Gilberto Kassab virou onipresente no noticiário político. Tudo por uma combinação de fatores que refletem tanto seu histórico de articulação quanto seu papel estratégico no atual cenário nacional e paulista. De adulador de Lula no ano passado passou a franco atirador, elegendo Fernando Haddad, ministro da Economia, como principal alvo.
Ex-prefeito de São Paulo, ex-deputado, ex-ministro e atual manda-chuva do governo paulista, Kassab dispõe de um canhão que assusta (a despeito do seu telhado de vidro): é o dono e principal articulador do PSD, um partido que, apesar de jovem, consolidou-se como uma força política relevante no Congresso.
Virou o ‘partido balança’ nas votações mais importantes da Câmara e do Senado, tanto no apoio ao governo Lula quanto em negociações com a oposição.
Essa posição faz com que Kassab esteja constantemente envolvido em articulações, seja para garantir maioria em projetos do governo federal, seja para preservar os interesses do PSD em estados estratégicos como São Paulo.
Kassab ocupa a Secretaria de Governo de São Paulo, sob a gestão de Tarcísio de Freitas. Sua presença em um governo alinhado com a extrema direita enquanto seu partido negocia apoio ao governo federal cria uma tensão política constante, que alimenta especulações e conflitos.
Essa duplicidade de alianças é uma marca do estilo pragmático de Kassab, mas também coloca o PSD sob escrutínio, especialmente quando decisões estaduais impactam diretamente interesses federais e vice-versa.
Outro fator que trouxe Kassab de volta ao noticiário são as investigações e denúncias de corrupção envolvendo contratos públicos na cidade de São Paulo, todos ligados ao período em que esteve à frente da prefeitura ou manteve aliados em posições estratégicas.
Embora não haja novas acusações diretas contra ele nos últimos dias, seu nome aparece com frequência nos bastidores dessas investigações, reforçando sua imagem de político hábil, mas também cercado de controvérsias.
Ele não ressurge no noticiário apenas pelo papel ativo e controverso que continua desempenhando no presente, mas também pelo seu passado, o que ajuda a entender não só o xadrez eleitoral de 2026 mas também os motivos que levaram a essa pasmaceira que tomou conta do cenário político nacional.
Antes é preciso entender como Kassab surgiu.
Pulando as etapas iniciais quando comandou o prostibulo que foi o governo de Celso Pitta, em São Paulo, e depois deputado federal, ouviu-se dizer de Gilberto Kassab pela primeira vez em 2004, quando próprio se ofereceu para ser vice na chapa de José Serra na disputa pela prefeitura da capital.
Serra, que havia saído derrotado da eleição presidencial de 2002 contra Lula, ainda carregava o peso da traição política de Fernando Henrique Cardoso, então presidente da República, que o deixou à deriva no segundo turno.
O tucano mergulhou em um período de reclusão e depressão, resistindo à ideia de disputar novas eleições, notadamente a prefeitura.
Foi um movimento orgânico, liderado por vereadores aliados, que acabaram convencendo Serra a vestir o pijama, sair de casa e voltar para o jogo.
Estive diretamente envolvido nesse processo: levava esses líderes até a casa de Serra, no Alto de Pinheiros, no afã de que cada visita o trouxesse de volta à cena política.
Quem também tinha interesse nesse retorno era o então governador Geraldo Alckmin, que via em Serra um adversário interno. Alckmin desejava Serra prefeito – ou desmoralizado por uma nova derrota – para eliminar qualquer chance de o tucano disputar a presidência em 2006.
Ainda hesitante, Serra quis testar sua popularidade nas ruas.
Passamos uma tarde circulando pelo centro de Santo Amaro. Ele conversou com pessoas, tomou café em um boteco e até cortou o cabelo em uma barbearia simples, dessas em que a navalha ainda é afiada no couro.
Animado com a recepção calorosa, acabou aceitando a candidatura. Mas o entusiasmo desmoronou quando Kassab foi indicado como vice.
Serra foi categórico: não queria Kassab na chapa.
Desconfiava da sua reputação, a ponto de considerá-lo um risco ético. Mas, em política, nem sempre se tem o que quer.
Um fato se tornou curioso nesta época: Kassab não podia se aproximar de Serra.
Como editor de inúmeros tabloides desta campanha, fui instruído a omitir o nome de Kassab, mesmo que isso significasse infringir a legislação eleitoral.
Seu assessor de imprensa, amigo meu, assegurava que ele compreendia a situação e optava por se manter discreto.
Foi após a vitória que a mágica começou a acontecer.
E quem marcou o ponto inicial e futuro dessa costura chama-se Guilherme Afif Domingos, aliado de quatro costados do agora vice e figura que sempre transitou com desenvolvutoa não só nos salões da direita, mas também naquele centro que se dizia esclarecido do qual Serra fazia parte.
Afif, com sua habilidade em lidar com finanças e negócios, se aproximou do prefeito eleito e foi trazendo Kassab para o círculo de decisões. Rapidamente, o vice passou de figura marginalizada a aliado de confiança, assumindo o controle das decisões municipais, e das finanças, enquanto Serra se concentrava em suas ambições políticas futuras.
Foi o período que marcou o início do declínio do PSDB.
Com o controle do cofre, Kassab e Afif passaram a coordenar as finanças das campanhas tucanas subsequentes.
O golpe de misericórdia nos aliados começou em 2009, quando Kassab, então eleito para seu próprio mandato a prefeito, botou a máquina da prefeitura para coletar assinaturas e fundar seu próprio partido, o PSD. Nesse momento, Serra já havia perdido o controle sobre o aliado e já via a social democracia como um grupo de oportunistas apenas ávidos por cargos e dinheiro.
Kassab consolidou seu espaço, avançando com sua estratégia de alimentar as ambições de seus interlocutores para manter o controle.
Embora cumprisse acordos e fornecesse recursos conforme necessário, sua lealdade sempre foi questionável.
Serviu ao governo Dilma Rousseff, mas a traiu nos momentos finais, assumindo um ministério no governo golpista de Michel Temer.
Durante a gestão de João Doria no governo estadual, foi impedido de assumir a chefia da Casa Civil devido a envolvimentos em escândalos de corrupção relacionados às marginais. Demonstrando seu potencial de sobrevivência, recuou e indicou um substituto para a função.
A partir de 2022, Kassab adotou uma postura ambígua: direcionou o PSD a apoiar Lula no Congresso, enquanto ele próprio assumiu uma posição no secretariado de Tarcísio de Freitas em São Paulo.
Sua atuação contribuiu para a instabilidade do cenário político brasileiro no início do século, manipulando alianças e interesses até que a situação se tornasse insustentável.
Hoje, seu nome é onipresente nos bastidores e no noticiário político, sendo reconhecido como um especialista em criar cenários e promover terra arrasada. A quem interessa?
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