Davi Alcolumbre, senador do União Brasil pelo Amapá, venceu a disputa pela presidência da Casa com 73 votos, seguido pelo senadores do PL astronauta Marcos Pontes (4) e Eduardo Girão (4).
Este é o segundo mandato de Alcolumbre no Senado. O primeiro teve início em 2015 e, entre 2019 e 2021, foi o mais jovem presidente do senado.
Ao longo do discurso de apresentação da candidatura, Alcolumbre reafirmou a necessidade de pacificação como característica principal de sua gestão. “Para mim, governar é ouvir e liderar é servir. E é disso que o nosso país precisa agora. Uma liderança que una e não que divida.”
Alcolumbre tem 47 anos e é comerciante em Macapá, capital amapaense. A carreira política começou em 1999, quando se elegeu vereador. Já em 2002 conquistou uma vaga na Câmara dos Deputados, onde se reelegeu por outros dois mandatos (2006 e 2010).
No Senado, presidiu a Comissão de Desenvolvimento Regional e exerceu a presidência da Comissão de Constituição e Justiça por duas vezes.
Apesar de jovem, Alcolumbre tem grande poder de argumentação. Além de eleger o sucessor quando deixou o Congresso, o senador Rodrigo Pacheco, também foi capaz de costurar uma aliança política que conta com o apoio do PT e do PL, em troca de cargos importantes na Casa.
PP, Republicanos, PSD e MDB também apoiaram o senador.
Em relação ao governo Lula, Alcolumbre mantém boa relação com o Planalto, tanto que foi responsável pela indicação de dois ministros: Juscelino Filho, na pasta das Comunicações, e a de Waldez Góes, à frente da Integração Nacional.
No entanto, a proximidade não significa que Lula terá vida fácil para aprovar pautas no Senado durante a sua gestão, como demonstrou o então presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Confira a apresentação da candidatura de Davi Alcolumbre na íntegra:
“Senhoras senadoras da República Federativa do Brasil (0:10) e senhores senadores da República Federativa do Brasil. É com a bênção de Deus, com o apoio incondicional da minha família e com o incentivo do meu partido e de tantas outras legendas que me coloco mais uma vez à disposição de servir a esta casa e ao Brasil.
É para mim uma grande honra subir novamente a esta tribuna do Senado da República com humildade e uma determinação renovada para apresentar minha candidatura à presidência do Senado Federal.
Vocês me conhecem, sabem do meu compromisso verdadeiro com esta instituição, com o Brasil e acima de tudo com a população que confia em cada um de nós para representar os seus sonhos e as suas esperanças. Sou um defensor intransigente do diálogo, da construção coletiva e das soluções compartilhadas.
Para mim, governar é ouvir e liderar é servir. E é disso que o nosso país precisa agora. Uma liderança que una e não que divida.
Durante minha gestão como presidente desta casa, em 2019 e 2020, enfrentamos um dos períodos mais desafiadores da nossa história. Enfrentamos a pandemia global da Covid-19. Enquanto o vírus ameaçava vidas, tivemos que aprender a trabalhar distantes uns dos outros.
A economia sofria abalos profundos e a polarização política fragmentava o nosso tecido social. O Senado Federal permaneceu firme como um bastião de equilíbrio e instabilidade democrática.
Conseguimos juntos aprovar medidas fundamentais que protegeram milhões de brasileiros. Do auxílio emergencial ao novo marco legal do saneamento. Passando por uma ampla reforma da Previdência, provamos que esta casa é capaz de ser ágil, eficiente e sobretudo sensível às necessidades do povo brasileiro.
Com o apoio de cada um de nós, senadores e senadoras, tomamos no Senado Federal decisões corajosas. Foram tempos difíceis, mas guardo comigo o orgulho de ter sido, em especial essa instituição, o Senado Federal da República do Brasil, parte importante da solução.
Fomos o primeiro parlamento do mundo a deliberar sobre o julgo do confinamento. Criamos um sistema pioneiro de votação remota, que permitiu que as atividades legislativas não parassem, mesmo no momento mais crítico da crise sanitária.
