O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou oficialmente, nesta segunda-feira (10), a taxação de 25% sobre as importações de aço e alumínio. A medida foi criticada por países exportadores, entre os quais está o Brasil, mas até o momento, o governo não se pronunciou e tem agido com cautela. Apesar do discurso populista de Trump de resguardar os interesses nacionais, a medida pode não ter o efeito alardeado por ele.

Como forma de satisfazer seu eleitorado com respostas simplistas e populistas, o republicano tem dito que a medida ajudaria a impulsionar a produção interna, o que poderia contribuir para aquecer a economia e gerar mais empregos. Mas, o efeito pode ser contrário e levar, inclusive, ao aumento da inflação, que tem sido uma das principais preocupações dos estadunidenses.

A medida anunciada estabelece, a partir de 4 de março, a tarifa de no mínimo 25% sobre o aço e retira as exceções e isenções estabelecidas em 2018, em seu primeiro mandato, além de impor o mesmo percentual ao alumínio, que até então tinha um imposto de 10%.

Naquela ocasião, Trump acabou recuando da taxação para alguns países — inclusive o Brasil, que então tinha como presidente um de seus principais bajuladores, Jair Bolsonaro (PL). Neste momento, ainda não é possível dizer qual posição adotará em relação ao Brasil.

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Quando optou por esse mesmo tipo de tarifa há cerca de sete anos, no entanto, a realidade mostrou que a aposta populista cobrou um preço amargo para o próprio país. Conforme noticiou o The Washigton Post, uma análise sobre a aplicação dos impostos de 2018 — feita pelo Peterson Institute for International Economics, tido como uma entidade independente — apontou que a política foram criados cerca de 8,7 mil empregos e gerados cerca de US$ 2,4 bilhões em lucros “antes dos impostos para as empresas de aço”. Mas, “as indústrias domésticas que compravam aço nos Estados Unidos pagaram outros US$ 5,6 bilhões graças à proteção — um custo de cerca de US$ 650 mil para cada emprego criado na indústria siderúrgica”.

Outro estudo, feito por pesquisadores das universidades de Harvard e da Califórnia em 2020, indicou que as tarifas então aplicadas resultaram na criação de apenas mil novos empregos na indústria do aço estadunidense, frente à perda de 75 mil vagas nas cadeias desse setor devido ao alto custo que a taxação acabou gerando.

Segundo mostrou o Nexo Jornal, um relatório de 2024 do Instituto Peterson de Economia Internacional estimou que, no caso de as promessas de campanha serem cumpridas no que diz respeito à imposição de novas tarifas, a inflação americana poderia se elevar entre 6% e 9% em 2026.

Reações

No que diz respeito ao aço, por exemplo, o Canadá é o principal exportador, com a venda de 6,57 milhões de toneladas líquidas no ano passado, seguido do Brasil (4,5 milhões), México (4,18 milhões) e Coreia do Sul (2,8 milhões).

Após o anúncio oficial de Trump, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, classificou a iniciativa como “inaceitável” e completou dizendo que “os canadenses se levantarão forte e firmemente se necessário”.

Já Marcelo Ebrard Casaubón, secretário de Economia di México, disse que a medida “carece de fundamento econômico”. Segundo ele, “o México importa mais aço dos EUA do que exporta, então não há razão lógica para as tarifas”. O presidente em exercício da Coreia do Sul, Choi Sang-mok, por sua vez, declarou que buscará dialogar com o governo dos EUA.

A China — que não figura entre os principais exportadores desses itens aos EUA, mas domina essa indústria em âmbito global — ainda não se pronunciou.

No caso do Brasil, o governo ainda não se posicionou oficialmente, mas, segundo noticiado nesta terça-feira (11) pelo blog da jornalista Andrea Sadi, o governo estaria observando as reações de México, China e Canadá para responder à taxação. E, segundo o Estadão, o tema estaria sendo discutido entre Lula, o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, e o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro da Indústria, Comércio e Serviços.

Recentemente, questionado sobre o “tarifaço trumpista”, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou por um tom altivo, pragmático e não agressivo: “Se ele [Trump] taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade no Brasil em taxar os produtos que são importados dos EUA”.

Para compensar, uma das alternativas que vêm sendo estudadas é a taxação das big techs, que figuram entre as principais apoiadoras de Trump.

Nesse cenário, o posicionamento dos EUA podem, no final das contas, acabar criando uma nova janela de oportunidade para a busca de novos parceiros comerciais, entre os quais estão os países dos Brics e da União Europeia.

“No que se refere às medidas econômicas adotadas pelo governo dos EUA, a posição do Brasil deve ser pragmática, alinhada aos interesses da sociedade brasileira. Indiscutivelmente, uma ação prudente é aumentar a diversidade de parceiros comerciais, sendo prioridade, neste momento, a entrada em vigor do acordo entre Mercosul e União Europeia”, disse à Agência Brasil o professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP) Pedro Dallari.

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Last Update: 11/02/2025