O professor Armando Alvares Garcia Júnior, de Direito Internacional Público e Relações Internacionais da Universidade Internacional de La Rioja, defende que a guerra tarifária imposta pelo presidente norte-americano Donald Trump pode fortalecer um novo eixo político, protagonizado pela China e sustentado pelos BRICS+.
Em artigo publicado no site The Conversation, Garcia relembra o primeiro episódio em que Trump tentou fazer valer suas demandas por meio do aumento de tarifas sobre importação.
No entanto, tal medida pode impulsionar a demanda por produtos latino-americanos no mercado chinês, além de gerar uma guerra comercial entre Washington e Pequim. Neste caso, há o risco ainda de que a instabilidade econômica tenha efeito global, inclusive na América Latina, devido à demanda chinesa por commodities e tecnologia.
“A China tem ampliado significativamente seus investimentos na região, especialmente em setores como infraestrutura, energia e tecnologia. Um exemplo é o megaprojeto portuário de Chancay, no Peru, desenvolvido em parceria entre a estatal chinesa COSCO Shipping Ports e a empresa peruana Volcan Compañía Minera, com um investimento estimado em US$ 3,6 bilhões. Este porto visa facilitar o comércio entre a América do Sul e a Ásia, consolidando o Peru como um centro portuário no Pacífico sul”, aponta o professor de Relações Internacionais.
Chagas lembra ainda que os países latino-americanos estão fortalecendo as relações comerciais com a China e a Índia a fim de diversificar parceiros econômicos e reduzir a dependência dos Estados Unidos.
Consequentemente, o Brics+ se fortalece ao promover uma alternativa ao domínio econômico no Ocidente e demonstra que surge um novo cenário global em resposta ao protecionismo imposto por Donald Trump.
“A longo prazo, as medidas tarifárias de Trump estão desmantelando o T-MEC (antes conhecido como Tratado de Livre Comércio da América do Norte: Estados Unidos, México e Canadá), provocando um realinhamento geopolítico e geoeconômico que afetará profundamente a América Latina. Neste sentido, o próprio fortalecimento do BRICS+ tem ganhado espaço, contando com novos membros. Em 2024, ingressaram Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Em 2025, a Indonésia se aderiu ao bloco. Essa reconfiguração pode acelerar a diversificação dos mercados latinoamericanos e reduzir sua dependência econômica de Washington, impulsionando novas alianças comerciais globais”, continua o professor.
Entenda o caso
Em 26 de janeiro, após a recusa do presidente colombiano Gustavo Petro em aceitar voos com deportados devido às condições desumanas em que eram transportados, o presidente norte-americano impôs tarifas de 25%sobre as importações colombianas, prometendo aumentá-las para 50% caso a decisão não fosse revertida.
Dois dias depois, Petro aceitou a chegada de deportados, desde que em aviões colombianos.
O professor de Direito Internacional ressalta que, historicamente, as tarifas alfandegárias eram utilizadas para proteger a economia local. Mas Trump inaugurou uma era de coerção política, que se estendeu aos vizinhos México e Canadá no último final de semana.
“A dependência econômica do México em relação aos Estados Unidos é significativa, com mais de 75% das exportações mexicanas destinadas ao mercado norteamericano. Em 2024, essas exportações somaram mais de US$ 466 bilhões, consolidando o México como o principal fornecedor de produtos para os EUA”, ressaltou o professor em seu artigo.
Em resposta, a presidente mexicana Claudia Sheinbaum anunciou a reciprocidade aos EUA, elevando as tarifas em até 25% sobre milho, a carne suína, o queijo, as batatas e as bebidas alcoólicas de origem norte-americana, além de restringir a operação de algumas empresas dos EUA que operam no México.
Paralelamente, o país também passou a intensificar contatos econômicos com outros países, entre eles a China, a fim de diminuir a dependência econômica do país vizinho.
Em relação ao Brasil, o eventual aumento das tarifas sobre a importação de commodities, em especial soja e carne bovina, será retaliado, como já informou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
LEIA TAMBÉM: