O Network for Greening the Financial System, a sua importância para o desenvolvimento de sistemas financeiros verdes e a saída do Federal Reserve System

por Emanuel H P Santos

A rede Network for Greening the Financial System (NGFS), criada em 2017, é constituída de bancos centrais e supervisores de vários países, com o Banco Central do Brasil sendo um dos integrantes. A ideia central da rede é cooperação e o compartilhamento de informações, no âmbito de organizações financeiras e policymakers, para que os sistemas financeiros – adaptados cada um a especificidades de seus países – tenham capacidade de lidar com as novas dinâmicas geradas por um mundo em crise climática. Dessa forma, o NGFS visa a contribuição do setor financeiro à contenção da crise climática. A rede trabalha na construção de soluções sustentáveis, elaborando relatórios, com base na colaboração dos membros, com sugestões que buscam ajudar, indiretamente, a mobilizar recursos para projetos sustentáveis.

Algumas recomendações que podemos destacar aqui é o desenvolvimento de uma taxonomia de atividades econômicas direcionadas aos legisladores. A construção da taxonomia permite avaliar impactos que a escolha por uma aplicação financeira pode causar no meio ambiente ao fazer gestão de carteira própria. Com a análise de impacto ancorada na taxonomia, a informação pode integrar bases de dados que ajudam a fazer análises agregadas mais precisas. Um desdobramento importante do NGFS é a elaboração do NGFS Scenarios, que é uma ferramenta que permite, através da criação de modelos sofisticados, a apreciação de como os efeitos climáticos podem afetar as economias através de riscos físicos e riscos de transição.

Nesse contexto, uma das bases para que se consiga alcançar os objetivos do NGFS é colaboração entre os bancos centrais. Contudo, o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve System (FED), anunciou sua saída em janeiro de 2025. O banco é um dos maiores do mundo, com uma imensa influência sobre a economia global, com suas ações afetando o Sistema Monetário Internacional e ditando ritmos nas relações comerciais e financeiras entre países. O FED justificou tal decisão argumentando que “o trabalho do NGFS tem se ampliado cada vez mais em escopo” e que as questões abordadas pela rede de bancos centrais “estão fora do mandato estatutário do Conselho”. E, sua saída acontece em um quadro político específico nos EUA, que converge com a volta à presidência do país do presidente Donald Trump, que publicamente desdenha de políticas ambientais e que retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris.

A ausência do FED pode indicar potenciais instabilidades nos esforços em tentar tornar os sistemas financeiros permissíveis à descarbonização da economia. Como dito, é necessário a cooperação internacional para que se consiga alcançar objetivos traçados em tratados internacionais. Uma feroz iniciativa de poucos países pode não ser suficiente para “esverdear” os sistemas financeiros de forma geral, porque há a necessidade de uma contundente coordenação. A transição verde envolve diversos interesses econômicos e geopolíticos, devido à potenciais disputas políticas e conflitos de interesses. E, quando se tira um dos mais importantes e influentes bancos centrais do cenário, o que pode ocorrer é uma sinalização na direção de menos compromisso com a preservação do meio ambiente o que pode significar e desestímulo a outros bancos e instituições financeiras de implementar políticas que induzam a transição climática. Vale observar, por fim, que um novo problema para a gestão da política monetária que se coloca atualmente é a pressão inflacionária advinda de elevação de custos (no nível mundial) na produção de alimentos. Assim, quanto menores forem os esforços dos bancos centrais, enquanto reguladores do sistema financeiro, em induzir que a composição dos portfolios dos agentes financeiros caminhe na direção de “esverdamento”, maiores serão os desafios no controle da inflação via controle da taxa básica de juros.  

Emanuel H P Santos – graduando em Economia na UFF e bolsista FAPERJ

Referências:

SANTOS, Emanuel H. P. A criação do Network for Greening the Financial System para o sistema financeiro mundial, a ferramenta NGFS cenários e os desafios da transição justa. Boletim Finde, Visões de Transformação Econômica: Investimentos, Reformas e Estratégias Sustentáveis, v. 5, n. 1, p. 81-87, jan./abr. 2024.

FEDERAL RESERVE. Federal Reserve Board announces it has withdrawn from the Network of Central Banks and Supervisors for Greening the Financial System (NGFS). Site institucional, jan. 2025. Disponível em: https://www.federalreserve.gov/newsevents/pressreleases/bcreg20250117a.htm. Acesso em: 06/02/2025.

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Last Update: 07/02/2025