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Por Elitiel Guedes
Da Página do MST
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Maranhão (MST no MA) deu início, nesta quarta-feira (19/02), à Jornada de Formação de Educadores para atuar na alfabetização de jovens e adultos em áreas de assentamentos e acampamentos de reforma agrária. O evento, realizado na sede da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras do Estado do Maranhão (FETAEMA), em São Luís, reúne educadores e coordenadores, que serão responsáveis por alfabetizar camponeses e camponesas em territórios de reforma agrária.
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A Jornada de formação de educadores de jovens e adultos para atuarem na alfabetização em áreas de assentamentos e acampamentos de reforma agrária no Maranhão tem como objetivo promover uma educação de qualidade socialmente referenciada, baseada nos princípios da pedagogia libertadora.
A iniciativa, desenvolvida em parceria com o INCRA/PRONERA, UFPE e MST, visa reduzir desigualdades, promover justiça social e impactar positivamente no desenvolvimento socioeconômico dos territórios contemplados. A formação político-pedagógica conta com a presença de 130 educadores/as territoriais de 25 municípios, com meta de alfabetizar 1.500 camponeses e camponesas.
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O encontro contou com a presença do Vice-governador do Maranhão, Felipe Camarão, que destacou a necessidade do fortalecimento da educação no campo e o trabalho conjunto, em busca de espaços cada vez mais inclusivos e transformadores.
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Na mesa de abertura da Jornada de Alfabetização Maranhão, Julia Iara, da direção nacional do MST, enfatizou que a alfabetização é uma condição fundamental para a humanização. “Ler e escrever não são apenas habilidades; são ferramentas para disputar um projeto político de poder popular. A educação tira o povo da condição de ignorância imposta por séculos de exclusão”, afirmou. Ela reforçou o compromisso do movimento em garantir que cada trabalhador e trabalhadora tenha acesso ao saber e possa transformar sua realidade.
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Liliane Silva, da Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular (SEDIHPOP), destacou o papel do MST na defesa dos direitos humanos e do direito à educação. “Nossa missão é garantir que todos, sem exceção, tenham acesso ao saber. A educação é um caminho para a libertação, e precisamos caminhar juntos nessa direção”, disse. A proposta político-pedagógica do projeto soma-se ao universo crítico de concepções, como a pedagogia histórico-crítica, buscando erradicar o analfabetismo e fortalecer a luta por direitos.
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Rita de Cássia, do Instituto Federal do Maranhão (IFMA MARACANÃ), comemorou a retomada das raízes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) através do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA). “Paulo Freire nos ensinou que a educação é um ato de libertação. Em tempos de desinformação, ela se torna um antídoto contra as inverdades que nos cercam”, afirmou. Ela defendeu o resgate da leitura de mundo e da palavra como instrumentos de libertação, reforçando que a educação é a chave para um futuro mais justo e igualitário.
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A Jornada de Alfabetização do Maranhão representa um passo crucial na luta pela educação como ferramenta de transformação social. Em um contexto de avanço do agronegócio, desmatamento e criminalização dos movimentos sociais, a formação de educadores críticos e comprometidos com a emancipação dos trabalhadores rurais é mais do que necessária – é urgente. Pedro Chavier, do Fórum da Educação do Campo do Maranhão, alertou para o avanço do agronegócio e sua aliança com projetos fascistas. “Esse é um projeto de morte, que explora e exclui. Precisamos retomar a formação das massas e fortalecer a pedagogia popular como antídoto. A educação do campo é nossa trincheira de resistência”, afirmou. Para ele, a luta pela terra e pela educação estão intrinsecamente ligadas.
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Gersina Marques, Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras do Estado do Maranhão (FETAEMA), enfatizou que a educação é um direito conquistado com muita mobilização e luta. “A FETAEMA, este espaço que nos acolhe hoje, é um símbolo de pertencimento e resistência dos trabalhadores. Precisamos defender a educação com o mesmo empenho com que lutamos por terra e dignidade”, afirmou. Para ela, a alfabetização vai além de ensinar a ler e escrever; é garantir que os trabalhadores tenham voz e consciência de seus direitos.
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Vicente Mesquita, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), trouxe à tona o cenário político atual, marcado por uma guerra ideológica. “Em um momento de retomada de políticas públicas essenciais, o governo Lula ainda enfrenta baixa popularidade. A resposta para isso está na desinformação e nas fake news, que distorcem a realidade e alienam as pessoas”, destacou. Ele ressaltou que a formação dos educadores deve ir além do técnico, construindo consciência crítica e de classe. “Educadores, vocês precisam saber de que lado estão e assumir um papel ativo na transformação social”, concluiu.
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A formação segue até domingo, e os educadores, após essa formação, terão a missão de alfabetizar o povo, aplicando os elementos teóricos e práticos da pedagogia libertadora.
Como bem destacou Julia Iara, “ler e escrever é transformar o mundo”. Com esse sentimento, o MST segue lutando por uma educação do campo, popular e emancipadora, capaz de enfrentar os desafios do presente.
*Editado por Fernanda Alcântara