Em maio de 2024, o presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib) Cláudio Lottenberg assinou uma coluna de opinião no site do Uol intitulada Colocando os pingos nos is. Nela, se propõe primeiro a explicar no que consistiria “ser progressista”, para então apontar porque a defesa da luta palestina seria o contrário disso. O “progressismo” ensinado por Lottenberg não seria nem de direita e nem de esquerda, o que já indica o tom da gambiarra na argumentação.

A defesa do povo palestino, na forma que existe atualmente, seria “sem dúvida o movimento mais pouco progressista do planeta”. Ele afirma que a falta de aprofundamento na questão, pelos militantes pró-Palestina mundo afora se daria por “acomodação” ou “mera conveniência fruto de uma relação maculada com a intolerância”. Logo de cara, já lança a cartada do antissemitismo.

Por alguma razão, pessoas que apoiam diversas causas consideradas amplamente como “progressistas” teriam algum ódio inexplicável contra judeus em geral. E apenas por isso, ou pela “acomodação”, defendem a libertação dos palestinos.

Lottenberg se apoia nas diferenças culturais da maioria dos palestinos em relação ao liberalismo nos costumes, observado principalmente nos países imperialistas, para lançar o argumento de que uma Palestina liberta pelo movimento de resistência real seria menos progressista. Os palestinos seriam mais “livres” atualmente do que num governo próprio “apoiado pelo Hamas e pelo Irã”.

A verdadeira ação progressista seria buscar “alterar o curso do movimento palestino totalitário e extremista” antes de apoiar a luta do povo da Palestina contra a ocupação militar sionista. Para Lottenberg, não se pode apenas culpar ‘Israel’ pelos problemas do povo palestino: “se colocarmos toda a culpa em Israel e então a “Palestina” se tornar independente sob uma tirania violenta, misógina, homofóbica e antidemocrática, quem vamos culpar?”. Um trecho omitido da coluna após repercussão negativa, deixava mais claro o “progressismo” do presidente da Conib:

“O palestino é esmagadoramente violento, misógino, homofóbico e antidemocrático”.

O palestino, aquele personagem de filme de terror, que faz o mal e odeia os judeus. Algo interessante pois o Hamas não fala sobre “o judeu” em geral, não tem uma consideração generalista sobre pessoas de origem judaica. A principal organização da resistência palestina, pintada pela imprensa imperialista e suas filiais como um bando de malucos extremistas, aborda a questão de maneira política e equilibrada. Do outro lado, sionistas com espaço livre na imprensa burguesa acabam sempre deixando escapar sua concepção racista contra o povo oprimido da Palestina.

Esses deslizes, expõem como as “propostas” “progressistas” dos sionistas para o que os palestinos deveriam ou não fazer não passam de mero engodo. Na coluna, ele escreve que “não se pode chamar de progressista e “pró-palestiniano” a menos que se condene a própria natureza do movimento e exija que ele se limpe do veneno que o permeia em todos os seus aspectos”.

Como fariam isso, porém, se a imensa maioria dos palestinos seria “violenta, misógina, homofóbica e antidemocrática”? Na verdade, o que os sionistas gostariam era de ver o próprio povo palestino acabando com o Hamas e toda a resistência, ficando livres para serem esmagados pela ocupação militar sionista.

A conclusão da coluna segue a tradicional receita sionista, ao melhor estilo “criticar ‘Israel’ é antissemitismo”. O mesmo argumento de abertura da coluna:

“Portanto ao defender o legitimo direito a um Estado Palestino cabe aos progressistas parar de criticar o governo de Israel e num primeiro momento liberta-los do terrorismo do Hamas e do fanatismo do Irã. Isto sim será progressismo. O resto para mim, antissemitismo”.

Essa linha de argumento só leva à conclusão que os palestinos não podem se defender e nem serem defendidos, seja com armas ou com palavras. Eles devem ser deixados para morrer. Afinal, como todo sionista sempre deixa escapar, não são pessoas.

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Last Update: 07/02/2025