Na segunda parte do especial do Diário Causa Operária sobre a ditadura salvadorenha, demonstramos porque o regime fascista de Nayib Bukele precisa, necessariamente, de uma repressão brutal e em uma magnitude chocante até mesmo para os padrões de uma América Latina habituada a regimes de terror. País pobre, com Produto Interno Bruto (PIB) de apenas US$75 bilhões (65,78% menor, por exemplo, do que o da cidade de São Paulo), El Salvador tinha, em 2023, 30% de seus 6,365 milhões de habitantes na pobreza, isto é, vivendo com menos de US$6,85 por dia, contra 26,8% em 2019, ano em que Bukele assumiu o governo. A pobreza extrema (vivendo com uma quantia igual ou abaixo de US$1,2 por dia) dobrou no período, saindo de 5% da população para 10%.
Enquanto os órgãos de comunicação internacionais exaltam a “redução da criminalidade” promovida pela ditadura de Bukele, os números da economia revelam a verdadeira face do projeto neoliberal radical imposto com punho de ferro. O orçamento de 2025 proposto pelo governo salvadorenho escancara as medidas de arrocho econômico que acompanham o terror estatal: um déficit de 0,8% do PIB, redução drástica nos “gastos público”s e um congelamento geral dos salários do funcionalismo, além da eliminação de cargos vagos. Ou seja, um plano que transfere o peso da crise para as costas dos trabalhadores enquanto protege os interesses do capital financeiro.
A Fitch Ratings, uma das principais agências de classificação de risco, destaca que a “consolidação fiscal” defendida pelo governo se apoia em cortes severos de despesas, ao mesmo tempo em que a arrecadação é elevada por meio de uma ampliação da base tributária e de medidas contra a evasão fiscal. No entanto, a realidade por trás dessas medidas é que os trabalhadores pagarão a conta de uma política que visa atender às exigências do Fundo Monetário Internacional (FMI) e dos investidores estrangeiros.
O Banco Mundial, em recente nota sobre a situação econômica de El Salvador, confirmou que a austeridade de Bukele está aprofundando a miséria no País. O relatório aponta que a pobreza aumentou significativamente durante seu governo, enquanto os serviços públicos foram sucateados para garantir uma suposta “estabilidade fiscal”. A dívida pública, que já atinge cerca de 85% do PIB, permanece uma bomba-relógio, agravada pelos altos custos de financiamento e pela falta de perspectivas de crescimento econômico.
O governo também aposta em um novo programa de recompra da dívida externa, anunciado recentemente, mas não esclarece de onde virão os recursos para essa operação. Especula-se que uma parte do financiamento possa vir de um esquema de “troca de dívida por natureza”, em que El Salvador abriria mão de áreas ambientais em troca da redução da dívida. Trata-se de uma estratégia que, na prática, entrega o patrimônio nacional aos especuladores internacionais em troca de um alívio financeiro temporário.