O presidente Donald Trump e Bernard Arnault, o homem mais rico da Europa, em foto de 2019. Reprodução

Em sua edição de final de semana, publicada em 1º de fevereiro, o Financial Times — fiel porta-voz dos interesses da elite endinheirada — deu, em sua primeira página, vazão à nova patranha dos super-ricos: um movimento orquestrado de pressão sobre a União Europeia para garantir-lhes menos impostos, menos regulamentação e, claro, mais riqueza acumulada no topo da pirâmide. Embalados pelo discurso neomedieval de Donald Trump em Davos, magnatas europeus como Bernard Arnault (LVMH), Wael Sawan (Shell) e executivos da H&M surfam na onda trumpista para chantagear os governos do continente: ou a Europa se torna mais “amigável” aos negócios, ou suas fortunas seguirão rumo aos Estados Unidos, onde o lucro corre sem amarras.

A elite empresarial europeia não está interessada no bem-estar coletivo, muito menos na prosperidade social. O jogo é outro: usar o poder econômico para dobrar os governos e garantir um ambiente em que regras ambientais, direitos trabalhistas e políticas tributárias sejam moldadas para seu benefício. O modelo de Trump — menos impostos, energia barata e desregulamentação — virou o novo sonho dourado dessa casta de bilionários, que quer que a União Europeia siga o mesmo caminho.

Bernard Arnault, o homem mais rico da Europa, com uma fortuna estimada em US$ 211 bilhões, não esconde a predileção pelo modelo trumpista: “Estamos sendo fortemente incentivados pelas autoridades dos EUA a continuar expandindo nossa presença lá”, declarou, deixando claro que seu império do luxo prefere um ambiente de negócios em que os impostos são mínimos e as regulamentações, flexíveis. Para ele e seus pares, o lucro é a única métrica que importa — e qualquer entrave a essa lógica, seja uma regra ambiental ou uma proteção trabalhista, deve ser eliminado.

Wael Sawan, CEO da Shell. Reprodução

A Shell e a H&M seguem a mesma cartilha. O CEO da gigante do petróleo, Wael Sawan, disse abertamente que a empresa continuará investindo nos EUA devido às suas “estruturas tributárias favoráveis e regulamentações facilitadoras”. Enquanto isso, a H&M já reestrutura sua cadeia de suprimentos para evitar as tarifas de Trump, provando que, para essas corporações, a única bússola moral é o saldo no final do trimestre.

O Financial Times reforça a chantagem: a Europa precisa “tornar-se mais barata para fazer negócios”. Para sustentar essa tese, o jornal cita declarações de Christine Lagarde, do Banco Central Europeu, e Ursula von der Leyen, da Comissão Europeia, sobre a necessidade de reduzir a burocracia no bloco. No entanto, o Financial Times distorce o que foi dito. Von der Leyen lançou recentemente a “Brújula de Competitividade”, um plano para estimular setores estratégicos como tecnologia verde e inteligência artificial, não para simplesmente reduzir os impostos dos bilionários. Lagarde, por sua vez, enfatiza a necessidade de uma transição digital e verde na Europa, e não de um paraíso fiscal para os super-ricos. O jornal, no entanto, usa essas falas como pretexto para defender um continente mais “amistoso” ao acúmulo de fortunas.

No final das contas, o que se vê é um jogo de cartas marcadas, em que a concentração de riqueza e poder avança enquanto a classe média e os trabalhadores europeus enfrentam um futuro de incertezas. A influência de Trump sobre os negócios globais deixa evidente que, para os magnatas, o presidente estadunidense não passa de um facilitador de suas ambições. Se isso significar um mundo mais desigual, que assim seja — afinal, para essa elite, o único fim que realmente importa é a acumulação da riqueza, por óbvio, produzida pela patuleia.

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Last Update: 02/02/2025