Deportados, refugiados, expulsos – para onde vão?
por Dora Incontri
Agrava-se o cenário de barbárie sob a tirania trompista, mas é apenas a crueldade, que já se instala no mundo há muitos anos, no extremo do capitalismo neoliberal, e agora se apresenta sem disfarce e encontra ecos em outros países.
Não bastassem os deportados brasileiros algemados, a bravata de anexar o Canadá e a Groenlândia, as tarifas que inviabilizam o comércio internacional, nesta semana tivemos outras novidades absurdas: Trump pretende deportar os próprios cidadãos do seu país, os que estão encarcerados (segundo ele, “gente ruim”) e já o presidente de El Salvador, se manifestou entusiástico em receber tais prisioneiros em suas prisões, denunciadas internacionalmente por graves infrações aos Direitos Humanos. O bozo americano também anunciou sua aliança com outro tirano, o de Israel, com a intenção de esvaziar Gaza e deportar todos os habitantes.
Por outro lado, na Alemanha, o partido CDU (União democrata-cristã), que tinha um compromisso de jamais se unir à extrema direita, rompeu o que eles chamam de Brandmauer (muro guarda-fogo), para fazer aliança com o partido de extrema direita AFD (Alternativa para a Alemanha). E o motivo principal: endurecer as leis em relação à imigração naquele país.
Ou seja, formam-se conexões perigosas, lembrando o que se apresentava no cenário pré-segunda guerra mundial, para promover limpezas étnicas, expulsão de povos, fechamento de fronteiras… um manejo em que seres humanos são desumanizados, objetificados, descartados como lixo.
As trevas avançam porque o nazifascismo vem à tona, quando a crise do capital se faz no horizonte e porque cada vez mais no planeta, os recursos econômicos estão absurdamente concentrados nas mãos de pouquíssimos, uns pouquíssimos psicopatas.
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Tivemos também alguns alívios na semana: a carta épica de Gustavo Petro, presidente da Colômbia, dizendo poucas e boas ao Trump: a posição serena e firme de Cláudia Sheinbaum, presidenta do México, de oposição às tentativas de abuso dos EUA e as manifestações em massa na Alemanha, cantando música de resistência antifascista! Isso demonstra que o mundo não está inerte, que há gente que não vai se acomodar com o rumo que estamos tomando.
Hoje também, houve firmes posições de Lula e da União Europeia contra a expulsão dos palestinos de Gaza, depois de todo massacre sofrido por Israel.
O problema é que essa nova ordem mundial – que não é nova, porque é o imperialismo estadunidense de sempre, com sua democracia pelas metades, mas que agora caminha para uma ditadura escancarada – essa nova ordem se ancora num poderio bélico-militar capaz de destruir o mundo várias vezes. E aqueles que podem se opor a esse poder, os russos e os chineses, também dispõem de armamentos que podem nos levar a uma tragédia global.
Ocorre que as guerras locais, as economias exploradas e enfraquecidas pelo capitalismo global, a crise climática que vai gerar cada vez mais condições extremas – tudo isso provoca o descolamento de massas humanas para buscar países em condições de maior riqueza. Mas esses países também estão em crise. Só para citar os dois aqui apontados, os EUA e a Alemanha: o primeiro com milhões de moradores de rua e o segundo também com pessoas passando necessidades básicas. Ou seja, o povo da terra está disputando pão, espaço, teto e vida diante de uma economia injusta, mal distribuída, em que os trilhões investidos em armas e nas mãos de meia dúzia de trilhardários poderiam sanar a fome do mundo.
É necessário pensar, portanto, em mudanças radicais, profundas, revolucionárias. É preciso que as populações do mundo se conscientizem, se organizem, se façam resistência e oposição firme a esse sistema injusto, envelhecido e cruel. Sair às ruas é importante, mas não basta. É a organização de base, a oposição de cada dia, a não cooperação com o sistema (como aconselhava Tolstoi), o despertar das pessoas, que dormem à nossa volta, do sono hipnótico da manipulação mediática.
Enfim, um trabalho de base, urgente, que cada um pode assumir como tarefa diária, como militância sem tréguas, como apelo firme aos que caminham conosco.
Não é possível mais aceitar este mundo como ele é, como está ficando e como ainda será nos próximos tempos!
Dora Incontri – Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema de educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.
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