O Banco Central (BC) divulgou na última sexta-feira (31) um relatório alegando que as empresas estatais fecharam 2024 com um deficit de R$8,07 bilhões, sendo R$6,73 bilhões apenas entre as federais. No entanto, o próprio governo federal informa que, no mesmo período, as estatais realizaram investimentos de R$96,18 bilhões, um crescimento de 44,1% em relação a 2023.
Trata-se de um contrassenso evidente, em que um suposto rombo de R$6,73 bilhões é usado para desqualificar um setor que movimentou quase R$100 bilhões em investimentos. A discrepância numérica denuncia uma estratégia política: manipular os dados fiscais para atacar as estatais e impulsionar um programa de privatizações.
O método do BC para calcular o deficit das estatais ignora aspectos fundamentais das finanças públicas, como os recursos já disponíveis em caixa e receitas de anos anteriores. O levantamento se baseia na metodologia “abaixo da linha”, que mede o endividamento das empresas ao longo do tempo, sem considerar a sustentabilidade financeira real dessas instituições.
Esse método é contestado pelo Ministério da Gestão e Inovação (MGI), que por sua vez, aponta que os investimentos realizados foram pagos com recursos próprios das companhias, o que desmente qualquer noção de descontrole fiscal. O próprio BC admite que os cálculos da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest) trazem um detalhamento superior das contas dessas empresas, mas ainda assim se mantém a propaganda alarmista sobre o endividamento. Ainda assim, a autoridade monetária insiste na propaganda orientada a difundir a tese de que as estatais são um fardo para os cofres públicos.
O volume de investimentos reforça a importância dessas empresas para o desenvolvimento do país. Com R$96,18 bilhões aplicados em infraestrutura, tecnologia e serviços essenciais, as estatais desempenham um papel estratégico na economia nacional. Enquanto o suposto deficit representa menos de 7% desse montante, os interesses neoliberais se apressam em usá-lo como justificativa para o desmonte do patrimônio público.
O caso dos Correios é emblemático na distorção desse discurso. A estatal registrou um deficit de R$3,2 bilhões, sendo a principal responsável pelo saldo negativo do setor. No entanto, essa cifra precisa ser contraposta com os investimentos necessários para recuperar a empresa, que após seis anos de governos golpistas, foi destruída para que pudesse odiada pelo povo até ser privatizada, como explicou o presidente da companhia Fabiano Silva, em entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto:
“Os resultados ainda não são os finais, tem números que podem ser melhores, com um desempenho melhor. Era uma empresa que estava para ser privatizada e isso traz efeitos importantes para a empresa. Quando uma empresa é sucateada como ela foi para ser vendida, temos um trabalho grande para recuperar a empresa.”
A tentativa de associar a gestão das estatais ao suposto descontrole fiscal visa, na realidade, enfraquecer o setor público e facilitar sua entrega ao capital privado. O Banco Central, comandado por Galípolo e uma diretoria alinhada a interesses criminosos dos banqueiros internacionais, tem sido um dos principais vetores dessa pressão, operando como peça-chave na imposição dos interesses neoliberais. A propaganda do deficit ignora a contribuição das estatais para o desenvolvimento nacional e distorce os números para fabricar uma crise artificial.
O verdadeiro objetivo desse ataque não é corrigir qualquer problema fiscal, mas sim enfraquecer a resistência contra a privatização. Ao fabricar um cenário de caos financeiro, o BC e setores ligados ao imperialismo tentam criar um ambiente favorável para a venda de empresas estratégicas a preços abaixo do mercado. Esse método não é novo: em governos anteriores, a mesma tática foi utilizada para justificar a entrega de refinarias, distribuidoras de energia e outros ativos fundamentais ao capital estrangeiro.
O Brasil já viveu os efeitos das privatizações conduzidas sob justificativas falaciosas. O desmonte de setores estratégicos resultou em tarifas mais altas, perda de qualidade nos serviços e remessas bilionárias de lucros ao exterior.
A mesma ofensiva se desenha para as estatais federais, com o Banco Central atuando como ponta de lança de um ataque coordenado. Diante disso, a defesa do patrimônio público se torna ainda mais urgente. A propaganda do deficit não resiste a uma análise séria dos números e precisa ser combatida antes que sirva de pretexto para mais um ciclo de desmonte e entrega da soberania nacional.