E mais, compartilhamos nossas experiências com outros parlamentos do mundo, fortalecendo a democracia global em meio a uma grande incerteza. Mas os desafios do nosso sistema democrático não terminaram ali. Vivemos momentos em que muitos trocaram a conversa pela ofensa, a fala pelo grito, o debate saudável pela discórdia.
Mas simplesmente repetir o que nos trouxe até aqui não nos levará ao futuro. E é sobre o futuro que gostaria de falar hoje. O Brasil ainda enfrenta os ecos da intolerância e da radicalização.
Adversários são tratados como inimigos. O discurso de ódio e as agressões contaminam as redes sociais. Precisamos reconstruir pontes e lembrar que adversários são parceiros no debate democrático, típico de uma casa como o Senado da República.
Anseiamos todos, com certeza absoluta, pela pacificação. Queremos resgatar a cordialidade que perdemos. Voltar a perceber que temos apenas um único objetivo comum, o desenvolvimento do Brasil, a felicidade de cada brasileiro e de cada brasileira.
Porque é essa pergunta que mais importa responder. A pergunta que devemos nos fazer todos os dias. Como podemos facilitar a vida das pessoas? O que podemos fazer para o nosso povo viver mais feliz? Acredito que minha experiência de quem foi timoneiro na tempestade me credencia para este novo desafio.
O desafio da pacificação, da reunião e da reconstrução. E não haverá pacificação, não haverá reconstrução, não haverá futuro se não houver diálogo, se não houver respeito, se não houver democracia e democracia forte. E não haverá democracia forte sem um congresso livre, sem um parlamento firme, sem um Senado soberano, autônomo e independente.
Por isso, meu primeiro compromisso, se for eleito presidente desta casa, será com a defesa da voz do povo, o mandato parlamentar. Um compromisso com a proteção das garantias e das prerrogativas de senadoras e senadores e com a preservação da independência do Senado Federal.
Defender o Senado Federal é defender os brasileiros, é defender a legitimidade do voto e do mandato parlamentar conferido diretamente pela população.
E só quem foi à rua pedir o voto popular sabe o quanto vale e quanto significa o aval do povo nas nossas ações. O Senado sempre foi e continuará sendo um pilar da resiliência, do equilíbrio e da responsabilidade. O Senado não é apenas uma casa legislativa, é um símbolo da força da democracia brasileira.
Há 200 anos construímos aqui o presente e lançamos as bases para o futuro. É aqui que os grandes debates se transformam em ações concretas para melhorar a vida de cada cidadão. É aqui que renovamos diariamente nosso compromisso com a República e com a Constituição Federal.
Nos momentos de crise consolidamos o papel do Senado como uma instituição independente que dialoga com os demais poderes, mas que não abrirá mão das suas prerrogativas.
E é com essa mesma postura que reafirmo meu compromisso de conduzir o Senado Federal com altivez, com sabedoria, com calma, mas também com firmeza e independência. Hoje, mais uma vez, enfrentamos grandes desafios.
O relacionamento entre os poderes, embora seja regido pela Constituição e pela harmonia, tem sido testado por tensões e desentendimentos. Entre esses desafios, destaco a recente controvérsia envolvendo a apresentação de emendas parlamentares no orçamento do país, que culminou em debates e em decisões e com o Supremo Tribunal Federal e com o Poder Executivo.
Quero ser claro, é essencial respeitarmos as decisões judiciais, é essencial respeitarmos o papel do judiciário em nosso sistema democrático, mas é igualmente indispensável respeitar as prerrogativas do Poder Legislativo e garantir a este Parlamento que possa exercer o seu dever constitucional de legislar e representar o povo brasileiro.
Essa garantia pelas prerrogativas do mandato vai muito além das questões orçamentárias. Tem a ver com o mandato popular, o mandato parlamentar que é assegurado pela Constituição Federal. Estou falando do cumprimento de acordos, acordos aqui firmados porque sem a confiança uns nos outros e sem a obediência ao que foi acordado, esse Parlamento se transforma em um verdadeiro campo de guerra e as boas ideias se perdem numa eterna e infrutífera disputa entre antagonistas.
Daí coloco um terceiro compromisso para o qual me empenharei com determinação. Acordo firmado é acordo cumprido, até que um novo acordo ou uma nova maioria pense diferente.
