O deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) foi eleito o mais jovem presidente da Câmara dos Deputados neste sábado (1°), com 444 votos. Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) e Marcel van Hattem (Novo-RS) tiveram 22 e 31 votos, respectivamente. 

A vantagem de Motta soobre os demais candidatos partiu de uma aliança que conseguiu reunir 18 partidos em torno do nome do republicano (PP, PSD, Republicanos, PL, PT, PCdoB, PV, PRD, Rede, Solidariedade, Cidadania, PSDB, PSB, PDT, MDB, Avante, Podemos e PRB), base que soma 495 deputados. 

O novo presidente, de apenas 35 anos, nasceu em João Pessoa, na capital paraibana, e vem de uma família com tradição política em Patos, no sertão da Paraíba. Médico, Motta é casado, tem dois filhos e está no quarto mandato na Casa.

Nabor Wanderley, também filiado ao Republicanos, é o atual prefeito de Patos, após reeleição em 2024. 

Já a carreira de Motta na Câmara teve início em 2010, quando recebeu 86 mil votos para ocupar Legislativo Federal, impulsionado pela influência da avó, Francisca Motta, que está no sexto mandato como deputada federal. 

Pupilo de Eduardo Cunha (MDB), quando ainda fazia parte do partido, Hugo Motta presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em 2015, instalada por Cunha para investigar as acusações envolvendo petistas na Operação Lava Jato. 

Motta defendeu o impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016 e se mantém próximo de Eduardo Cunha, a quem reafirmou amizade, em setembro de 2024, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Mesmo assim, o novo presidente da Câmara tem uma boa relação com os ministros, e aliados destacam sua atuação em negociações de temas na área econômica.

Apresentação da candidatura

Confira o discurso de Hugo Motta na íntegra:

Nesse momento tão importante, presidente Arthur Lira, é impossível subir a esta tribuna no dia de hoje e não lembrar do dia em que vivi a emoção de ocupar este espaço pela primeira vez, em meu primeiro mandato, 14 anos atrás. 

Creio que cada um de nós experimentou do seu jeito, na sua alma, a sensação de olhar a este plenário pela primeira vez e sentiu o que é a força da democracia, a força de vontade popular, a força do destino, pois somente essas forças são capazes de trazer cada um de nós, deputadas e deputados, a este plenário, a esta tribuna. 

E essa emoção que eu senti é a mesma que eu sinto agora, a emoção que nunca me abandonou e nunca irá me abandonar, a de que ao olhar daqui eu vejo líderes, eu vejo verdadeiros símbolos da democracia, pois cada um teve de trilhar uma longa e única jornada para  estar aqui e representar o sagrado dever de ser porta-voz da única fonte legítima do poder, o povo brasileiro, em nome de quem qualquer poder é exercido.

Minhas amigas e meus amigos, pois quando subi aqui pela primeira vez, para mim, nunca olhei para aquela cadeira da presidência imaginando que fosse o auge do poder de uma deputada ou de um deputado, e continuo pensando da mesma maneira. 

O auge de um projeto popular no Legislativo é aqui, aqui chegamos pela vontade do povo  e todos que chegam até aqui são iguais. 

Aquela cadeira não faz nenhum de nós diferente, é transitória, efêmera. Se for da vontade de vossas excelências que eu possa ter a honra de presidir esta casa, quero deixar claro que serei o que sempre fui, de outra forma, mas o mesmo. Serei um deputado-presidente e não um presidente-deputado. 

Sair daqui para ali não pode ser a distância entre a humildade e a arrogância.

Acredito na humildade não como discurso moral, mas como atitude de vida e como postura política. 

Sem nem de longe me comparar a essas grandes figuras históricas, apenas a título de ilustração Mandela era um líder gigantesco e tinha a marca da humildade. Gandhi, colossal, era um exemplo da força através da humildade.

Considero que a arrogância é uma marca de fraqueza na vida pública e não entendo que a humildade seja sinônimo de fraqueza, mas de firmeza. Uma firmeza que é tão consciente de suas convicções que não precisa exacerbar, não precisa desrespeitar, não precisa extrapolar e, sobretudo, não precisa se achar infalível ou absoluta. 

Entendo esta casa e este plenário como um gigantesco e poderoso oceano e o presidente não comanda o mar, conduz o barco. O comandante não determina a direção das marés, não é ele que controla as forças da natureza política. O que melhor um presidente pode fazer é conduzir esta nau sabendo navegar. O presidente tenta ser um bom navegador, entendendo que ninguém navega o mar, mas no máximo o navio, e o navio não pode nunca navegar contra as ondas do mar.

