Em provocação aos bolsonaristas que gostam de ostentar o boné vermelho do “Make America Great Again”, bordão de Donald Trump na campanha de 2024, parlamentares da base governista, além de ministros e do próprio presidente Lula, passaram a usar o acessório também, mas na cor azul e com o lema “O Brasil é dos brasileiros”, peça concebida pelo novo secretário de Comunicação da Presidência, Sidônio Palmeira. Exposto o ridículo de bajular o presidente dos EUA, os parlamentares bolsonaristas resolveram trocar de adereço, e passaram a desfilar pelos corredores do Congresso com um boné verde e a inscrição “Comida barata novamente: Bolsonaro 2026”, em alusão à inflação dos alimentos, que registrou alta de 7,69% em 2024.

Seria uma bela contraofensiva na teatral “guerra dos bonés”, não fosse por um detalhe: os preços dos alimentos dispararam no governo Bolsonaro. Em seu último ano de mandato, o IPCA dos gêneros alimentos acumulou alta de 11,64%. Do alto do muro do Centrão, o novo presidente da Câmara, Hugo Motta, não perdeu a oportunidade de tirar uma casquinha: “Para mim, boné serve para proteger a cabeça do sol, não para resolver os problemas do País”.

Rastro de sangue

Em 2024, 480 pessoas foram mortas por policiais civis e militares na Grande São Paulo, aumento de 88% em relação ao ano anterior e o maior número desde 2020. A capital e sua região metropolitana concentraram mais da metade das mortes cometidas por agentes de segurança no estado, que registrou 814 óbitos desse tipo, alta de 63% na comparação com 2023. O indicador inclui ocorrências tanto em serviço quanto fora dele. A elevação foi observada em todas as regiões, algo não visto desde 2013. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública.

São Paulo/ Mar de lama

Operações expõem a intensa colaboração de policiais com o PCC

Um delegado está envolvido nas extorsões ao delator assasinado – Imagem: Miguel Schincariol/AFP

A Corregedoria da Polícia Civil e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo (Gaeco) cumpriram mandados de busca e apreensão, na terça-feira 4, contra um delegado. Alberto Pereira ­Matheus Júnior é suspeito de extorquir o empresário Antônio Vinicius Gritzbach, o delator do PCC, antes de ele ser executado a tiros na saída do aeroporto de Guarulhos, em novembro de 2024. “Apurou-se que um policial preso em dezembro fazia pagamentos periódicos ao delegado”, informou o Gaeco.

Dias antes, na quinta-feira 30, a Corregedoria da PM indiciou dez policiais militares por suspeita de participação no assassinato de Gritzbach. Ao todo, 17 agentes da corporação foram presos desde 16 de janeiro. Destes, três são acusados de envolvimento na morte do delator, enquanto outros 14 fariam a escolta do empresário. A Secretaria de Segurança Pública não fornece detalhes do caso. O Inquérito Policial Militar segue em segredo de Justiça para preservar informações confidenciais das investigações.

Rio de Janeiro/ Balança, mas não cai

TRE fluminense livra Cláudio Castro de novo pedido de cassação

Em 2024, o governador também foi absolvido no caso da “folha secreta” – Imagem: Philippe Lima/GOVRJ

Por 5 votos a 2, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro absolveu o governador Cláudio Castro, do PL, de um novo pedido de cassação na terça-feira 4. Ele e seu vice, Thiago Papolha (MDB), foram denunciados pelo Ministério Público por irregularidades na contratação de oito empresas na campanha de 2022. De acordo com a denúncia, a chapa não comprovou a destinação de cerca de 10 milhões de reais recebidos de fundos públicos. O desembargador Rafael Estrela, relator do caso, entendeu não haver, porém, provas “de intenção deliberada dos candidatos de desviar dinheiro de campanha” e foi acompanhado pela maioria na Corte.

Em 2024, Castro já havia sido absolvido em outro processo que pedia a cassação de seu mandato por abuso de poder político e econômico. Segundo o MP Eleitoral, o governador fluminense mantinha uma “folha de pagamento secreta” com 27 mil cargos temporários na Fundação Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Estado do Rio de Janeiro (Ceperj) e outros 18 mil nomes na Universidade do Estado­ do Rio de Janeiro (Uerj). Muitos desses servidores teriam atuado como cabos eleitorais durante a campanha à reeleição, em 2022.

