O partido de extrema-direita da Áustria, o FPÖ, renunciou, nesta quarta-feira 12, a formar um governo de coalizão com os conservadores, reticentes com seu projeto, encerrando vários dias de tensões.
Seu líder, Herbert Kickl, informou ao presidente Alexander Van der Bellen a decisão. “Embora tenhamos feito concessões sobre diversos pontos, as negociações, infelizmente, não deram fruto”, afirmou em sua mensagem, recusando o mandato que lhe haviam dado em 6 de janeiro.
Os conservadores do ÖVP criticaram “a sede de poder e a intransigência” de Kickl. “Não estava disposto a chegar a um acordo e a estabelecer uma colaboração de igual para igual”, nas palavras de seu secretário-geral, Alexander Pröll.
As negociações começaram há pouco mais de um mês entre o FPÖ, que liderou pela primeira vez as legislativas de setembro com quase 29% dos votos, e o OVP (26,3%).
Em meio ao choque do resultado, a direita primeiro disse que queria formar uma coalizão “com todos, exceto Kickl”, com a esquerda e os liberais. Mas não se chegou a nenhuma aliança.
O ÖVP então se aproximou de seu inimigo, citando uma promessa de campanha. Mas as tensões logo surgiram.
A extrema-direita se agarrou ao Ministério do Interior, mas os conservadores, que já haviam cedido essa pasta a eles em 2017, se deram mal com a experiência: os serviços de inteligência ocidentais haviam se distanciado por causa das ligações entre a formação de extrema-direita e a Rússia.
A direita já governou duas vezes com o FPÖ na Áustria. Mas, nesses casos, ela dominou o Executivo e representou o país em Bruxelas, com uma agenda pró-europeia.
Desde o início das negociações, Kickl optou por uma linha dura e, para construir sua “fortaleza Áustria”, pediu o retorno à neutralidade estrita e o fim da primazia da lei europeia.
Dezenas de milhares de manifestantes saíram às ruas em Viena para defender os direitos fundamentais desde o início das negociações da coalizão.