Os eventos climáticos extremos são a face mais visível do aquecimento global. Nestes meses de janeiro e fevereiro, o Sul e Sudeste do Brasil enfrentam ondas de calor sucessivas, com forte impacto na saúde da população. Chuvas torrenciais têm inundado extensas áreas urbanas, e regiões da cidade de São Paulo vivenciam enchentes quase diárias. Em alguns dias, o volume de chuva ultrapassou 100 milímetros em poucas horas. Essas inundações atingem, sobretudo, a população de baixa renda, deixando famílias sem nada do pouco que possuíam.
Outro aspecto crítico dos eventos climáticos extremos é que o calor pode matar. O calor excessivo provoca alterações no organismo humano, que tenta se adaptar elevando a frequência cardíaca e a pressão arterial, além de intensificar a perda de líquidos. Mas há um limite. A exposição prolongada ao calor pode ser fatal, especialmente para grupos vulneráveis, como idosos, crianças, gestantes e pessoas com doenças crônicas.
Nosso principal mecanismo natural de resfriamento é a sudorese. A evaporação do suor na pele ajuda a regular a temperatura corporal. No entanto, a perda de água pode levar à desidratação e sobrecarregar o sistema cardiorrespiratório. Para quem já tem problemas cardíacos, esse esforço adicional pode ser fatal. A desidratação prolongada também afeta os rins, aumentando o risco de cálculos renais e insuficiência renal aguda.
A sensação térmica combina temperatura e umidade relativa do ar. Quanto maior a umidade, maior a dificuldade do suor para evaporar e resfriar o corpo. Por isso, o calor em regiões úmidas, como Manaus ou Belém, pode ser muito mais sufocante do que em locais secos. Uma temperatura de 36°C com umidade elevada pode ser insuportável, enquanto a mesma marca com umidade de 20% pode ser suportável para a maioria das pessoas. Embora existam tabelas que associam temperatura e umidade para calcular a sensação térmica, a resposta ao calor varia de pessoa para pessoa.
Se com um aumento médio de 1,5°C já enfrentamos ondas de calor intensas, imagine com um aquecimento global de 3 a 4°C, cenário para o qual as atuais emissões de gases de efeito estufa nos levam. O Brasil precisa se adaptar a esse novo clima, readequando seu sistema de saúde, especialmente nas áreas urbanas, onde a exposição é maior. Políticas públicas para ampliar as áreas verdes e reduzir as ilhas de calor nas cidades são urgentes. Melhorar o conforto térmico em residências e no transporte público também é essencial.
Mas a ação mais decisiva para conter essas ondas de calor é reduzir a exploração e o uso de combustíveis fósseis e combater o aquecimento global. Esse será o grande desafio da COP-30. Romper o lobby da indústria do petróleo é essencial para garantir um futuro habitável. Além disso, o financiamento para que países em desenvolvimento possam se adaptar às novas condições climáticas é crucial para evitar milhões de mortes e construir um mundo mais justo e sustentável.