O coach da Lava Jato

A seção fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil acionou a Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça contra o juiz federal Marcelo Bretas. Segundo a entidade, ele age como um coach nas redes sociais, postura incompatível com o cargo. O CNJ afastou Bretas, em fevereiro de 2023, por desvios na condução de processos da Lava Jato. Mesmo assim, sustenta a OAB, ele tem o dever de observar as normas e os princípios éticos da magistratura. “Todavia, desde a imposição da excepcional medida em questão, o magistrado reclamado vem ampliando continuamente sua exposição pública, oferecendo e ministrando cursos típicos de atividades de coaching.” A reclamação disciplinar lista uma série de cursos oferecidos por Bretas, um deles ao custo de 2.497 reais.

Justiça/ Racismo reverso

Ofensa a homem branco não configura injúria racial, decide o STJ

Para o tribunal, o réu negro só pode ser acusado de injúria simples – Imagem: Sérgio Amaral/STJ

Em decisão divulgada na terça-feira 4, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça rejeitou a tese do racismo reverso, constantemente evocada por militantes da extrema-direita. O colegiado concedeu um habeas corpus para anular todos os atos de um processo movido contra um homem negro, acusado de ofender um homem branco. Na avaliação dos magistrados, o delito que pode ser imputado ao réu é o de injúria simples.

No caso analisado pelo STJ, um homem negro teria chamado a vítima, um homem branco de nacionalidade italiana, de “escravista cabeça branca europeia” em diálogos de um aplicativo de mensagens. Os ministros da Corte observaram, porém, que a legislação foi criada para proteger grupos que são historicamente discriminados e minoritários. “O racismo é um fenômeno estrutural que historicamente afeta grupos minoritários, não se aplicando a grupos majoritários em posições de poder.”

Ameaça global/ Sem freios

Trump ameaça ocupar a Faixa de Gaza e retira os EUA do Conselho de Direitos Humanos da ONU

Até Netanyahu parece ter se surpreendido com a proposta de Trump – Imagem: Jim Watson/AFP

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou, na terça-feira 4, que seu país assumirá a administração da Faixa de Gaza após o fim do conflito entre Israel e o Hamas. “Assumiremos o controle. Será nossa”, disse Trump, em entrevista coletiva ao lado do ­premier Benjamin Netanyahu, aparentemente pego de surpresa com a declaração. Não está claro o que Washington planeja. Trump fala em atrair migrantes de várias nacionalidades para ocupar o território, destinado a ser uma “Riviera do Oriente Médio”.

“E os palestinos, vão para onde?”, indagou Lula, unindo-se ao extenso coro de críticos à iniciativa, incluindo líderes árabes e europeus. “Não pode haver solução passando por cima dos palestinos”, alertou a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock. “Sempre fomos claros em nossa crença de que devemos buscar dois Estados”, emendou o chanceler britânico David Lammy. “A França reitera sua oposição a qualquer deslocamento forçado da população palestina de Gaza, o que constituiria uma séria violação do direito internacional”, acrescentou Christophe Lemoine, porta-voz da diplomacia francesa.

Trump demonstra, porém, estar pouquíssimo preocupado em respeitar o direito internacional. Na verdade, ele parece empenhado em destruí-lo. Na terça-feira 4, o presidente norte-americano assinou um decreto que retira os EUA do Conselho de Direitos Humanos da ONU e suspende permanentemente o financiamento à UNRWA, agência responsável pela assistência aos refugiados palestinos. Além disso, o republicano ordenou uma revisão de todo o financiamento destinado às Nações Unidas, citando o suposto “viés antiamericano” e a falta de reformas dentro da organização.

Terror na escola

Um ataque a tiros em uma escola para adultos em Örebro, na Suécia, deixou dez mortos, incluindo o atirador, na terça-feira 4. O chefe de polícia local, Roberto Eid Forest, afirmou que o agressor, um homem de 35 anos, sem antecedentes criminais e com licença para porte de armas, agiu sozinho. O incidente ocorreu por volta das 12h33 (horário local). Além dos mortos, outras seis pessoas ficaram feridas, uma delas em estado grave. Palco da tragédia, a escola Risbergska atende adultos que não concluíram sua educação formal ou não conseguiram as notas para ingressar no ensino superior. No mesmo campus também funcionam escolas para crianças.

