Cinco estudantes da USP que se posicionaram contra o genocídio em Gaza foram processados em 2023 a partir de denúncias da extrema direita sionista. Apesar da investigação aberta pela universidade já ter se encerrado, seu resultado permanece sob sigilo e, agora, um dos alunos está sendo impedido de se formar.
Entenda
Em 2023, a Universidade de São Paulo abriu um processo administrativo-disciplinar contra cinco estudantes da instituição por suposto antissemitismo. Foram processados com base num regimento da USP da época da ditadura militar, o que poderia resultar na expulsão dos alunos.
O caso teve início no dia 10 de outubro de 2023, num grupo de whatsapp de estudantes do Curso de Ciências Moleculares (CCM), em que, em pleno bombardeio e destruição de Gaza, foi enviado um pedido de ajuda financeira ao Exército sionista do Estado de Israel. O caso, que por si só já seria absurdo, já que se tratava de financiar o genocídio e limpeza étnica na Palestina, ganhou contornos ainda mais surreais quando se tentou criminalizar a reação a essa barbárie.
Diante do debate aberto, o Centro Acadêmico do curso levou à assembleia dos alunos um informe realizado pelo Comitê de Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino da USP (ESPP-USP), a fim de colaborar com a discussão.
Nas mãos de grupos sionistas e de extrema direita, a ata da assembleia foi distorcida e, em poucas dias, se transformou num processo disciplinar da própria USP contra cinco estudantes, sendo que apenas quatro deles estavam na assembleia, o que evidencia o caráter persecutório da medida. O caso gerou uma intensa mobilização em solidariedade aos estudantes perseguidos, tendo a adesão de personalidades públicas como Paulo Sérgio Pinheiro e mais de 7 mil assinaturas num abaixo-assinado.
A investigação foi encerrada, mas seu relatório final ainda está sob sigilo, mesmo tendo expirado o prazo para a sua divulgação. Um dos alunos processados, porém, recebeu um email da universidade suspendendo sua colação de grau devido ao processo.
“A comissão processante já passou da data prevista para emitir o parecer a respeito do Processo Administrativo, mas eles se recusaram a divulgar o parecer, inclusive aos advogados dos processados. Assim, acreditamos que isso seja uma tentativa de impedir nosso camarada de colar grau e, consequentemente, poder matricular-se na pós-graduação que ele acabou de ser aprovado. Ou seja, é uma tentativa da USP de usar as estruturas burocráticas da própria universidade como forma de retaliação, mesmo sem condenação“, relata João Conceição, da Frente Palestina São Paulo e do Comitê de Estudantes em apoio à Palestina.
Trata-se de um caso grave, que abre um precedente perigoso para a perseguição a qualquer estudante, docente ou funcionário, que se posicionem contrários ao extermínio e limpeza étnica praticados pelo Estado sionista de Israel, ainda mais agora com o apoio explícito e criminoso de Trump.
View this post on Instagram
Ato
Estudantes e a comunidade universitária contrários à perseguição sionista, assim como entidades e organizações pró-Palestina, convocam um ato público emergencial nesta quarta-feira, 12, com concentração a partir das 13h em frente ao prédio InovaUSP (Av Professor Lúcio Martins Rodrigues, 370, no Butantã), contra a perseguição aos estudantes e a garantia do direito do estudante de colar grau e se formar.