O conflito entre a OTAN e a Rússia na Ucrânia completa nesse dia 24 três anos, ao longo dos quais, importantes lições devem ser registradas por quem precisa compreender o atual estágio da luta de classes. A primeira lição é óbvia para um observador atento, porém alvo de muita confusão: o imperialismo está enfraquecido e a decadência de sua ditadura está abaixo do volume morto.

O ataque russo à Ucrânia aconteceu poucos meses após a humilhação sofrida pelos Estados Unidos no Afeganistão, com a retirada caótica de suas tropas após vinte anos de ocupação infrutífera, demonstrando claramente que a maior potência militar do planeta já não tem a mesma capacidade de subjugar povos que se dediquem a enfrentá-la. Esse panorama foi essencial para que a Rússia percebesse que o momento era propício para atacar o regime fantoche colocado em Quieve.

O curso da guerra confirmou essa avaliação: três anos depois, a Ucrânia encontra-se à beira do colapso, enquanto os países imperialistas, atolados em crises políticas e econômicas, já não têm mais como sustentar a defesa da Ucrânia. Consequência desse fenômeno, o presidente norte-americano Donald Trump passou a negociar o fim do conflito diretamente com seu homólogo russo Vladimir Putin, desprezando os governos europeus. Trump estabeleceu o feriado da Páscoa como prazo para obter o cessar-fogo que as burguesias domésticas dos EUA e da UE tanto desejam, mesmo sob forte oposição do imperialismo.

Decorrente desse panorama, uma segunda lição importante é que embora muito poderoso, o imperialismo pode ser derrotado. Os EUA, a maior potência militar da história, foram escorraçados do Afeganistão por tribos de pastores parcamente armados. O mesmo imperialismo, com toda a sofisticação tenológica de sua máquina de guerra, não conseguiu sequer ocupar a Faixa de Gaza, um território do bairro do tamanho de Parelheiros, sendo obrigados a um acordo com o Hamas.

Agora, depois de despejar mais de meio trilhão de dólares na Ucrânia, os governos imperialistas não conseguiram cumprir nenhum dos seus objetivos: longe de isolarem o Crêmlin (sede do governo russo), fortaleceram as alianças entre os países atrasados, em especial Rússia, Irã e China; os russos mantém um controle seguro sobre os territórios do Donbass e já exauriu a máquina de guerra ucraniana fornecida pela OTAN; o governo Putin encontra-se estável ao passo que no país vizinho, o regime golpista de Quieve está às portas de uma derrota completa. Caso os planos de Trump se concretizem, será o fim do governo Zelensky.

Finalmente, uma terceira lição importante é a assombrosa ignorância da esquerda sobre questões tão básicas quanto o que é o imperialismo. A confusão sobre o tema é tamanha que setores autoproclamados revolucionários e marxistas chegaram ao absurdo de apoiar o regime instalado em Quieve depois do golpe de Estado de 2014, classificando a Rússia como um país imperialista.

Essa visão, além de grotesca, é completamente anticientífica. O imperialismo não se define por agressividade militar ou por ser um Estado de grande porte, mas pela dominação monopolista da economia mundial, consequência do desenvolvimento acentuado do capitalismo, que produziu a superação da livre-concorrência.

Mesmo sendo uma importante potência militar, a Rússia não controla nenhum setor-chave da economia global, ao passo que os países imperialistas são donos dos principais monopólios da indústria, das finanças e do comércio internacional. Confundir esses elementos revela uma incompreensão profunda do marxismo e, pior ainda, leva à subserviência ao verdadeiro imperialismo, que colonizou a Ucrânia após 2014 e a transformou em uma mera plataforma de agressão contra a Rússia.

Tudo isso deixa claro que o imperialismo não é onipotente e que sua derrota é possível. A Rússia, ao decidir enfrentar a OTAN, mostrou que a submissão não é o único caminho, mas o enfrentamento sim. A conjuntura é repleta de perigos, mas também abre espaço para a ação ousada de todos que resistem à ditadura mundial dos monopólios dos países desenvolvidos.

Os setores da esquerda que verdadeiramente almejam a revolução proletária, precisam tirar as conclusões corretas desses três anos de guerra: não se combate o imperialismo abstratamente, muito menos repetindo sua propaganda e servindo de idiota útil para seus interesses. O momento exige uma posição clara e decidida contra o imperialismo e a favor de todos os povos que lutam por sua autodeterminação. Esse é o desafio que a história coloca diante daqueles que se reivindicam socialistas.

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Last Update: 24/02/2025