O relatório da Polícia Federal (PF) revela os detalhes do esquema criminoso envolvendo deputados federais do Partido Liberal (PL), lobistas e até um agiota, acusados de desviar recursos de emendas parlamentares destinadas ao município de São José de Ribamar, no Maranhão. Na última sexta-feira, a Procuradoria-Geral da República (PGR) encaminhou a denúncia contra os bolsonaristas Josimar Maranhãozinho (MA), Pastor Gil (MA) e Bosco Costa (SE) para julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF).
A investigação, iniciada em novembro de 2020, aponta que os envolvidos exigiam 25% do valor das emendas como propina, em um esquema que movimentou R$ 6,7 milhões, dos quais R$ 1,6 milhão teria sido cobrado ilegalmente. No inquérito, a PF anexou prints que mostram conversas de WhatsApp entre os suspeitos combinando os crimes.
O caso veio à tona após denúncia do então prefeito de São José de Ribamar, Eudes Sampaio. Ele relatou que, em fevereiro de 2020, foi abordado por um político da região e pelo agiota Josival Cavalcanti da Silva, conhecido como “Pacovan”, que exigiram o pagamento de 25% das emendas destinadas à saúde do município.
Sampaio se recusou a pagar e, em seguida, passou a sofrer ameaças à sua integridade física e à de sua família, o que o levou a denunciar o esquema às autoridades.
A investigação aponta que o esquema funcionava da seguinte forma: agiotas emprestavam dinheiro aos parlamentares, que, em troca, indicavam emendas para prefeituras. Os agiotas, então, cobravam dos gestores municipais o valor do “empréstimo”, que correspondia a 25% do montante das emendas. Segundo a PF, os deputados teriam tido papel central na operação, com Maranhãozinho sendo apontado como o líder da organização criminosa.
O caso foi encaminhado ao STF em junho de 2021, após a PGR identificar indícios de uma “verdadeira organização criminosa” voltada para o desvio de recursos públicos. A PF realizou operações de busca e apreensão, coletando documentos, áudios e mensagens de WhatsApp que corroboram as acusações.
Em uma das conversas, o deputado Pastor Gil sugere a Josimar Maranhãozinho que se encontrem com o prefeito Eudes Sampaio, mas Maranhãozinho alerta sobre o risco de serem filmados por câmeras de segurança, demonstrando preocupação em evitar a produção de provas.
Outro ponto destacado no relatório é um áudio em que o agiota “Pacovan” pede a Josimar Maranhãozinho que garanta o pagamento de R$ 1,6 milhão, referente à propina de 25% sobre as emendas. “E eu não posso perder, entendeu? Que é 6 milhão. Vai dar um milhão e meio. E aí, se eu perder esse dinheiro? Me diz aí, qual é minha situação?”, afirma o agiota na gravação.
Prints de conversas reforçam as acusações
Entre as evidências coletadas pela PF, estão prints de conversas de WhatsApp que mostram a articulação do esquema. Em um dos diálogos, o agiota “Pacovan” lista políticos e auxiliares envolvidos na operação, detalhando como funcionava a cobrança das propinas.
Além disso, a PF identificou que o deputado Bosco Costa, eleito por Sergipe, indicou uma emenda de R$ 4,1 milhões para o Maranhão, o que chamou a atenção dos investigadores.
Para a PF, o fato sugere que o Maranhão pode ter se tornado um “paraíso” para o desvio de emendas parlamentares. O relatório também cita a participação de lobistas, que intermediaram o contato com gestores municipais, e de blogueiros, que ameaçavam os prefeitos com publicações negativas na internet.
As mensagens reforçam a tese de que os bolsonaristas e seus aliados atuavam de forma coordenada para desviar os recursos públicos, utilizando intermediários para pressionar os gestores municipais.
Durante os depoimentos, Josimar Maranhãozinho optou por permanecer em silêncio, enquanto Pastor Gil afirmou que recebeu R$ 200 mil do colega, supostamente como empréstimo, mas nunca devolveu o valor. A PF avalia que os envolvidos podem responder por crimes como estelionato, extorsão, corrupção e associação criminosa.
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