As cenas de guerra vistas no Recife (PE) neste sábado, proporcionadas por torcidas organizadas de Santa Cruz e Sport, terminaram com 12 feridos — sendo três internados – e 14 detidos. Vídeos que circularam nas redes sociais dão conta de cenas de violência extrema, inclusive sexual, no confronto entre os torcedores.
Na mais chocante das gravações é possível ver um homem sendo alcançado e espancado por torcedores do Santa Cruz, que tiram a roupa dele. As imagens são fortes. Ele leva socos e pontapés e é atacado por mais de dez homens. Um motociclista se junta ao grupo e joga a moto sobre a vítima, que está no chão.
Mais adiante, os torcedores praticam violência sexual contra o homem. Outras imagens mostram correria, fumaça e sons de fogos de artifício em ruas de um bairro da zona oeste da capital pernambucana. Supermercados e lojas da região foram saqueadas. Nos bairros da Madalena e da Encruzilhada, o comércio fechou as portas e a população tem medo de sair de casa.
Antes do jogo, cerca de 650 pessoas foram conduzidas ao Batalhão de Polícia de Choque e passaram por revista, enquanto 14 foram detidas por violência entre torcedores após os episódios de violência. Mais confusões, no entanto, também foram registradas em locais da Região Metropolitana de Recife, segundo a Polícia Militar.
Apesar das cenas de barbárie, o presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Evandro Carvalho, manteve a realização da partida, sob alegação de que o jogo deveria acontecer “para reduzir a violência”. As equipes se enfrentaram pelo Campeonato Pernambucano, e o Santa Cruz venceu por 1 a 0.
Nas redes sociais, a governadora Raquel Lyra (PSDB) disse estar trabalhando para “punir os vândalos responsáveis” pelos confrontos. Cerca de 700 policiais haviam sido destinados para coibir os atos de violência. Na noite de sábado, a tucana anunciou a proibição da presença de torcedores em cinco jogos do Santa Cruz e do Sport.
Uma portaria publicada no Diário Oficial prevê que o veto vale para jogos de qualquer campeonato envolvendo algum dos dois times. Além disso, uma resolução do Ministério Público de Pernambuco também será publicada recomendando que os clubes realizem o cadastramento biométrico de seus torcedores.
“A gente precisa ter o controle de quem compra o ingresso, ter a biometria, que é uma exigência de lei. A decisão de suspender a presença de torcedores nos próximos jogos é para que a gente efetivamente faça o contato com a federação e os clubes para que as medidas sejam implementadas”, disse o secretário estadual de Defesa Social, Alessandro de Carvalho.
As medidas foram acertadas entre Lyra, o desembargador do Tribunal de Justiça Mauro Alencar, e o procurador-geral do estado, José Paulo Xavier. Eles se reuniram por cerca de cinco horas, no Centro Integrado de Comando e Controle Estadual, para acompanhar as ações de combate à onda de violência.
Para a governadora, as medidas são necessárias “para que se possa seguir um protocolo de cumprimento de cadastramento, reconhecimento facial e identificação dos torcedores que frequentam os estádios”. “Não dá mais para tolerar que casos como esse possam acontecer no estado”.
O prefeito da capital pernambucana, João Campos (PSB), escreveu em seu perfil no X (antigo Twitter): “O que vimos hoje foram cenas criminosas no confronto entre vândalos que usam o futebol para praticar violência. É urgente a identificação e uma punição severa para esses delinquentes! Futebol não é isso”.
Em nota, o Sport disse lamentar com veemência “os episódios de violência no Recife” e reforçou que não compactua com as cenas de barbárie. “[O clube] trabalha incansavelmente para combater qualquer tipo de ato de violência que use o futebol como plano de fundo”. Também disse esperar uma atitude “enérgica e imediata” das autoridades para responsabilizar os envolvidos.
“O Santa Cruz vem a público condenar todos os atos violentos envolvendo torcedores nas ruas do Recife, neste sábado e se coloca à disposição das autoridades e demais clubes para encontrar soluções e banir de vez à violência do futebol em Pernambuco”, afirmou o time, também em nota.
O Ministério do Esporte cobrou “investigação rigorosa” do caso. “O futebol é uma expressão cultural e popular que mobiliza paixões e gera oportunidades de confraternização. A transformação desse ambiente em palco de violência é absolutamente inadmissível e prejudica a imagem do esporte, afugenta famílias dos estádios e coloca em risco a segurança de todos”.