Os biocombustíveis ganharam espaço na agenda global e o Brasil avança a passos largos na produção do etanol. O problema está no preço ao consumidor. A mudança na cobrança do ICMS da gasolina, por exemplo, não afetou o etanol, mas em muitos postos, o combustível estava mais caro. O presidente da Siamig, Mario Campos, observa os preços altos praticados em Belo Horizonte, que para ele, é uma decisão dos donos de postos de combustíveis. Outra questão que ele acompanha de perto está relacionado aos Estados Unidos, que podem pressionar para que o Brasil compre o etanol de milho produzido por eles, mas o Brasil, segundo Mario, tem etanol suficiente para abastecer todo o país.

 Combustíveis mais caros. O ano está começando mexendo no bolso do brasileiro. Em relação aos biocombustíveis, como está a situação?

Na verdade, é só a gasolina. Deveria ser, mas ninguém pode conter, os postos são livre. Eu até acho que eles fizeram algum tipo de remarcação do etanol agora, antes do reajuste, prevendo alguma coisa. O ICMS aumentou em todo o país, saindo de R$ 1,37 para R$ 1,47. Em tese, esses 10 centavos serão repassados para a bomba. Agora, isso não tem nenhum tipo de relação com etanol. 

Isso torna o etanol mais competitivo?

Deveria, mas depende, porque nós somos só produtores de etanol. Depende das distribuidoras, depende dos postos. Em Belo Horizonte, temos visto preço de etanol muito acima do que em outras regiões de Minas Gerais. E isso tem prejudicado o consumo de etanol em Belo Horizonte. É uma escolha dos agentes que aqui operam. Então, provavelmente estão trabalhando com margens mais altas. Mas é uma escolha deles, e nós nada podemos fazer. Os preços são livres. O que a gente pode fazer é orientar o consumidor, sempre procurar a produto mais barato. Isso é o importante. Mas esse aumento de ICMS da gasolina, sem alteração no etanol, isso, em tese, deveria melhorar a competitividade do etanol. Mas vai depender muito do que vai acontecer com as decisões das companhias distribuidoras e dos donos dos postos de combustíveis. Isso vai depender deles

O Triângulo mineiro, está com o preço de etanol bem mais baixo do que aqui, Sul de Minas. Isso é fato. Em Belo Horizonte a gente observa que tem muitas redes de postos, proprietários que têm 1015 postos, são redes grandes e isso não acontece, necessariamente, nessas pequenas cidades, nessas cidades mais distantes. Isso de fato tem ocorrido aqui em Belo Horizonte. 

A produção para esse ano com essas chuvas todas, a safra está garantida?

Ano passado a safra 24/25 foi a maior da história em termos de produção de etanol no Brasil. Tivemos gente com uma produção considerável aqui em Minas, muito maior do que o ano anterior em quase 10%, mas não foi a maior da história. Não é de etanol. Mas no Brasil foi a maior produção da história. Então isso refletiu em consumo. Aumentou muito o consumo de etanol ano passado em Minas e no Brasil como um todo. 

E para esse ano?

Nós estamos agora com a safra de cana-de-açúcar paralisada. É período de chuvas. Temos uma expectativa de que nós vamos ter uma quantidade de cana muito parecida com ano passado, que foi um ano atípico. Teve seca, muita seca e no final, muita chuva. Nós estamos observando que o verão está com chuvas adequadas. Então podemos ter uma safra de cana boa. No Centro-Oeste, estamos observando um crescimento também forte do etanol a partir do milho. É muito provável que este ano a gente tenha novamente uma produção maior de etanol do que o ano que passou. Tem também a expectativa, esse ano, de aumentar a mistura de etanol na gasolina. Passar de 27 para 30 % e continuar trabalhando esse mercado de etanol tratado, porque consumidor, proprietário de veículo flex, pode escolher o etanol em vez de gasolina, principalmente nos estados onde tem diferenciação tributária importante, como Minas, São Paulo. Estados do Centro-Oeste e Paraná. Em maio também teremos uma alteração na tributação federal do etanol, que pode ajudar a reduzir os preços do etanol consumidor. Será uma queda em torno de 5 centavos na tributação federal do etanol.

A posse do Donald Trump muda alguma coisa em relação ao biocombustível?

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Acho que o que pode mudar é que os americanos têm uma pressão muito forte para abrir o mercado brasileiro para a importação. Eles querem exportar etanol para cá. E nós achamos que não há necessidade e de fato, hoje, com a produção crescente, com um mercado consolidado, não há necessidade dessa produção americana. A gente sempre fala em contrapartidas. Os Estados Unidos estão reclamando das tarifas que o Brasil impõem sobre mercado americano. Uma dessas tarifas é sobre o etanol, mas ele esquece que ele impõe uma tarifa absurda sob o açúcar brasileiro. O Brasil é o maior produtor, maior exportador de açúcar do mundo. Hoje, praticamente a gente só entra nos EUA, com uma pequena cota de 150 mil toneladas. Isso em um mercado de consumo, de mais de 12 milhões de toneladas, nós só participamos com 150 mil. Já teve vários movimentos, tudo em negociação com os americanos, mas a gente sempre colocou que deveria ter uma visão sistêmica de setor. O milho nos Estados Unidos serve tanto para produção de etanol, quanto para adoçar bebidas, por exemplo. Eles usam o xarope de milho para fazer refrigerante. Da mesma forma, no Brasil, a gente usa a cana para fazer açúcar e etanol e deveria, obviamente, ser observado isso para estabelecimento de acordos. E agora, é claro que nesse tipo de negociação, o Brasil é muito menor que os Estados Unidos no sentido amplo. Há receio, sim, dessa agenda ao longo do ano do governo Trump. Com relação ao petróleo, o que vai acontecer no mundo, não se sabe, porque o petróleo depende de oferta e demanda. Então você pode aumentar a oferta e a demanda também, porque junto com essa discussão dele (Trump) tem o fato de rediscutir os assuntos ambientais e outros países podem seguir o exemplo dele e reduzir, por exemplo, restrições ambientais. Você tem um efeito que é o aumento de oferta, mas por outro lado, você tem uma paralisação das operações e dos incentivos aos carros elétricos. Então pode aumentar também a demanda, com a volta do motor a combustão e, com isso, aumentar a demanda. Ele tem como objetivo reduzir preço por causa de inflação. Mas não se sabe se de fato ele vai conseguir. Os Estados Unidos são hoje um importante player no mundo de produção de petróleo e gás. São auto suficientes, não têm mais dependência externa. Por fim, nós temos nosso câmbio, que pode amortizar ou potencializar essas quedas. No final do ano vimos o dólar chegando a mais de R$ 6. Tem todos esses aspectos que podem influenciar os preços dos energéticos.

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Last Update: 01/02/2025