Os exércitos cruzados, que atenderam ao chamado do Papa Urbano II para uma guerra santa contra o Islã, reuniram-se em 7 de junho diante das muralhas de al-Quds (Jerusalém). Suas espadas já “conheciam o gosto do sangue sarraceno”, como escreveu um frade.

Al-Quds estava bem defendida e abundantemente abastecida com comida e água. Seu comandante, Iftikhar al-Dawla, garantiu que as muralhas estivessem em bom estado e conseguiu bloquear ou envenenar os poços ao redor, forçando os exércitos cruzados a dependerem de um suprimento de água a vários quilômetros de distância.

Um exército muçulmano já havia partido do Egito para socorrer a cidade. Avaliando esses fatores, os cruzados, sob a liderança de Godofredo de Bulhão, perceberam que um cerco prolongado estava fora de questão. Sua única chance de sucesso era lançar um ataque imediato e total.

Essa decisão foi reforçada por uma visão milagrosa recebida por um sacerdote, Pedro Desidério, que afirmou ter sido instruído por uma voz celestial a liderar os cristãos em uma peregrinação descalça ao redor das muralhas da cidade, arrependendo-se de seus pecados e clamando a Jesus por perdão e vitória. A peregrinação terminou no Monte das Oliveiras, onde os cruzados ouviram sermões de Pedro, o Eremita, e de outros membros do clero que os acompanhavam.

Na noite de 13 de julho, os cruzados empurraram três grandes torres de cerco em direção às muralhas. Ao meio-dia do dia 14, uma das torres, sob o comando de Godofredo, alcançou as muralhas, e uma ponte foi lançada sobre os parapeitos. Um grande grupo de cruzados atravessou a estrutura e abriu o Portão da Coluna, permitindo que milhares de guerreiros invadissem as ruas da cidade, entoando hinos, enquanto a população fugia desesperadamente para a Mesquita de Al-Aqsa, onde esperavam fazer uma última resistência.

A mesquita estava abarrotada de refugiados aterrorizados; não havia espaço nem mesmo no telhado. Cavaleiros cruzados, sob o comando de Tancredo de Hauteville, invadiram o Domo da Rocha, profanando-o e massacrando todos que estavam dentro. Como a mesquita não havia sido preparada para defesa, em poucas horas a bandeira de Tancredo tremulava no topo do edifício ensanguentado, o terceiro local mais sagrado do Islã.

O comandante da guarnição, Iftikhar al-Dawla, cercado na Torre de Davi, último bastião da defesa, rendeu-se sob a condição de que ele e os soldados sobreviventes tivessem permissão para sair com vida.

A cidade, que havia sido capturada pacificamente pelo califa Umar quatro séculos antes e que abrigava pessoas de todas as religiões, agora estava coberta de sangue. Padres e monges escreveram entusiasticamente sobre o massacre, chamando-o de “maravilhoso julgamento de Deus”. Relatos cristãos afirmam, com orgulho, que o sangue muçulmano e judeu “subiu até os joelhos dos cavalos” dos cavaleiros cruzados.

As Cruzadas para a Palestina

Em 1071, os turcos seljúcidas, um povo muçulmano, derrotaram o Império Bizantino na Batalha de Manzikert, conquistando a Ásia Menor, hoje a Turquia. Isso gerou uma ameaça para os bizantinos, que pediram ajuda ao Papa Urbano II. Em 1095, ele fez um apelo em Clermont, na França, convocando os cristãos a tomarem Jerusalém dos muçulmanos e prometendo indulgências (perdão de pecados) a todos os que participassem da cruzada.

A resposta à convocação papal foi enorme. Milhares de cristãos, incluindo cavaleiros, camponeses e pessoas de diferentes classes sociais, alistaram-se para a expedição. A liderança da cruzada foi dividida entre vários nobres europeus: Godofredo de Bulhão (duque da Baixa Lotaríngia), que se tornaria um dos líderes principais e, após a tomada de Jerusalém, seria coroado “Defensor do Santo Sepulcro”; Balduíno de Bolonha (irmão de Godofredo), que posteriormente se tornaria o primeiro rei do Reino de Jerusalém; e Raimundo IV de Toulouse, um dos mais poderosos nobres da França, também um dos líderes importantes da cruzada.

Além dos nobres, muitas pessoas comuns, camponeses e soldados uniram-se à causa, formando um grande exército de cruzados. Relatos de viajantes mencionam uma combinação de motivações religiosas, desejo de riqueza e a oportunidade de escapar das dificuldades da vida na Europa feudal.

Com a vitória em 1099, al-Quds tornou-se uma cidade cristã e assim permaneceu até 1187, quando Salah ad-Din (Saladino) a reconquistou para o Islã. Esse período de menos de 100 anos foi o único momento em que al-Quds não esteve sob controle muçulmano desde o Califado Omíada até a invasão britânica em 1917. O domínio dos cruzados, assim como o dos britânicos e sionistas, foi marcado por grande violência sectária. Já os longos períodos de domínio islâmico foram caracterizados pela coexistência entre as três religiões abraâmicas.

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Last Update: 04/02/2025