Nesta semana, enquanto o Carnaval toma conta das ruas, o esporte traz boas notícias, especialmente sobre a reação de parte dos envolvidos, no futebol, a práticas que, ao longo do tempo, têm se mostrado nefastas.

Destacam-se, nesse sentido, as manifestações dos atletas sobre questões que temos debatido aqui neste espaço.

Entre elas estão os horários de jogos em tempos de calor intenso, os protestos constantes contra os calendários apertados – que acumulam partidas em horários inconvenientes, muitas vezes definidos em razão da programação da televisão – e a crescente onda de apostas, sem qualquer controle.

A verdade é que, neste momento, “perdeu-se a mão” – algo típico em diversas áreas da nossa sociedade nestes tempos de predomínio do neoliberalismo.

Em um cenário no qual “vale tudo por quaisquer 10 mil réis”, vemos, por exemplo, a proliferação de fake news disfarçadas de liberdade de expressão.

O que vejo de positivo nesse contexto é que, finalmente, os desportistas profissionais, que são os mais prejudicados, parecem não suportar mais o nível de exploração.

E, dessa forma, eles começam a reagir, como vimos nas declarações do extraordinário treinador Carlo Ancelotti, do Real Madrid, seguidas por aquelas do craque Rodri, da mesma equipe, que comentamos anteriormente.

Desta vez, a própria Federação Internacional do Futebol (Fifa) manifestou-se favoravelmente às mudanças de horário nos jogos, principalmente em razão das altas temperaturas.

Aqui no Brasil, a situação também atingiu um ponto insustentável. Surgem, então, vozes que trazem esperança.

Na semana passada, mencionamos a liderança de Gerson, do Flamengo; agora, vemos as manifestações do dedicado Lucas, do São Paulo, endossadas por Neymar.

A queixa mais recente é sobre os pisos dos campos de jogo, o que gerou até uma pergunta absurda de um repórter, questionando qual seria a preferência do jogador: um piso sintético uniforme ou um “gramado ruim”.

A resposta foi clara e objetiva: é possível, sim, ter gramados naturais em bom estado.

Uma primeira sugestão foi a de exigir campos com gramado adequado, inicialmente, para os clubes da Série A.

O absurdo já comentado por aqui é a realização de jogos em estádios com gramado sintético, quando poucos clubes possuem esse tipo de piso.

Isso fere a “regra-mãe” das competições: a isonomia nas condições prévias.

O aguerrido técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, também se juntou aos colegas para criticar os regulamentos das competições e o calendário, lembrando o aumento de lesões causadas pelo excesso de jogos.

Por parte dos dirigentes, as manifestações reforçam a gravidade dos problemas e fala-se sobre a necessidade de um “debate urgente”.

As publicações começam a mencionar um “movimento” em torno dessas reclamações, com as manifestações dos profissionais ganhando relevância – são eles, afinal de contas, que sofrem as conse­quências desses desacertos.

Outro pronunciamento relevante veio de Ronaldo, o “Fenômeno”, que, em sua campanha pela presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), defendeu a implementação de um intervalo de pelo menos um mês antes das eleições na entidade maior do futebol brasileiro.

Com a bola rolando, o que causou espanto, nesta semana, foi a desclassificação do Cruzeiro para as finais do ­Cam­peonato Mineiro, em sua disputa contra o América–MG.

Há, como sempre, múltiplos aspectos a serem considerados e a vitória do América é, de fato, salutar para o clube, que mereceu o resultado.

Também surpreendente foi o que aconteceu com o Olaria–RJ, que fez história ao se classificar para a próxima fase da Copa do Brasil, derrotando o renomado ABC de Natal.

A vitória foi comemorada com muito entusiasmo pelos jogadores, que enviaram uma mensagem bem-humorada à CBF: “Mande logo o Pix da premiação”.

Lamentavelmente, no entanto, a situação financeira do clube é grave, com dívidas que podem comprometer a chegada da premiação ao caixa.

Mas não tenho dúvida de que o Olaria, tradicional clube da Rua Bariri, saberá como enfrentar este momento de dificuldades, especialmente com um resultado tão expressivo. •

Publicado na edição n° 1351 de CartaCapital, em 05 de março de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Hora de reagir’

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Last Update: 26/02/2025