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Para que você não perca seu tempo pesquisando, uma breve apresentação: Maya Massafera é uma daquelas subcelebridades cuja origem é um mistério para quem tem bom gosto (e é melhor que continue assim).
A influenciadora de 44 anos veio a público defender a magreza extrema e, pasmem, isso não é o pior.
Nos stories do Instagram, a mulher trans – que passou pela transição de gênero no ano passado – começa dando a velha carteirada, dizendo que estudou moda em Milão, na “melhor universidade do mundo” (e ainda assim conseguiu continuar sendo burra).
E continua:
“No mundo da moda, a gente gosta de mulher muito magra. É gosto. Tem gente que gosta de mulher mais sarada, de mulher gorda. Eu acho mais bonito mulher magra.”
Meu Deus, quanta m*rda num vídeo só.
Chamar de “gosto” um padrão de beleza que leva milhares de mulheres às mesas de cirurgia e as empurra para transtornos alimentares é perigosíssimo (não que ela se importe) em uma sociedade em que o mito da beleza mata.
Primeiro, a indústria da beleza dita a magreza extrema como padrão por uma razão – pasmem novamente – puramente comercial: as modelos precisam servir de cabides, para que as roupas sejam melhor apreciadas.
Essa ideia tem sido debatida por diversos especialistas da moda, críticos e estudiosos da indústria, que apontam que corpos extremamente esguios funcionam como suporte neutro para as roupas, permitindo que “caiam” no corpo sem muitas curvas ou interferências.
Ou seja: o que você chama de gosto é, na verdade, um projeto de dominação do corpo feminino que mata milhares de mulheres todos os anos. (Dá licença, Maya, eu faço doutorado sobre isso, ainda que não em Milão, risos).
Aliás, a escritora norte-americana Naomi Wolf detalha esse conceito em seu livro homônimo (vale a indicação de leitura), e explica como os padrões de beleza têm sido usados contra as mulheres como ferramentas de coerção social, o que, é claro, foge à capacidade cognitiva da influenciadora.
Dizer que “rico gosta de magreza” – como se essa fosse a raiz do adoecimento de tantas mulheres que veem a magreza extrema como marcador de sucesso – é, portanto, de uma ignorância constrangedora: além de não ter ideia do que está falando, ela transborda elitismo e preconceito.
Em um só vídeo, Maya influencia mulheres a adoecerem em nome de um padrão (e de parecerem ricas), se equivoca sobre a relação entre beleza, gênero e poder e, de quebra, demonstra seu odioso elitismo.
Para além de ignorar as verdadeiras razões pelas quais só se sente bem quando seus ossos estão à mostra, Maya demonstra um ódio de classes que não é apenas ignorância – é desvio de caráter.
Gente como ela não sabe quem são seus inimigos, por isso, dormem ao lado deles.
Quero dizer com isso que Maya Massafera, uma mulher transexual, reproduz discursos de ódio contra minorias, mesmo vindo de uma família pobre e tendo enfrentado tantos preconceitos por sua identidade de gênero – como se fosse uma mulher cis branca.
E confessa:
“Minha avó é mais simples e diz: May, engorda um pouco, parece que tá passando fome.”
Faz sentido dizer que os mais pobres valorizam corpos mais “carnudos”, pois historicamente sempre foram indicativos de fartura.
Para quem está acostumado a conviver com a fome, um corpo com aparência de bem nutrido é um luxo.
O que Maya não percebe é que essa comparação escancara seu desejo nojento de cultuar a magreza não apenas para corresponder a um padrão de beleza questionável, mas, sobretudo, para parecer rica.
A mistura de ignorância e preconceito – sem querer ser redundante – é nítida.
A ignorância é de dar dó, mas o preconceito custa a vida de milhares de mulheres, aqui ou em Milão:
Assim como o elitismo, a ditadura da magreza é universal.
Assista abaixo:
Não tô acreditando que a Maya Massafera pensou, gravou e teve coragem de postar isso. Era melhor quando ela era mudapic.twitter.com/3OkAVjWVDs
— Matheus (@matheuscaseca) February 24, 2025
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