8 de Janeiro foi um caso clássico de Primavera, reeditando todas as primaveras que sacudiram o mundo a partir da década de 2010.  Vamos analisar as semelhanças com a Primavera da Ucrânia que, em 2014, derrubou o presidente Viktor Yanukovych.

Em novembro de 2013, ele decidiu suspender a assinatura de um acordo de associação com a União Europeia, optando por fortalecer os laços com a Rússia. Sua decisão deflagrou o Euromaidan, uma sucessão de protestos em massa.

Os protestos foram em um crescendo até que, em fevereiro de 2014, a violência explodiu. Pressionado, Yanukovich assinou um acordo com líderes da oposição, mediado por representantes da União Europeia. Mas, no mesmo dia, fugiu para o leste da Ucrânia e, posteriormente, para a Rússia.

A razão da sua fuga foram as ameaças concretas que sofreu, de assassinato. Na linha de frente, havia o Partido Svoboda, o C-14 e o Pravyi Sektor (Setor de Direita), que montaram suas próprias milícias armadas, muitas das quais passaram a integrar forças regulares ucranianas. E havia, também, os Kid Pretos ucranianos, o Batalhão Azov, liderado por Andriy Biletsky, além de policiais e militares da reserva ou que desertaram. A reação russa foi a anexação da Criméia em março daquele ano.

Em todo esse período, houve a atuação decisiva da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e do Departamento de Estado dos Estados Unidos.

Sob a liderança do Secretário de Estado John Kerry, os EUA forçaram uma reforma do Judiciário, com treinamento financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Os programas incluíam treinamento para juízes, promotores e funcionários do sistema judicial, criação de novas instituições ditas como anticorrupção, e participação na seleção dos novos juízes nomeados. Foi criado o Escritório Nacional Anticorrupção (NABU), com financiamento e treinamento das agências americanas, que levaram à Ucrânia ONGs especializadas em transparência e financiadas diretamente pelos EUA. Em nada reduziu a influência das oligarquias locais sobre o Judiciário.

A abrangência da tentativa de Primavera brasileira sugere uma articulação muito mais ampla do que uma conspirata planejada por um Braga Neto da vida.

Consistiu em todo um planejamento, com as multidões acampadas em torno de quartéis, rezando e pedindo golpe – uma maneira, aliás, de cooptar os militares, através de seus familiares. Depois, uma série de episódios-rastilho – que felizmente não explodiram. Houve o 7 de Setembro de 2021, com Bolsonaro afrontando diretamente o Supremo. Depois, os atentados em Brasilia, com invasão da sede da Polícia Federal e a tentativa de explodir o Aeroporto.

Finalmente, o 8 de janeiro, com o planejamento do assassinato de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.

As investigações vão pegar a primeira, segunda e terceira linhas. Mas, há muito mais por trás dessas primaveras.

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Last Update: 24/02/2025