemão. Para uma aliança de pouco mais de um ano, a votação foi digna das comemorações que se seguiram após a proclamação do resultado. Os liberais do FDP, que compunham a última coalizão, não conseguiram obter votos suficientes para conseguir assento no parlamento. O lado mais sombrio é o arrebatador resultado eleitoral do partido de ultradireita – AfD –, a chamada Alternativa para Alemanha: um em cada cinco eleitores alemães prefere o AfD. Trata-se de um aumento de 10 pontos percentuais em relação à eleição de 2021, o que evidencia um crescimento assustador, apesar das grandes demonstrações públicas contra a extrema-direita que antecederam as eleições.

Sem maioria, resta agora estabelecer as coalizões e assim obter a maioria dos assentos no parlamento para governar. É mais ou menos assim, em apertadíssima síntese, que funciona o parlamentarismo na Alemanha: é preciso obter maioria dos assentos no parlamento para então escolher o chanceler. A situação é peculiar: o CDU/CSU obteve pouco mais de 28%, seguido pelo partido AfD, com pouco mais de 21%. O SPD obteve o pior resultado de sua história, com pouco mais de 16% dos votos. Entretanto, a aposta em uma coalizão entre o CDU e o SPD, até por conta das declarações do novo chanceler, é mais provável com o SPD de Olaf Scholz, seu antecessor, embora isso ainda não esteja definido. Espera-se que esteja até a Páscoa. Ainda que a segunda maior votação tenha sido no AfD, a decisão de manter o isolamento da extrema-direita no parlamento parece seguir adiante.

O provável novo chanceler, Friedrich Merz, é considerado impopular, assim como o SPD, por conta do governo anterior. A situação é bastante delicada, o que faz com que os analistas alemães sejam bem cautelosos ao tentar prever o futuro. São tempos sombrios para a Alemanha e, com isso, também para a União Europeia.

Com essa configuração, não há garantia de obtenção de maioria qualificada para implementação das alterações constitucionais que são objeto de discussão mais acirrada desde a pandemia da Covid-19. E assim, podem aumentar as chances da Liga Sahra Wagenknecht de participar do governo. Por outro lado, uma aliança CDU-SPD-Grüne poderia garantir maioria qualificada para alterações constitucionais no sentido de liberar recursos extras (e desvinculados), bem como para a defesa, para sustentar a posição geopolítica atual ou agravá-la.
As alterações legislativas nesse sentido somente serão possíveis com a adesão das minorias: AfD, que está isolado até agora e deve ser mantido assim, ou a esquerda – Die Linke. Apenas se esses partidos liberarem o bloqueio das minorias, segundo as regras alemãs, os recursos poderão ser liberados. O problema, entretanto, é que a esquerda é contra a liberação de recursos para a guerra e só admite se for para investimento em infraestrutura e questões sociais.

Robert Habeck, atual representante dos Verdes no governo, manteve-se aberto a conversações exploratórias com a CDU/CSU. Há poucos dias, ele anunciou que continuará como líder de seu partido, e daí seguiu-se uma petição assinada por mais de 250 mil pessoas a favor de sua permanência no partido. Uma aliança com o Grüne não traria mudança substancial em relação ao governo atual, já que as afinidades entre a CDU/CSU em termos de política econômica são muitas.

Não será fácil conseguir alguma estabilidade política em um cenário tão dividido. Ao antecipar o voto de confiança, Scholz abriu a possibilidade de essas eleições serem contestadas pela Liga Sahra Wagenknecht perante o Tribunal Constitucional. Mas uma decisão dificilmente seria dada antes de 2026. Até lá, a instabilidade política e a dificuldade de estabelecer uma estratégia de governança eficiente permanecerão. Governar para a maioria da população segue sendo um grande desafio para a Alemanha.

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Last Update: 01/03/2025