O diálogo é a essência da política, é através dele que convergimos ideias, superamos diferenças e avançamos como nação.
Sei que os consensos nem sempre são rápidos e fáceis, mas acreditem que eles são sempre o melhor caminho. Precisamos dar tempo ao diálogo, permitir que os debates amadureçam e que as soluções se construam de forma sólida, consistente e inclusiva. E quando os consensos se mostrarem impossíveis, que prevaleça a vontade da maioria, sempre respeitando o direito das minorias e assegurando que cada voz seja ouvida.
A convivência harmônica entre diferenças é a busca constante pelo equilíbrio entre as vontades, é sem dúvida nenhuma o pilar de uma democracia robusta. Um outro desafio também se coloca diante de nós, o processo legislativo bicameral que se espera do Congresso Nacional. A matéria já aprovada em uma casa e assim com tramitação mais avançada, tem que ser prioritária em relação ao outro projeto interno que ainda não foi apreciado.
Um ato da mesa, seja da Câmara ou do Senado, não pode se sobrepor à Constituição e ao Regimento comum, e há décadas de tradição.
E assim assumo um compromisso, de atuar para reverter o entendimento da mesa da Câmara anterior, de apensar os nossos projetos já aprovados no Senado. Há projetos ainda em face inicial da Câmara vizinha, a fim de que a iniciativa de lá se converja em originária, enquanto a dos senadores é esquecida.
O processo legislativo das medidas provisórias também precisa ser retomado urgente. As comissões mistas são obrigatórias por mandamento constitucional.
Suprimi-las ou negligenciá-las não é apenas errado do ponto de vista do processo, é uma redução do papel do Senado Federal.
E por isso que estou aqui, apoiado por meus pares e me coloco novamente à disposição para buscar construir consensos e ajudar nos impedimentos que o Brasil tanto precisa.
O futuro nos convoca, um futuro que exige coragem para enfrentar desafios, experiência para lidar com sabedoria e, acima de tudo, um compromisso inafastável com a democracia.
Vamos fazer o que é certo, vamos resistir aos atalhos populistas.
Nenhuma das diferentes correntes políticas é puro anjo ou demônio. Evitemos os rótulos dos discursos fáceis, as distorções dos debates nas redes sociais e as simplificações mal intencionadas.
Nosso objetivo é muito maior, é construir um Brasil que orgulhe as futuras gerações.
Me permitam aqui agora me dirigir ao povo do meu querido e amado Amapá. O Amapá é uma síntese do Brasil, uma terra de riquezas naturais e culturais, mas também de desafios profundos. O Amapá me trouxe à Brasília como deputado federal em 2002 com 25 anos de idade.
Em 2014 fui eleito senador mais jovem da história do Amapá, com 37 anos. E finalmente em 2022 o povo do Amapá entendeu que eu deveria continuar nesta luta. O Amapá representa tanto as oportunidades quanto os dilemas que marcam o Brasil.
O Amapá traz em si um paradoxo brasileiro. De um lado uma riqueza natural extraordinária, a diversidade cultural vibrante, um povo resiliente. E de outro os desafios econômicos e principalmente sociais.
Meu compromisso com o Amapá é portanto também um compromisso com cada estado do Brasil. Um compromisso de incultar as nossas distâncias, de reduzir as nossas desigualdades e de superar as nossas diferenças. Esta é a minha missão.
Colegas, sei que não caminho sozinho. Reconheçam em cada um de vocês a vontade de fazer a diferença e de transformar este país. Após o fim do meu mandato, tive a honra de passar o bastão ao senador presidente Rodrigo Pacheco.
Um dos mais completos homens públicos deste país. Um líder equilibrado, coerente, preparado e comprometido com os valores democráticos. Seu trabalho nesses últimos quatro anos, Rodrigo, consolidou os avanços iniciados por esta casa. E fortaleceu o papel do Senado como pilar da democracia.
Senador presidente Rodrigo Pacheco, minha gratidão e o meu reconhecimento pelo legado que deixa. Sua liderança nos inspira e nos mostra o caminho a seguir.
