A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está desenvolvendo um programa de pesquisa para o cultivo de cannabis no Brasil. A iniciativa, que pode durar 12 anos, aguarda aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda em 2024.
Pesquisadores da Embrapa, especializados no desenvolvimento de variedades adaptadas ao clima tropical, buscam avanços no melhoramento genético da planta. “Imagina se a gente já estivesse fazendo o melhoramento genético desta planta como vem sendo feito com o algodão nos últimos 50 anos?”, afirmou Daniela Bittencourt, pesquisadora do grupo de trabalho sobre cannabis.
O programa prevê a criação de um banco de sementes e a adaptação de variedades ao solo e ao clima do país. Além disso, a Embrapa pretende identificar centros regionais para a produção da planta.
Empresas nacionais e internacionais demonstraram interesse em parcerias para pesquisa, com foco em aplicações na indústria farmacêutica, alimentícia e na fixação de carbono no solo.
Desde os anos 1970, pesquisas da Embrapa resultaram na expansão da produção de soja no Brasil, tornando o país o maior fornecedor global do grão. O modelo pode servir de referência para o desenvolvimento da cultura da cannabis.
Em novembro de 2024, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) autorizou o plantio de cannabis para fins medicinais, determinando que a Anvisa regulamente o setor até maio de 2025. Um julgamento está previsto para avaliar a extensão do prazo em seis meses.
O uso recreativo da cannabis segue proibido no Brasil, enquanto países como Uruguai e Canadá regulamentaram suas indústrias nacionais.
A decisão do STJ permite o cultivo de cânhamo, variedade com menos de 0,3% de THC, utilizada na extração de canabidiol (CBD) para fins medicinais e na produção de fibras industriais.
Kiara Cardoso, fundadora da DNA Soluções em Biotecnologia, afirmou que espera o abastecimento das indústrias de papel, têxtil e alimentícia a partir da produção de cânhamo em larga escala. No entanto, o cultivo inicial será restrito a espaços internos e a protocolos específicos do setor farmacêutico.
A China, principal parceiro comercial do Brasil, é atualmente o maior produtor e exportador mundial de cânhamo. Países como França e Paraguai também autorizaram o cultivo da planta para aplicações industriais e medicinais.