E as ondas hoje são as forças políticas que se formam em todo lugar e deságuam nas discussões desta casa. E o presidente tem de saber respeitar o que, aliás, vem sendo feito nas últimas presidências. As maiorias robustas comprovam que o plenário foi soberano tantas e tantas e tantas vezes em questões cruciais.

Cabe a mim, se puder contar com o apoio de vossas excelências, ter a clareza de explicar como pretendo me conduzir. 

Nada grandioso, mas uma pequena peça fundamental nesta grande construção que todos fazemos juntos chamada história. 

Quero ser um elo na corrente, um elo forte, mas com a consciência de ser apenas um elo,  na corrente que não deve se quebrar, que não deve se partir, que não podemos deixar romper.

Porque todas as vezes que romperam essa corrente em nossa história, partiram a democracia. O meu dever é ser esse elo, passageiro, como todo poder, efêmero, mas sólido, que deverá se ligar ao elo que virá depois, para que essa corrente continue intacta e a nossa democracia inquebrantável. 

Se for eleito o vosso presidente, tenho certeza que será com grande orgulho e honra.

Mas não tenham dúvida, nenhum presidente deixa de usar este broche que nos identifica e nos iguala e nem tem direito a dois broches. Nunca lhe foi conferido um broche especial de presidente. O presidente é um deputado que tem de servir esta casa como o igual, pois chegará ali com este broche e dali sairá com ele.

Nos últimos meses, nunca haverá uma unanimidade, mas as decisões do presidente, se tomadas com sabedoria e humildade, nunca poderão ser decisões pessoais. Nos últimos meses, tenho conversado com cada um de vocês pessoalmente, ouvindo as demandas, as propostas de cada um. Juntos, vamos fortalecer institucionalmente a Câmara, manter a sua autonomia e independência em relação aos demais poderes.

Essa luta, compreendemos que uma boa gestão de país se faz com respeito um pressuposto da harmonia. Um país equilibrado, um povo forte, se faz na construção dessa harmonia tão importante para a manutenção dos espaços democráticos. Queremos uma Câmara forte, com a garantia de nossas prerrogativas e em defesa da nossa imunidade parlamentar.

A garantia das prerrogativas parlamentares é essencial para o fortalecimento do povo, pois cada um de nós, deputados e deputadas, está diretamente relacionado aos anseios daqueles que confiaram o voto a cada uma e cada um aqui presentes. Juntos, buscaremos debater temas relevantes, abrindo diversas frentes de discussão, oportunizando previsibilidade sobre a pauta legislativa, direcionando para um aprimoramento constante das agendas temáticas. 

Considero importante a retomada das sessões no começo da tarde, evitando notificações de última hora.

O planejamento deve preceder nossas ações.  Dessa forma, os impactos nas agendas interna e externa de cada parlamentar é minimizado. De maneira prática, precisamos, por exemplo, estabelecer com antecedência quais sessões serão virtuais e presenciais.

Devemos também priorizar um alinhamento de pautas com o Senado, para otimizar o processo legislativo. Se for eleito, quero buscar, junto aos pares, o estabelecimento de critérios para a designação de relatorias de projetos.

A distribuição de relatorias precisa ser mais equilibrada, de modo a oferecer mais oportunidade a deputados menos experientes ou com menos protagonismo, promovendo uma participação mais ampla e inclusiva do processo legislativo.

É uma Câmara de todos, para todos. A multiplicidade de vozes do Parlamento deve reverberar em atitudes que estejam do lado do Brasil. 

Faço aqui meu compromisso de, caso eleito, facilitar as audiências, criar uma rotina periódica de acesso ao presidente, com reuniões da mesa diretora, de forma mais inclusiva e com transparência de decisões.

Sou mais um entre vocês. E, como presidente, isso não vai mudar. Precisamos combinar qualidade e quantidade no trabalho legislativo, aprofundando o debate das pautas, fortalecendo as comissões tão essenciais para a discussão detalhada de projetos relevantes.

Assumir o compromisso com a bancada feminina em promover ainda mais o respeito e a visibilidade das mulheres no Parlamento. Com relatorias de projetos que não tratam só sobre mulheres, mas que elas possam assumir cada vez mais a liderança de propostas de agenda econômica, de educação, de segurança pública, de outros projetos de interesse do Brasil, além de melhorar a estrutura da Secretaria da Mulher. 

A deliberação de projetos relacionados aos interesses das mulheres também será incorporada de forma contínua à agenda da Casa, deixando cada vez mais de estar limitada apenas à semana do dia 8 de março.

Precisamos, a partir da consciência e do compromisso com o bem-estar social, a partir do que falamos, valorizar mais a nossa Secretaria de Comunicação para que possa dialogar com a sociedade, explicar com clareza as pautas para que os parlamentares participem dos conteúdos e ganhem visibilidade, principalmente nas redes sociais digitais. 