O caminho da união, da moderação, da busca pelo bem comum. A experiência que adquiri como presidente, aliada ao aprendizado desses anos de parceria, de amizade, de trabalho conjunto com vossa excelência, me fortalece para esse novo desafio.
Sozinho, não se vai longe. E por isso peço, humildemente, apoio de cada uma das senadoras e de cada um dos senadores. Peço seu voto de confiança. Juntos, podemos enfrentar e vencer os grandes desafios.
Juntos, podemos construir um Brasil mais justo e um parlamento mais unido e mais forte. Senador e cada senadora, reafirmo, tenha a certeza de que desta casa será cada vez mais a casa da boa política. A política do respeito, a política do diálogo, como ferramenta de construção à busca de consenso.
Somos uma casa de iguais e seremos uma casa de iguais. Enfim, encontrarão um aliado dedicado à defesa das prerrogativas parlamentares, à independência do Senado e o fortalecimento da nossa federação.
Cada senadora, cada senador pode ter a certeza do meu constante empenho na consolidação do espaço do Senado na agenda política brasileira.
No processo legislativo, na formulação de políticas públicas, na fiscalização do Poder Executivo, na representação dos estados e dos municípios, no fortalecimento da nossa federação e na pacificação nacional.
Reafirmo meu compromisso com o Colégio de Líderes, sua importância estratégica nos trabalhos da casa e para além dos partidos, ouvirei cada senador e cada senadora.
Sempre fui muito bem recebido por todos e todas e sempre recebi e sempre receberei bem.
Tenho a humildade de saber conversar, quem pensa diferente. Aprendi que a divergência é sempre uma oportunidade e um aprendizado para o crescimento. Sei que há algo maior que nos une.
Por isso, peço a cada um e a cada uma esse novo voto de confiança. Não me falta vontade, não me falta coragem, não me falta disposição para enfrentar e vencer os desafios e se colocar diante de nós. Tampouco me falta experiência.
Aos brasileiros e brasileiras, eu renovo meu compromisso com a federação, com a defesa da federação. A riqueza de um país é a riqueza de seus estados e a riqueza de cada estado é a riqueza dos seus municípios. A minha luta será sempre para que os municípios brasileiros venham ocupar o centro do nosso arranjo federativo.
Fortalecer o município é dar a cada cidadão o direito à cidade, que é onde se constrói e é onde se exerce a verdadeira cidadania.
Aos brasileiros e brasileiras, eu renovo meu compromisso com o desenvolvimento do nosso país.
Vamos trabalhar por um Brasil mais justo, mais próspero e mais unidos. Vamos fortalecer estados e municípios priorizando a descentralização para onde a vida do cidadão acontece, valorizando o pacto federativo, uma das minhas maiores lutas.
Vamos trabalhar pelo Brasil, promover a geração de emprego, crescimento econômico, desenvolvimento social, saúde pública, educação de qualidade e segurança para todos. Vamos ampliar as oportunidades e garantir que cada cidadão tenha a chance de prosperar.
Vamos trabalhar para facilitar a vida do povo, que é para isso que nos colocaram aqui. Vamos fazer o que é certo para o Brasil, com responsabilidade fiscal, com seriedade e equilíbrio, resistindo aos discursos fáceis, às curtidas em redes sociais e aos aprazos momentâneos. O nosso juiz será o futuro.
Vamos defender a Constituição, proteger a democracia, o Estado de Direito. Prometo desempenhar pela segunda vez com responsabilidade e ânimo renovado a missão de presidir o Senado Federal e conduzir esta casa com respeito e dedicação.
Agradeço a todas as senadoras e senadoras pelo companheirismo, pela oportunidade do diálogo e pela atenção de me ouvirem.
Agradeço especialmente aqueles que têm acompanhado nesta caminhada. Quero agradecer a todas as lideranças, a todos os partidos que confiaram na nossa candidatura.
Quero agradecer mais uma vez ao nosso presidente Rodrigo Pacheco, pelo trabalho extraordinário, pela amizade fraterna e pela parceria duradoura.
Agradeço finalmente a minha família, pelo apoio incondicional. E agradeço a Deus pela força sempre renovada. Muito obrigado.
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