O sistema capitalista, que se caracteriza por subordinar a arte às regras do comércio e da especulação financeira, tende a reprimir a criatividade e a diversidade cultural. Nesse contexto, a arte se torna repetitiva e homogênea, refletindo os interesses dos patrocinadores e das indústrias culturais.

Na música, por exemplo, a uniformidade dos instrumentos musicais e a afirmação do sistema tonal coincidem com a ascensão da burguesia e a perda de espaço do artesanato local. Atualmente, os timbres das músicas de diferentes culturas são semelhantes, pois são produzidos por multinacionais e distribuídos pelas mesmas gravadoras e meios de comunicação.

No cinema, boa parte da produção dos países explorados pelo imperialismo é relegada ao esquecimento nos próprios territórios. A indústria cinematográfica não poupa sequer a Europa, silenciando cinemas importantes como os da Espanha, França, Itália, Inglaterra, Alemanha e Rússia.

Em “A guerra dos mundos: próximo século”, de Piotr Szulkin, a Terra é invadida por marcianos que manipulam a opinião pública e corrompem a política. O protagonista, um apresentador de televisão, se recusa a divulgar notícias sobre as novas leis impostas pelos marcianos e sofre perseguições. No final, ele é executado e sua imagem é utilizada contra ele.

O filme levanta discussões sobre a fraqueza dos marcianos, a espetacularização da realidade e a falsificação da verdade com os meios de comunicação de massa. A cena final, em que o protagonista é executado e se duplica, pode ser interpretada como a morte da alienação ou a transcendência para planos astrais.

Em “O-bi, o-ba: o fim da civilização”, os sobreviventes da guerra atômica se refugiam num abrigo subterrâneo, onde reproduzem as práticas que levaram à guerra. O protagonista, Soft, é um funcionário da propaganda e manutenção da ordem que se envolve em desventuras para solucionar os problemas cotidianos. No final, o abrigo desmorona e Soft morre, vislumbrando a arca descendo do céu.

As soluções de Szulkin não são religiosamente convencionais, pois os protagonistas ganham consciência social e política antes de morrer. A transcendência se dá mediante vivências e conhecimentos políticos, e não mediante ordens sobrenaturais.

A história humana é longa e complexa, e não se deve estar limitado a apenas às eras das grandes civilizações. O chamado Período Paleolítico ou Idade de Pedra Lascada tem início a 2,5 milhões de anos atrás e termina por volta de 10000 anos, ao começar o Neolítico. Acompanhando as datas e as práticas daqueles hominídeos, verifica-se que nossos antepassados viveram mais tempo lascando pedra do que fabricando outras ferramentas.

O homem lida melhor com as pedras que com os semelhantes, e a superação da pedra lascada pode representar avanços semelhantes nas operações mentais com vistas ao futuro da humanidade. A evolução mental para a superação das lutas de classes e suas mazelas pode ser necessária para que os humanos sejam capazes de se relacionar uns com os outros de forma mais justa e solidária.

Nos filmes de Piotr Szulkin, discussões assim, com cogitações sobre a evolução humana, de cunho antes filosófico que político revolucionário, não são levadas tão longe. As tendências às interpretações metafísicas e religiosas de sua obra parecem se impor, afinal, nas duas tramas citadas, os protagonistas, apesar dos percursos políticos, morrem para transcender. Nessa leitura, a vida social se torna palco de castigos e de injustiças, cuja única libertação seria a morte.

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Última Atualização: 01/07/2024