Na última terça-feira (25), a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que acaba com a escala de seis dias de trabalho por um de folga (6×1) foi protocolada na Câmara dos Deputados, projeto que contou com o apoio de 234 deputados e mais de três milhões de assinaturas da sociedade civil para tramitar.

O projeto, que ganhou força a partir do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), fundado pelo vereador carioca Rick Azevedo (PSol), se faz cada dia mais necessário, tendo em vista que não é apenas a vida social dos trabalhadores que fica comprometida por longas jornadas de trabalho, mas também a saúde física, emocional e mental. 

A constatação é defendida por Monica Olivar, assistente social e pesquisadora do Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh), da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). Em entrevista à Radis, ela afirma que os homens e mulheres que cumprem a escala 6×1 e os escravizados que foram libertos no fim do século 19 estão relacionados, pois se trata de “uma herança do Estado escravocrata”.

“Se traçarmos o perfil de grande parte dessa classe trabalhadora, a maioria jovens, são homens e mulheres negros e negras, que muitas vezes têm uma história familiar em que o pai e a mãe também estavam inseridos nesses processos de trabalho considerados de ‘ganho’”., defende.

As profissões em que os trabalhadores têm se encarar longas jornadas, em geral, oferecem baixos salários e exigem pouca qualificação, a exemplo de caixas de supermercado, balconistas de farmácia, atendentes de telemarketing, operadores de logística, vendedoras de loja, camareiras, recepcionistas e garçons.

Monica chama a atenção para o fato de que, em algum momento, tal jornada vai trazer sofrimento psíquico e com adoecimento físico.

Tais profissionais têm de ficar a maior parte do tempo em pé, o que causa lesões por esforço repetitivo (LER-Dort), comuns em funções como operadores de telemarketing, ou doenças do aparelho circulatório e transtornos mentais relacionados ao trabalho, como fadiga, irritabilidade, estresse, depressão e Burnout.

“Isso tudo é resultado dessa jornada de trabalho extenuante em que o trabalhador só tem direito a um dia para descansar e cuidar da saúde”, acrescenta a pesquisadora, que também é especialista nos temas da precarização do trabalho e da saúde do trabalhador, com doutorado em Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Acidentes

Além de expor o trabalhador ao adoecimento mental, que afastou 209 mil profissionais do trabalho em 2022, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o trabalhador da escala 6×1 está mais exposto a acidentes. 

Em 2022, o país registrou 612,9 mil acidentes relacionados à jornada profissional, o que, para a pesquisadora, é uma pista para entender a situação da classe trabalhadora. 

“Quanto mais horas trabalhadas, mais chances de ocorrer acidentes de trabalho, devido ao grau de atenção, esforço e fadiga”, avalia Monica. 

Muito além de uma herança escravocrata, a jornada 6×1 aprofunda desigualdades, pois como a maioria dos trabalhadores são negros e negras, a precarização do trabalho tira deles a oportunidade de se profissionalizar, a fim de conquistar cargos melhores. “Esses trabalhadores estão nesse ciclo vicioso do mundo do trabalho, que é trabalhar e trabalhar para gerar lucro ao sistema capitalista”, conclui.

*Com informações da Fiocruz.

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Last Update: 26/02/2025