Em conversa com a Rádio Tupi (RJ), Lula abordou assuntos como inflação dos alimentos, saúde e educação públicas e denúncia contra Bolsonaro; e afirmou que o combate à desinformação “é o mantra agora”

O presidente Lula está no Rio de Janeiro para participar das comemorações dos 45 anos do Partido dos Trabalhadores, que acontecem na sexta-feira (21) e no sábado (22), no Armazém 3 do Píer Mauá. Durante sua passagem pela cidade, ele conversou com a Rádio Tupi, líder de audiência nas comunidades, sobre as realizações de seu governo, os projetos futuros e, como não poderia deixar de ser, a denúncia da PGR contra Jair Bolsonaro.

Confira a seguir os principais pontos da entrevista.

Dívidas estaduais e gastos públicos

Em sua primeira intervenção, Lula destacou a proposta do governo federal para aliviar a situação financeira dos estados mais endividados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Segundo ele, o projeto prevê que os governadores possam pagar “juros zero, desde que o dinheiro não pago seja investido em educação, saúde, habitação e saneamento básico”.

Em seguida, o presidente rebateu as críticas sobre os gastos do governo e a necessidade de cortar despesas, lembrando que, apesar das previsões pessimistas sobre o déficit fiscal, o resultado foi positivo. “O que aconteceu no final do ano? O déficit fiscal foi 0,99%. 0,99% é zero”.

Lula ressaltou que entende a importância da responsabilidade fiscal. “Eu aprendi economia com uma mulher analfabeta, que falava: ‘Meu filho, você não pode gastar o que você não tem’.” Segundo ele, o governo só deve se endividar para investimentos estratégicos. “Se você for gastar algo que não tem, é para construir um ativo que vai melhorar o seu patrimônio.” E destacou que, em seus governos anteriores, já demonstrou responsabilidade na condução da economia. “Eu fui presidente e fiz superávit de 4,25% nesse país. Eu paguei o FMI. Eu fiz uma reserva de 370 bilhões de dólares.”

Educação

O presidente reforçou que os investimentos em educação são prioridade. “A gente não pode ser apenas exportador de soja, minério de ferro, milho ou arroz. A gente tem que ser exportador de conhecimento, de inteligência.” Ele mencionou as iniciativas do governo para ampliar o acesso ao ensino de qualidade. “Estou fazendo mais seis institutos federais na Bahia, no Rio de Janeiro. De 51, mandei fazer 29 e agora vou fazer mais seis.”

Lula também falou sobre a Faculdade de Matemática que está sendo criada no Rio de Janeiro. “Vai ter 400 alunos, com moradia e alimentação gratuitas, porque a gente quer que os nossos gênios fiquem no Brasil e não precisem ir para o exterior para estudar.”

Outro ponto abordado foi a valorização dos professores e a ampliação das escolas de tempo integral. “Já são 47.000 vagas no Rio de Janeiro.” Para incentivar a formação de novos docentes, o governo criou um programa de bolsas para estudantes que queiram seguir a carreira de professor. “Porque tem muita gente que não quer ser professor. Então, nós vamos estimular.”

O presidente ainda destacou um pacto feito com prefeitos. “Até 2030, 80% das crianças brasileiras serão alfabetizadas até o segundo ano do ensino fundamental.”

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Preço dos alimentos

Lula reconheceu a alta nos preços de itens básicos, como o ovo, que chegou a R$ 40 a caixa, mas ressaltou que “o preço vai baixar, a gente vai conseguir fazer com que volte aos padrões do poder aquisitivo do trabalhador”.

Ele explicou que, para enfrentar a situação, o governo planeja negociar com atacadistas e o setor produtivo. Além disso, destacou a isenção de impostos sobre a cesta básica na reforma tributária e prometeu políticas para garantir segurança alimentar: “O povo precisa comer com qualidade e preço justo. Isso é prioridade”.

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Saúde pública

O estado de abandono dos hospitais federais no Rio de Janeiro foi alvo de críticas. “Não é possível que tenha hospitais parados há cinco anos e não funcionem”.

Ele defendeu que essas unidades se tornem referência no atendimento à população. “Os hospitais federais no Rio de Janeiro vão ter que ser centros de excelência. Qualquer carioca ou brasileiro que for ao hospital vai dizer pro mundo inteiro: ‘Eu fui ao hospital que me tratou com respeito, me tratou como ser humano, e fui operado com qualidade’.” E ressaltou que, na Farmácia Popular, “agora são 41 remédios de uso contínuo de graça.”

Emprego e crescimento econômico

O presidente comemorou os avanços na economia e a redução do desemprego. “Se tem alguém que quer cuidar da economia corretamente, é o ministro Fernando Haddad.” E destacou que a taxa de desemprego atingiu o menor nível histórico: 6,6%.

Lula também reforçou que os investimentos públicos são essenciais para garantir o crescimento econômico. “Educação recebendo investimento, saúde recebendo investimento, obras, portos e aeroportos recebendo investimento. O país precisa disso.”

Denúncia contra Bolsonaro

Segundo Lula, é “muito grave” a denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre tentativa de golpe de Estado e atentados contra autoridades sob o comando de Jair Bolsonaro. “Se for provado, ele só tem uma saída: ser preso”.

O presidente comentou os pedidos de anistia antes da condenação. “A primeira coisa que têm que fazer é defender a inocência (…) Eles estão dizendo que são culpados só pelo fato de pedirem anistia antes de serem julgados”. E reforçou que o processo deve seguir rigorosamente a lei, sem interferência política: “Todo mundo tem o direito de provar sua inocência”.

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Relação com Donald Trump

Lula desaprovou os “rompantes” do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, especialmente suas políticas protecionistas e declarações sobre anexar territórios de outros países, como o Canadá e o Canal do Panamá. O presidente brasileiro destacou a incoerência histórica: “Trump foi eleito para governar os EUA, não para governar o mundo”.

E reforçou que o Brasil manterá uma relação comercial “equilibrada e soberana”, mas alertou que, se os EUA aumentarem tarifas, o país responderá com reciprocidade, embora “isso vá encarecer os produtos para todo mundo”.

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Ao final da conversa, Lula afirmou que um dos desafios de seu governo é combater a desinformação: “Esse é o mantra atualmente”. E ressaltou a importância do jornalismo sério para a democracia. “A imprensa não pode mentir. A imprensa tem que dizer a verdade. A verdade e somente a verdade, porque é isso que interessa a uma nação livre e soberana.”

 

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Last Update: 20/02/2025