O Banco Central (BC) deverá seguir a tendência de alta da taxa básica de juros do País, elevando a Selic a 14,25% (ao ano) a partir de março. É o que mostra a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, que foi divulgada nesta terça-feira 4.
Segundo o Copom, a alta da Selic – que foi elevada a 13,25% ao ano – se justifica pelas expectativas de aumento da inflação em todos os cenários: no curto, médio e longo prazo. Esse é um cenário “desafiador”, segundo o colegiado, que aponta a subida nos preços dos alimentos – principalmente a carne – como a principal adversidade da inflação no curto prazo.
“Esse aumento tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira”, diz o documento sobre a ata da reunião.
Diante do quadro, o BC espera que o País volte a romper o teto da meta da inflação. “Em se concretizando as projeções do cenário de referência, a inflação acumulada em doze meses permanecerá acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos”, explica.
A partir deste ano, o Brasil vai adotar uma nova referência para calcular se a inflação estará ou não dentro da meta. Agora, a autoridade monetária não vai mais observar a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no dia 31 de dezembro de cada ano, mas vai adotar uma meta contínua. Assim, a meta somente será descumprida se o acumulado de doze meses ficar fora do estabelecido ao longo de seis meses consecutivos.
Mesmo sob a nova sistemática, o País deverá continuar descumprindo a meta. “Com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas”, diz o Copom.
Na reunião da semana passada, o Copom aproveitou para fazer críticas ao estado atual das contas públicas, indicando que “a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida seguiu impactando, de forma relevante, os preços de ativos [juros futuros e dólar] e as expectativas dos agentes”.
“O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”, diz o Copom.