El Salvador/ Importação de presos

Bukele se oferece para receber detentos e “migrantes criminosos”dos EUA

Os presídios salvadorenhos são famosos pela violação de direitos – Imagem: Marvin Recinos/AFP

Trump encontrou em Nayib ­Bukele um valioso aliado para viabilizar o plano de deportar 1 milhão de imigrantes ilegais por ano até o fim de seu mandato. Na segunda-feira 3, o presidente de El Salvador se ofereceu para receber “criminosos condenados” dos EUA em seus megapresídios, sejam eles nacionais ou estrangeiros, mediante um módico pagamento. “A taxa seria relativamente baixa para os EUA, mas significativa para nós”, escreveu no X (antigo Twitter).

“Nenhum país jamais fez uma oferta de amizade como esta”, celebrou o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, após participar de uma reunião com Bukele. “Estamos profundamente agradecidos”. Pelas redes sociais, Trump já demonstrou sua aprovação. “Grande ideia”, escreveu, em resposta à publicação do líder salvadorenho.

É improvável que a Justiça dos EUA autorize o envio de cidadãos norte-americanos para presídios em outros países, mas esse não parece ser o real objetivo da turma. Rubio deixou claro que pretende priorizar a exportação de detentos de outras nacionalidades. “Para qualquer imigrante ilegal que seja um criminoso perigoso – da ­MS-13, do Tren de Aragua, seja o que for –, ele ofereceu suas prisões”, disse o secretário de Estado, em referência a gangues de rua criadas por migrantes salvadorenhos e venezuelanos.

Intolerância fatal

Na segunda-feira 3, a polícia ferroviária francesa atirou e matou um homem de 49 anos que estava pintando suásticas com spray na movimentada Estação de Austerlitz, em Paris. De acordo com o Ministério Público, uma testemunha alertou os agentes de segurança sobre as pichações. Trinta minutos depois, o suspeito foi localizado, mas colocou a mão dentro do casaco e “sacou o que parecia ser uma arma de fogo”, apontando-a em direção aos agentes. O homem foi baleado após não obedecer à ordem para baixar a arma, que só depois se revelou ser falsa. Nascido na Síria e residente em Paris, ele morreu no hospital. Na França, a legislação proíbe a exibição de suásticas e outros símbolos que façam apologia do nazismo.

Desastre aéreo/ Dano colateral

Avião da Embraer foi atingido ao pousar na Rússia, revela relatório

Dos 67 passageiros e tripulantes a bordo, 38 morreram na queda – Imagem: Issa Tazhenbayev/AFP

O governo do Azerbaijão divulgou, na terça-feira 4, um relatório preliminar sobre a queda do avião Embraer E190, operado pela Azerbaijan Airlines, em 25 de dezembro de 2024. O documento confirma que a aeronave foi atingida por fragmentos de metal enquanto se aproximava para pouso na Rússia, reforçando as suspeitas de que o acidente tenha sido causado pelo disparo de uma ogiva de artilharia antiaérea.

O relatório sugere que a queda pode ter sido provocada por danos externos, mas ressalva que novas investigações são necessárias para determinar a origem e a natureza desses danos. O Kremlin admitiu que diversas cidades russas estavam sendo atacadas por drones ucranianos no momento da aproximação da aeronave, o que levou à ativação de sistemas de defesa aérea. Embora o presidente Vladimir Putin tenha se desculpado pelo incidente, ele não assumiu responsabilidade pelos disparos.

Os estilhaços causaram danos em estabilizadores e sistemas de navegação. A gravação de voz do piloto, feita durante a tentativa de pouso, também indica dificuldades para comandar a aeronave. “O controle de direção falhou, estamos usando as manetes de potência”, relatou ao controle aéreo de ­Rostov, ainda na Rússia.

Publicado na edição n° 1348 de CartaCapital, em 12 de fevereiro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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Last Update: 06/02/2025