O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nunca escondeu a pouca intimidade com a leitura. Ainda nos tempos de Alvorada, chegou a dizer, em 2021, que o ofício da Presidência lhe impedia de ler. “Desde que assumi, não li mais nada.” Agora, mesmo longe do poder e sem cargo formal, o ex-capitão continua sem tempo para os livros.
Em entrevista à Rádio Bandeirantes Goiânia, nesta sexta-feira 31, ele revelou detalhes de sua rotina e admitiu que a leitura não faz parte dela. “Livro eu não leio mais, não dá, não tenho tempo. Sou sincero”, afirmou.
Para suprir a falta de leitura, Bolsonaro diz recorrer a conteúdos recebidos via WhatsApp. “Eu tenho rede de Zap e informações”, justificou. E citou um exemplo: “A China assinou com o Brasil 37 acordos. Esses eu tenho que ler”, declarou, sem dar mais detalhes.
Não é só da literatura que Bolsonaro se mantém distante. Na mesma entrevista, confessou que também não costuma assistir a filmes. “Não dá. Só vejo futebol”, disse o ex-presidente, que, antes e depois de seu mandato, ficou conhecido por ostentar camisas de diferentes clubes brasileiros, como Palmeiras e Flamengo.
A relação de Bolsonaro com os livros nem sempre foi tão distante — pelo menos no discurso. Logo após vencer as eleições de 2018, ele aproveitou sua primeira fala como presidente eleito para exibir quatro obras de sua estante pessoal: a Constituição Federal, a Bíblia, O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota (de Olavo de Carvalho) e Memórias da Segunda Guerra (do ex-premiê britânico Winston Churchill).
A pouca familiaridade com a leitura, no entanto, não é exclusividade de Bolsonaro. Em novembro do ano passado, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, feita pelo Ipec, revelou que 53% dos entrevistados não leram sequer parte de um livro nos três meses anteriores ao levantamento. Foi a primeira vez que o estudo apontou que a maioria dos brasileiros não lê livros, registrando uma perda de 6,7 milhões de leitores em quatro anos.