A guerra comercial incitada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode até trazer vantagens para o país em termos de negociação, mas os preços altos aos consumidores tendem a ser uma consequência direta de tal estratégia.
“Se um fabricante chinês quiser vender sapatos nos EUA, o governo americano pode impor uma tarifa. Se um varejista dos EUA pagar US$ 100 por um par, então uma tarifa de 10%, como a que Trump impôs recentemente sobre produtos da China, significa que o varejista deve pagar US$ 10 ao governo dos EUA. Aqueles sapatos de US$ 100 agora custam US$ 110. Quem paga os US$ 10 extras?”, questiona Nancy Qian, professora de economia da Northwestern University, em artigo publicado no site Project Syndicate.
A cobrança de encargos extras em cima de produtos importados afeta diretamente os preços praticados no varejo, algo que muitos eleitores de Trump sequer tinham considerado.
Em seu primeiro mandato, Trump chegou a aumentar as tarifas sobre os produtos chineses, mas os importadores arcaram com a maior parte do custo – principalmente quando não encontraram fornecedores alternativos.
Contudo, como explica a economista, o cenário muda de figura quando as tarifas ficam ativas por um período prolongado de tempo. “Os importadores americanos não podem absorver os custos adicionais indefinidamente e podem sair do mercado a menos que encontrem novos fornecedores ou repassem esses custos aos consumidores, que podem precisar cortar gastos”, lembra.
A aposta de Trump é que a China e outros países terão dificuldade em encontrar alternativas para os produtos norte-americanos, o que poderia lhe garantir vantagens nas negociações e também em termos políticos: a cobrança de sobretaxas também pretende combater a influência chinesa e pressionar o México e a região da América Central a conter o fluxo migratório, entre outros pontos.
Porém, esse plano pode ser uma faca de dois gumes: se a guerra comercial permitiria aos EUA negociar com a China por melhores termos comerciais, a inflação atingiria o bolso dos consumidores norte-americanos em cheio.