Hoje sabemos que as forças que agitam os mares da política ocorrem em tempo real e vêm inclusive de fora dessa Casa. Devemos compreender os novos ventos que moldam o caminho a ser navegado.

Vamos ajustar as velas, estabelecer a escuta ativa, honesta e guiar os destinos do Brasil com franqueza e esperança. O fato, amigos e amigas parlamentares, é que todo o poder desta Casa não emana da Presidência, mas deste plenário e de cada deputado e deputada individualmente, devido e legitimamente eleito pelo povo. 

Caberá a mim, se puder receber a confiança de vossas Excelências, ser aquele que mais vai ouvir e quem ficará mais rouco, quem mais receberá a pancada dos ventos da nossa democracia.

E reafirmo, diálogo, diálogo inesgotável, é a melhor forma para encontrarmos o caminho melhor. Dialogar pressupõe ouvir, não a voz da sua ouvida sem ouvido aberto. 

Então, haverá hora de dialogar, de colher os ventos que moldam os movimentos das ondas 

e haverá hora de decidir de ajustar as velas.

Eu tenho uma história de vida, estou no meu quarto mandato de deputado e pude conviver com muitos colegas que me ensinaram muito e pude conhecer bem esta Casa. Não tenho nenhuma outra ambição a não ser ajudar neste período tão complexo do País e do Mundo para que a coincidência do H do meu nome e o H das torres do Congresso seja para que possamos fazer uma gestão cuja marca seja de outro H de harmonia. E só a harmonia quando se respeita a independência entre os poderes e a interdependência forjada a partir de suas obrigações.

É assim que reza a Constituição, tentarei ser o presidente com o H de Hugo mas sobretudo com o H de Humildade e o H da Harmonia. Jamais seria candidato por um projeto pessoal, só estou aqui hoje porque é o presidente do meu partido, um dos meus mestres políticos, o deputado Marcos Pereira, tomou a decisão mais nobre e mais generosa que um homem público pode tomar  e ao fazê-lo nos deu uma lição do que é a política no seu nível mais elevado. 

Ele abriu mão de postular merecidamente e com todas as credenciais à presidência desta Casa.

Entendeu que seu gesto permitiria a construção política que culminou no dia de hoje com o parlamento pacificado e com todas as linhas de pensamento convergindo para uma ampla comunhão de princípios capaz de superar as diferenças em nome de algo maior do que eu, de algo maior do que todos nós. 

Fomos capazes de provar que a política não é o abismo que nos afasta, mas a ponte que nos une. Quero aqui fazer uma homenagem e externar meu sentimento de gratidão a três nobres deputados e companheiros de jornada.

Antônio Brito, Helmar Nascimento e Isnaldo Bulhões. 

Amigos de extrema competência e experiência política, à altura de ocupar a presidência desta Casa, com altivez e humildade, abriram mão de suas legítimas pretensões para se juntar a nós em torno de uma Câmara unida e fortalecida. A vocês, meus amigos, meu sentimento de gratidão.

Agradeço também meus queridos companheiros de bancada dos republicanos, um time guerreiro e unido que tive a honra de liderar por três anos e que respaldou por unanimidade minha candidatura. Quero agradecer também a todas as deputadas e a todos os deputados que me receberam com carinho e muita generosidade. Nesse período deu uma pequena amostra da minha talvez melhor especialidade, ouvir, ouvir, ouvir.

Espero errar o menos possível, ouvindo o máximo que todos puderem me falar. Acompanhei de perto, como líder, a gestão que ora sincero. O presidente Arthur Lira deixa para nós o maior legado de realizações legislativas e transformações reais na vida dos brasileiros que esta Casa.

O presidente Arthur Lira deixa para nós o maior legado de realizações legislativas e transformações reais na vida dos brasileiros que esta Casa pôde, com a participação de todos, oferecer ao país desde Ulisses Guimarães. E não falo isso como retórica. 

Os feitos, os fatos, as inúmeras emendas constitucionais, as reformas que comandou para o bem do país, sua colossal agenda fechando com a histórica reforma tributária, tudo isso faz de sua gestão só comparado ao timoneiro da redemocratização. E foi também o presidente Lira que consolidou de vez  essa etapa final de recuperação das prerrogativas do Parlamento, não contra ninguém ou contra nenhum outro poder, mas a favor da democracia, a favor da Constituição.

Minhas amigas e meus amigos, todos vocês, vossas excelências, conhecem a vida de candidato. É hora de pedir voto e não cansar demais o eleitor. Recebam o agradecimento deste seu amigo, colega e na condição de candidato.

Eu peço humildemente o voto de cada um para ter a honra de presidir, junto com todas e todos,  a Casa do Povo Brasileiro. Meu muito obrigado.

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Last Update: 01/02/2025