A delação premiada do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o coronel Mauro Cid, trouxe novas revelações sobre o envolvimento da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em um grupo “radical” que pressionava por um golpe de Estado após a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro em 2022. 

Segundo Cid, Michelle, juntamente com o deputado federal Eduardo Bolsonaro e outros nomes da extrema-direita, teria instigado o ex-presidente a rejeitar o resultado das urnas e permanecer no poder de forma “ostensiva”.

Além disso, a delação aponta que Michelle usava dinheiro vivo e cartões de terceiros para custear despesas pessoais, com o objetivo de evitar depender financeiramente do marido, mesmo com alertas de Cid sobre o risco de desvio de recursos.

Grupo radical e pressão por golpe

Na peça de mais de 270 páginas que a Procuradoria-Geral da República enviou ao Supremo Tribunal Federal na terça (18), Michelle é incluída no grupo dos “radicais”. Havia também o conservador e o moderado, que se reuniam esporadicamente com o ex-presidente no Palácio da Alvorada, após as eleições de 2022 que deram vitória a Lula.

Parte dos “mais radicais” acreditava que “quando o Presidente desse a ordem, ele teria apoio do povo e dos CACs; e romantizavam o art. 142 da Constituição Federal como o fundamento para o Golpe de Estado”.

Entre os nomes que incentivavam Bolsonaro a dar um golpe de Estado, alegando apoio popular e de CACs (Colecionadores, Atiradores e Caçadores), está o do general Mário Fernandes, que tentava convencer outros membros das Forças Armadas a aderirem ao movimento golpista.

Também faziam parte desse grupo extremista o ex-ministro Onyx Lorenzoni, o senador Jorge Seif, o ex-ministro Gilson Machado, o senador Magno Malta, o deputado Eduardo Bolsonaro e o general Mário Fernandes.

Pagamentos para Tia Helena

Além do incentivo ao golpe, um dos pontos centrais da investigação envolve pagamentos mensais de R$ 2.840,00 para “Dona Helena”, tia de Michelle Bolsonaro. De acordo com o depoimento de Mauro Cid, ela era responsável pelos cuidados da filha mais nova do casal. 

“Os gastos maiores eram realizados para pagamentos à Dona Helena, que era quem cuidava da filha mais nova do ex-presidente Jair Bolsonaro”, relatou Cid. No entanto, não há indícios de que esses pagamentos tenham sido formalizados por meio de um contrato de trabalho.

Uso de cartão de crédito de terceiros, mesmo com alerta de Cid

Outro ponto controverso é o uso de um cartão de crédito em nome de Rosemary, servidora do Senado Federal e amiga de longa data de Michelle Bolsonaro. Segundo Cid, Michelle utilizava o cartão para despesas pessoais, para não depender financeiramente do marido, já que não possuía crédito próprio.

“Michelle Bolsonaro não tinha crédito e entrou como dependente do cartão de Rosemary, pois eram amigas de longa data”, afirmou Cid, que revelou também ter alertado sobre os riscos da prática. “Cheguei a alertar que daria problema, pois poderiam associar à ‘rachadinha’, visto que Rosemary era assessora de um senador”. No entanto, Michelle insistiu na prática para não depender financeiramente de Jair Bolsonaro.

Pagamento em dinheiro vivo

Em seu depoimento, Cid revelou que ele próprio organizava os pagamentos de despesas do casal, seguindo ordens diretas de Jair Bolsonaro. O ex-presidente não possuía cartão de crédito próprio, e seus gastos eram feitos em dinheiro ou por meio de saques controlados. 

“Os pagamentos eram feitos diretamente no caixa do banco. Quando o pagamento era para CNPJ, como contas de água, luz e condomínio, eu pagava diretamente. Já as contas pessoais, como cabeleireiro e outras despesas domésticas, eram pagas em dinheiro”, detalhou Mauro Cid.

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Last Update: 19/02/2025