A notícia da semana foi a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Jair Bolsonaro e mais três dezenas de pessoas pela participação na trama golpista após o resultado das eleições de 2022.

Um dia depois da denúncia, Alexandre de Moraes tornou públicos os vídeos dos depoimentos do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Acuado, abandonado e fragilizado, Cid, um peixe pequeno, tornou-se peça central na denúncia contra o ex-mandatário, revelando, dentre outras coisas, detalhes da operação “Punhal verde e amarelo”, cujo objetivo era assassinar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o próprio Moraes.

Ao comentar o assunto, Lula seguiu a linha republicana. Falou do devido processo legal e da necessidade de Bolsonaro & cia, caso condenados, pagarem pelo que fizeram. Depois, decidiu acertadamente subir o tom: se Bolsonaro pede anistia e não o reconhecimento de sua inocência, estaria confessando o crime.

No quente e no frio, o governo Lula renunciou a bater de frente com o golpismo, ignorando situações em que o timing da política permitia o uso de força total. Eventos como a depredação de prédios dos Três Poderes e a prisão de Braga Netto foram pouco ou nada aproveitados. A permanência de José Múcio Monteiro no Ministério da Defesa é a síntese do que pretende o governo Lula com as Forças Armadas: conciliar, relativizar seus crimes e alimentar a ideia infantil de que nelas prevalece um segmento legalista e comprometido com a democracia.

O fato é que o salvacionismo moral das Forças Armadas não começou em 2022 e tampouco em 1964. Ele existe desde o século XIX, da Guerra do Paraguai ao tenentismo, passando por Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto e Hermes da Fonseca. Em novembro 1955, por obra do Marechal Lott, o golpismo das Forças Armadas foi derrotado, garantindo a posse de Juscelino Kubitschek e João Goulart. A falta de uma resposta enérgica que enquadrasse o poder militar no poder civil, porém, terminou adiando o golpe para 1964.

Hoje o bolsonarismo joga boa parte de suas forças no projeto de lei da Anistia. Na Câmara, 50% dos parlamentares são favoráveis à proposta. No Senado, 46%. Uma pesquisa AtlasIntel apontou que 51% da população é a favor da anistia para presos do 8 de Janeiro. Os números demonstram uma base social sólida, com ampla representação parlamentar e grosso calibre. Não é só José Múcio e Bolsonaro que se entusiasmam com a possibilidade de livrar a cara de golpistas graúdos e miúdos.

A indisposição do governo Lula de enfrentar o problema de frente fez com que o governo terceirizasse a responsabilidade para o STF. Erro crasso. Moraes é uma peça importante, mas não é presidente da República. A adesão social ao golpismo, certamente insuflada pelo aumento da cesta básica e pela austeridade fiscal, mostra que, na política, não se joga parado, e que a conta em 2026 pode vir bem salgada.

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Last Update: 21/02/2025