O governo brasileiro anunciou a substituição de Eduardo Paes Saboia no cargo de negociador do BRICS. Agora, a função será desempenhada por Mauricio Carvalho Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores.
A Folha de S.Paulo deu assim a notícia, através da pena de Patrícia Campos Mello: “Após pressão da ex-presidente Dilma Rousseff, o governo brasileiro substituiu o principal negociador do BRICS em pleno ano de realização da cúpula do bloco no Brasil”.
A saída de Saboia acontece após seu envolvimento em uma crise diplomática entre Brasil e Venezuela na última cúpula do BRICS. O governo brasileiro vetou a entrada dos venezuelanos no bloco, e Saboia foi duramente criticado por Caracas por manter o veto imposto pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela denunciou que Saboia perpetuou a exclusão do país, ignorando mudanças na política externa brasileira.
Desde 2013, ele é marcado por ações que contrariaram diretrizes da política externa brasileira. Naquele ano, ajudou o ex-senador boliviano Roger Pinto Molina a fugir da Bolívia para o Brasil sem autorização do governo brasileiro. Molina, acusado de corrupção, estava asilado na embaixada brasileira em La Paz, mas temia ser preso caso saísse da representação diplomática.
Desconsiderando completamente a hierarquia e a política oficial do Brasil, Saboia usou um carro da embaixada para transportar Molina até Corumbá (MS), de onde ele seguiu em um jatinho do então senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) para Brasília. A operação clandestina teve consequências graves: o chanceler Antonio Patriota foi demitido e o embaixador do Brasil na Bolívia foi substituído. Saboia também foi removido do cargo e transferido para uma função burocrática no Itamaraty.
No entanto, longe de ser punido, Saboia foi recompensado pelo golpe de 2016. O ex-presidente Michel Temer promoveu Saboia ao posto de Ministro de Primeira Classe, o mais alto da diplomacia brasileira. A ascensão de Saboia sob Temer expõe a relação do diplomata com o grupo que destruiu a política externa soberana do Brasil e alinhou o país aos interesses dos EUA.
O novo sherpa do BRICS, Mauricio Carvalho Lyrio, foi presidente do Brasil no G20 em 2024 e já atuou como embaixador no México e na Austrália. Sua experiência na presidência do G20 pesou a favor de sua nomeação, especialmente porque Brasil, África do Sul e Índia trabalharam juntos no evento e também fazem parte do BRICS.