O ex-embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa, disse em entrevista exclusiva ao canal TV GGN, que o governo federal sob Lula precisa ter cautela no modo de reagir ao embate entre o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e as empresas e agentes dos Estados Unidos, sob o custo de transformar uma “crise” que deveria ser resolvida de maneira técnico-jurídica numa “crise política” que pode afetar os interesses comerciais do País.

Em entrevista ao jornalista Luis Nassif, Barbosa criticou a resposta do Itamaraty à nota de um órgão ligado ao Departamento de Estado americano, que atacou decisões tomadas por Moraes contra redes sociais dos EUA – entre elas, o Rumble – que se recusam a obedecer ordens judiciais. Embora a resposta da diplomacia brasileira tenha sido, segundo Barbosa, genérica e sem menção direta ao STF e Elon Musk, dono do X, o Itamaraty deveria ter deixado a resposta técnica para algum órgão equivalente ao que emitiu a nota pelo lado dos americanos.

“Eu acho que a nota deveria ser respondida, mas deveria ser respondida em nível técnico, não em nível diplomático para não politizar o assunto e envolver o governo brasileiro”, disse Barbosa ao GGN.

Quanto aos ataques sofridos por Moraes, Barbosa acredita que o próprio STF deveria responder institucionalmente, justamente para não envolver o governo federal uma potencial crise diplomática.

“Para evitar a politização, a resposta deveria ter sido feita pelo Supremo, porque esse assunto não é um assunto do governo, é uma questão jurídica em que a legislação brasileira tem que ser cumprida, não há menor dúvida disso.”

Na visão de Rubens Barbosa, a cautela é necessária porque “não estamos entrando em choque com qualquer país. Estamos entrando em choque com os Estados Unidos e com quem é o hoje o sujeito que tem mais influência lá [Musk].”

Barbosa lembrou que o contexto em que esse “choque” está acontecendo precisa ser levado em conta antes de cada reação do Itamaraty acontecer. Ele lembrou que Trump tomou posse deflagrando uma série de taxações pelo mundo, que vão impactar negativamente nos negócios brasileiros também. Em outras palavras, seria de bom tom evitar cutucar a onça com vara curta, para não piorar a situação.

“Nós estamos dependendo dos Estados Unidos na questão do aço, na questão do alumínio, daqui a pouco na questão do etanol. Como é que a gente vai negociar com eles, se a gente tem um ‘caso político’?”

Barbosa também alertou sobre a influência da oposição brasileira em Washington, que estaria buscando apoio da ala direita do governo americano, enquanto não se tem notícia de que o governo Lula tem reforçado o canal de comunicação oficial com os EUA.

“Não tenho nenhuma informação sobre um canal aberto pelo nosso governo no governo Trump, em nível de presidência da República ou de assessores presidenciais e nem em nível de departamento de Estado. É possível que que haja, mas a gente não está sabendo. Então, enquanto existe essa dificuldade do lado do governo, a oposição ao governo Lula está solta lá em Washington fazendo, acontecendo, propondo e conseguindo o ouvido dessa ala que hoje governa, que é a ala da direita.”

Relações internacionais

O embaixador também abordou a questão da relação do Brasil com a China, defendendo a decisão do governo brasileiro de não aderir à Rota da Seda, argumentando que isso permite ao Brasil negociar com os chineses sem gerar atritos com os Estados Unidos.

Barbosa também emitiu a opinião de que o governo brasileiro deveria se concentrar nas áreas onde, de fato, tem protagonismo, evitando se envolver em pautas que não tem porte para negociar, como é o caso da guerra da Rússia contra a Ucrânia e de Israel contra o povo palestino.

Para o diplomata, o Brasil tem força em três áreas hoje: segurança alimentar, meio ambiente e transição energética. “Por isso que a minha posição é defender uma posição de cautela do Brasil, da gente não se meter onde não tem força. A gente tem força em três áreas.”

Em relação à taxa de juros no Brasil, Rubens Barbosa afirmou que a inflação é controlada pelo câmbio e que a taxa Selic é uma armadilha, pois atrai capital especulativo e aumenta a dívida pública. Ele defendeu a necessidade de uma articulação internacional para conter o livre fluxo de capitais e evitar a volatilidade cambial.

O embaixador também criticou a privatização de escolas públicas em São Paulo, defendendo que a educação deve ser priorizada e que a gestão pública é fundamental para garantir a qualidade dos serviços. Ele também expressou preocupação com a influência da extrema direita no Brasil, especialmente em relação à eleição de senadores, e alertou sobre o risco de um processo de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal.

Assista a entrevista completa abaixo:

Este texto foi escrito com auxílio de I.A. e editado pelo time de jornalistas do GGN.

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Last Update: 28/02/2025