A campanha de “Emilia Pérez” ao Oscar 2025 foi fortemente impactada pela mais recente controvérsia envolvendo Karla Sofía Gascón. Postagens antigas da atriz, que ressurgiram nas redes sociais na última quinta-feira (30), chocaram o público – e os eleitores do Oscar – com declarações islamofóbicas e racistas.
Entre os comentários atribuídos a Gascón, ela chama muçulmanos de “retardados” e o Islã de “profundamente repugnante”, se refere a George Floyd, cujo assassinato foi o estopim do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), como “um vigarista viciado em drogas” e ironiza a diversidade do Oscar, descrevendo-o como “um festival afro-coreano”.
“Cada vez mais o Oscar parece uma cerimônia de filmes independentes e de protesto, não sabia se estava assistindo a um festival afro-coreano, a uma manifestação do Black Lives Matter ou ao 8M”, disse.
A atriz desativou sua conta no ‘X’ após a repercussão do caso. “Sinto muito, mas não posso mais permitir que essa campanha de ódio e desinformação afete a mim e à minha família. Por isso, a pedido deles, decidi encerrar minha conta no X”, escreveu a estrela de “Emilia Pérez”. “Fui ameaçada de morte, insultada, abusada e assediada até a exaustão. Tenho uma filha maravilhosa, a quem amo profundamente e que me apoia em tudo, e minha prioridade é protegê-la.”
Nesta semana, dois dias antes da exposição dos tweets, Gascón já estava envolvida numa polêmica ao criticar profissionais ligados a Fernanda Torres por lançarem uma campanha contra ela nas redes sociais. A acusação grave e sem provas virou aperitivo perto da nova revelação, que coloca em risco não apenas a candidatura ao prêmio de Melhor Atriz, mas toda a campanha do longa-metragem.
PEDIDO DE DESCULPAS
Karla Sofía Gascón divulgou um pedido de desculpas pelas mensagens altamente insensíveis e racistas feitas anos atrás. “Quero reconhecer a discussão em torno das minhas postagens antigas nas redes sociais, que causaram sofrimento. Como alguém de uma comunidade marginalizada, conheço esse sofrimento muito bem e peço desculpas profundamente para aqueles a quem causei dor. Durante toda a minha vida, lutei por um mundo melhor. Acredito que a luz sempre triunfará sobre a escuridão”, ela disse na nota à imprensa.
POLÊMICA COM FERNANDA TORRES
Em entrevista durante sua passagem ao Brasil, em 21 de janeiro, Gascón criticou campanhas on-line que acreditava que a atacavam e a “Emilia Pérez”. Ela também destacou que a equipe de Fernanda Torres estaria por trás dessas publicações.
“O que eu não gosto são equipes de mídia social — pessoas que trabalham com essas pessoas — tentando diminuir nosso trabalho, como eu e meu filme, porque isso não leva a lugar nenhum. “Você não precisa desmerecer o trabalho de alguém para destacar o de outro. Eu nunca, em nenhum momento, disse nada ruim sobre Fernanda Torres ou seu filme (‘Ainda estou aqui’). No entanto, há pessoas trabalhando com Fernanda Torres desmerecendo a mim e a ‘Emília Pérez’. Isso fala mais sobre o filme deles do que sobre o meu”, disse.
Após o vídeo viralizar, Gascón se defendeu, dizendo que não criticou a adversária brasileira. “Sou uma grande fã de Fernanda Torres e foi maravilhoso conhecê-la nos últimos meses. Em meus comentários recentes, eu estava me referindo à toxicidade e ao discurso de ódio violento nas mídias sociais que infelizmente continuo a vivenciar. Fernanda tem sido uma aliada maravilhosa, e ninguém diretamente associado a ela tem sido nada além de solidário e extremamente generoso”.
NETFLIX NÃO SE PRONUNCIA
“Emilia Pérez” era visto como a maior aposta da Netflix para finalmente conquistar o Oscar de melhor filme. A plataforma adquiriu os direitos do longa em Cannes, onde Gascón e colegas do elenco compartilharam o prêmio de Melhor Atriz, e desde então concentrou a campanha na estrela espanhola. Para aumentar suas chances, a empresa até a inscreveu como protagonista e colocou Zoë Saldaña na categoria de Coadjuvante, apesar da narrativa ser centrada na personagem de Saldaña e seu tempo de tela ser maior. A Netflix e a Academia ainda não comentaram a polêmica.