O empresário sul-africano Elon Musk é considerado um ídolo por parte da extrema-direita brasileira devido à sua riqueza e suposto gênio empreendedor. Convocado por Donald Trump para reduzir gastos governamentais nos EUA, Musk, paradoxalmente, é um dos maiores beneficiários do governo americano, segundo reportagem do The Washington Post.
Nos últimos 20 anos, Musk e suas empresas receberam pelo menos US$ 38 bilhões em contratos, empréstimos, subsídios e créditos fiscais, muitas vezes em momentos críticos.
“Pouco depois de se tornar CEO da Tesla, que enfrentava problemas financeiros em 2008, Musk se esforçou para garantir um empréstimo com juros baixos do Departamento de Energia. Segundo duas fontes envolvidas no processo, ele realizava briefings diários com executivos sobre a documentação e passava horas com um agente de empréstimos do governo”, relata o Post.
Quando a Tesla percebeu que faltava uma certificação crucial da Agência de Proteção Ambiental para se qualificar para o empréstimo, Musk entrou em contato diretamente com Lisa Jackson, então diretora do equivalente americano ao Ministério do Meio Ambiente. Ambas as fontes falaram sob anonimato por medo de retaliação.
Dois terços dos US$ 38 bilhões recebidos por Tesla e SpaceX foram pagos entre 2020 e 2024. Somente em 2024, governos federal, estaduais e municipais destinaram pelo menos US$ 6,3 bilhões às empresas de Musk, o maior montante registrado em um único ano.
Possivelmente, o valor real seja ainda maior, já que a análise do Post inclui apenas contratos públicos, excluindo acordos sigilosos de defesa e inteligência. A SpaceX, por exemplo, desenvolve satélites espiões para o National Reconnaissance Office (NRO), uma divisão do Pentágono, em um contrato estimado em US$ 1,8 bilhão, segundo a Reuters.
O Post também identificou quase uma dúzia de contratos locais, reembolsos e créditos fiscais cujo valor não é integralmente público. Além disso, 52 contratos ativos com sete agências governamentais — incluindo NASA, Departamento de Defesa e Administração de Serviços Gerais — podem render às empresas de Musk outros US$ 11,8 bilhões nos próximos anos.
Contratos governamentais e dependência financeira
Contratos da NASA e do Departamento de Defesa com a SpaceX representam a maior parte dos fundos recebidos. A Tesla obteve US$ 11,4 bilhões em créditos federais e estaduais para fomentar a indústria de veículos elétricos.
Especialistas afirmam que esses incentivos foram fundamentais para o crescimento da empresa, incluindo o crédito fiscal de US$ 7.500 por veículo elétrico vendido. Musk defendeu o fim desse crédito, alegando que seus concorrentes dependiam mais do incentivo do que a Tesla.
O Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), comandado por Musk, tentou reduzir pessoal, orçamentos e contratos em sete agências onde suas empresas possuem contratos ativos, incluindo o Departamento de Transporte e a Administração de Serviços Gerais.
Apesar disso, os contratos de Musk trouxeram benefícios para os EUA. “Seus empreendimentos abriram novos mercados que avançaram objetivos do governo, como a exploração espacial e a expansão dos veículos elétricos”, pondera o jornal.
Jeffrey Sonnenfeld, professor da Escola de Administração de Yale, afirmou que “nenhuma empresa dessa escala tem sido tão dependente de dinheiro federal — nem Nvidia, nem Microsoft, nem Amazon, nem Meta”. Sonnenfeld destacou o paradoxo: “Musk é um dos maiores beneficiários da política industrial americana, graças ao financiamento público”.
O apoio inicial do governo foi crucial para as empresas de Musk. O empréstimo de US$ 465 milhões do Departamento de Energia em 2010 permitiu à Tesla desenvolver o Model S e adquirir uma fábrica na Califórnia. Seis meses depois, a empresa abriu seu capital.
Tesla e os subsídios
Desde sua fundação em 2003, a Tesla se beneficiou de bilhões em descontos e créditos fiscais. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, afirmou que “não haveria Tesla sem a regulação californiana”. A empresa, por sua vez, declarou ter investido mais de US$ 5 bilhões no estado desde 2016 e gerado 47.000 empregos.
Um terço dos US$ 35 bilhões em lucros da Tesla desde 2014 veio da venda de créditos regulatórios para outras montadoras. Esses créditos ajudaram a Tesla a se tornar lucrativa em 2013 e novamente em 2020. Sem esses incentivos, a empresa teria registrado um prejuízo de US$ 700 milhões em 2020.
SpaceX e o financiamento do governo
A SpaceX, criada por Musk em 2002 com US$ 100 milhões de sua própria fortuna, recebeu apoio financeiro do governo desde o início. Em 2003, a DARPA, agência de pesquisa do Pentágono, financiou o desenvolvimento do foguete Falcon 1, cujo primeiro lançamento em 2006 fracassou. Apesar disso, o Departamento de Defesa continuou apoiando a empresa.
Em 2008, poucos meses após o Falcon 1 chegar à órbita, a NASA concedeu à SpaceX um contrato de US$ 1,6 bilhão. Antes mesmo do Falcon 9 ser lançado, a empresa já havia recebido centenas de milhões de dólares.
O sucesso da SpaceX na obtenção de contratos federais levou Jeff Bezos, fundador da Blue Origin, a afirmar: “O verdadeiro superpoder de Elon é conseguir dinheiro do governo”.
Com o tempo, a SpaceX reduziu sua dependência do governo, especialmente com a ascensão do Starlink. O Morgan Stanley estima que a divisão de internet via satélite faturou US$ 9,3 bilhões em 2024. No entanto, contratos secretos com o Pentágono dificultam a avaliação de sua receita total
Conheça as redes sociais do DCM:
Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo
Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line
