A matéria Trump, a nova velha cara feia do imperialismo estadunidense, publicada neste 30 de janeiro (quinta-feira) no portal Opinião Socialista, vem na onda da esquerda filoimperialista, que se reveza para atacar Trump de forma como nunca feito durante o governo de Joe ‘Genocida’ Biden.

O PSTU, que edita o jornal, diferentemente dos outros setores da esquerda filoimperialista, toma o cuidado de não afunilar sua crítica na direção de Trump, procura atacar Biden dizendo que “sob a fachada de progressista, ele foi um governo capitalista e sionista que fez jus a todo imperialismo estadunidense”. No entanto, como o título mostra, esse grupo não entende o que de fato está ocorrendo nos Estados Unidos.

É um erro dizer que Donald Trump seja apenas a “nova velha cara feia do imperialismo”, mesmo porque o grande capital financeiro recorreu à perseguição judicial e mesmo à tentativa de assassinato na tentativa de barrar Trump. O candidato preferencial era Biden, que teve de ser substituído por Kamala Harris.

A prova que esse grupo não compreende a divisão na sociedade americana aparece com clareza no parágrafo que diz que “o projeto de Trump visa aprofundar a exploração e a opressão capitalistas por diversos meios. É o governo extremado dos bilionários capitalistas. Une os setores mais atrasados da burguesia, como as petrolíferas, com os mais modernos das big techs, com a benção da bolsa de valores e do mercado financeiro”.

O imperialismo sempre procura aprofundar sua exploração, e os governos norte-americanos também sempre estiveram a favor dos bilionários. A questão é saber quais bilionários. É falsa a ideia de que Trump tenha recebido a benção do mercado financeiro, pois é justamente aí que se encontra a divisão.

O grande capital financeiro está drenando os recursos e retirando dinheiro do mercado interno. Trump é apoiado principalmente pelo setor produtivo, que vem sendo prejudicado há décadas. Tanto é assim que prometeu retirar dinheiro das guerras (do capital financeiro) para investir no país. Foi isso que gerou a crise e fez com que toda a grande imprensa, dominada pelo grande capital, se voltasse contra a candidatura Trump. E é preciso lembrar que este sofreu uma onda de ataques já no seu primeiro mandato.

Também é equivocada a ideia que se faz da presença de donos de empresas de tecnologia e redes sociais. Esses setores estão perdendo dinheiro devido à pressão que sofrem do imperialismo. A Meta, por exemplo, está interessada em afrouxar a censura para evitar perder mais usuários, um resultado do intenso cerceamento que vinha praticando no Facebook e no Instagram.

Manifestação virou crime

Embora se diga trotskista e tenha trabalhado ativamente no golpe contra Dilma Rousseff em 2016, o PSTU critica Trump por “perdoar mais de 1.500 militantes golpistas de extrema direita envolvidos no ataque ao Capitólio em 2021”. Para esse setor da esquerda, assim como para tantos outros pequeno-burgueses, a invasão do Capitólio teria sido uma tentativa de golpe. Nunca esclareceram, no entanto, como os manifestantes, incluindo um sujeito com chapéu ornamentado com chifres, tomariam o poder.

Trata-se de uma política reacionária a do PSTU, que visa a proteção das instituições do Estado burguês, ainda que não o confesse. O autor do texto reclama que “O novo governo defende ultraliberalismo com protecionismo; cortes drásticos nos gastos públicos”; enquanto Musk, “recebe bilhões em contratos públicos da Nasa com a SpaceX. Mas não era exatamente assim que acontecia no governo Biden?

A falácia da mudança climática, claro, não poderia faltar. No texto se alega que “negacionismo climático impulsionará a degradação do planeta em nome do lucro das grandes corporações petrolíferas”. Na verdade, é a esquerda fiolimperialista que nega outras teses sobre o clima que confrontam esta, que é defendida pelo imperialismo. Também se negam a denunciar que o clima é apenas mais uma arma nas mãos do imperialismo para manterem os países pobres afundados no atraso.

Com Biden e contra a China

O PSTU repete em dois momentos a mesma ideia antimarxista sobre os chineses. Primeiro, diz que “a ascensão da China como potência imperialista oferece um desafio direto aos EUA”. Depois, diz que a América Latina mostra incapacidade para “enfrentar de fato o imperialismo dos EUA, da Europa e da China”.

Lênin define o imperialismo, a fase superior do capitalismo, como uma fase onde a livre concorrência existe apenas lateralmente, e um punhado de países dividiram o mundo entre si, controlando o fluxo de capitais, mercados e fontes de matérias-primas.

As duas guerras mundiais foram justamente os enfrentamentos que serviram para a acomodação das forças imperialistas. É um erro dizer que exista um imperialismo europeu e um americano. Eles são fundamentalmente o mesmo. Os Estados Unidos apenas são o principal país, e este governa ditatorialmente os demais componentes do bloco. A China não é, nem por acaso, um país imperialista.

Com dinheiro sobrando, os chineses têm se empenhado em exportar capitais. Eles fazem parcerias com diversos países para poderem atuar na construção de portos, estradas, etc. Muito diferente do que faz o imperialismo, que sempre atua na base da força e expropria literalmente as riquezas de outros países. Este, quando não consegue se impor pelo uso de bloqueios e sanções econômicas, quase sempre utilizam a truculência da intervenção militar.

Para tentar sustentar a ideia equivocada do imperialismo chinês, o PSTU diz que a China ameaça o imperialismo inundando os mercados com carros elétricos e provocando problemas com as novas inteligências artificiais. No entanto, as novas IA’s chinesas apenas mostraram como o imperialismo utiliza o mercado financeiro para atribuir um valor arbitrário às suas empresas.

No final da matéria, o PSTU alega que o “O retorno de Trump à Casa Branca não é um acidente, mas uma consequência direta da política de Biden e da manutenção do status quo que favorecem as elites econômicas”. Mas, de novo, não diz quais elites são essas e não aponta a contradição fundamental da crise do imperialismo que se expressa no antagonismo e na luta entre dois setores poderosos dentro da burguesia norte-americana. O retorno de Trump não é uma consequência direta da política de Biden, é fruto de uma crise. Seu governo tende aprofundar ainda mais essa crise do imperialismo, o que é uma enorme oportunidade para os oprimidos de todo o mundo.

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Last Update: 02/02/2025