Tropas israelenses, com apoio aéreo, realizaram várias operações contra o movimento islamista Hamas na Faixa de Gaza nesta sexta-feira 28, provocando a fuga de dezenas de milhares de palestinos após quase nove meses de uma guerra que gera temores de uma conflagração regional.
As tropas atacaram “dezenas de posições do Hamas” no bairro de Shujaiya, na Cidade de Gaza, no norte da Faixa, onde na quinta-feira já haviam realizado ataques com fogo de artilharia e helicópteros, informou o exército.
Colunas de fumaça se erguiam sobre a localidade, observou um repórter da AFP.
A Defesa Civil de Gaza e testemunhas relataram “numerosas mortes”. “Dezenas de milhares de civis” fugiram da área, indicou a Defesa Civil, após um chamado do exército para a saída da população.
“Já basta!” disse uma mulher palestina que deixava a área.
“Vi um tanque disparando em frente à mesquita de Shuhada. Meus pais e minha irmã estavam presos em casa e não tenho notícias deles. Havia mártires nas ruas”, contou Abdelkarim al Mamluk, um morador de Gaza.
Israel também bombardeou outras áreas do norte de Gaza, “eliminando dezenas de terroristas escondidos nas escolas da UNRWA”, a Agência da ONU para Refugiados Palestinos, afirmou o exército.
No centro da Faixa, fontes médicas informaram três mortes, incluindo uma criança, em Deir el Balah, e testemunhas indicaram disparos de artilharia em Nuseirat.
No sul, foram relatados disparos de artilharia em Khan Yunis e Rafah.
Um oficial da Defesa Civil, Mohamad al Mughair, disse à AFP que as forças israelenses avançavam no oeste de Rafah e atacavam a sede de sua instituição.
“Eles nos atacaram e danificaram dois caminhões de bombeiros, uma ambulância e uma pequena escavadeira usada para resgatar feridos debaixo dos escombros”, indicou, acrescentando que alguns de seus colegas ficaram feridos.
Israel lançou, em 7 de maio, uma ofensiva terrestre em Rafah, alegando que essa cidade fronteiriça com o Egito era o último grande bastião do Hamas, que governa Gaza desde 2007.
Mas os combates foram retomados em outras regiões, especialmente no norte, onde persistem focos do movimento islamista.
Condições “desastrosas”
A guerra foi desencadeada em 7 de outubro, quando combatentes islamistas mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.
O Exército israelense estima que 116 pessoas permanecem cativas em Gaza, das quais 42 teriam morrido.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que já deixou pelo menos 37.765 mortos, também em sua maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
A guerra provocou uma catástrofe humanitária no pequeno território palestino de 2,4 milhões de habitantes, sitiado por Israel, onde falta água e alimentos e o sistema de saúde está praticamente desmantelado.
Um total de 32 hospitais dos 36 da Faixa de Gaza sofreram danos e 20 deles estão fora de serviço, segundo dados publicados nesta sexta-feira pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Uma diretora de missão da UNRWA, Louise Wateridge, afirmou que as condições de vida no território são “desastrosas”.
Tensão com o Líbano
Os temores de que o conflito se estenda ao Líbano aumentaram nas últimas semanas.
Desde o início do atual conflito em Gaza, a fronteira entre os dois países registra confrontos quase diários de artilharia entre o movimento islamista pró-iraniano Hezbollah, aliado do Hamas, e o Exército israelense.
O Hezbollah anunciou nesta sexta-feira que havia bombardeado uma base militar no norte de Israel e anunciou a morte de um de seus combatentes por um disparo israelense.
A agência oficial libanesa de informações relatou a morte de três pessoas, entre elas dois palestinos, em um bombardeio israelense na aldeia de Kfar Kila.
No norte de Israel, as sirenes de alerta soaram várias vezes, informou o exército, que indicou que três drones lançados do Líbano caíram na Galileia, sem causar vítimas.