O primeiro livro a gente nunca esquece… (II), por Izaías Almada
(O prêmio da APCA)
A caminhada do meu primeiro livro foi se mostrando surpreendente desde o seu lançamento ocorrido em várias cidades brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Santos…
“Pelos corredores dos anos 70 – até 1986 com a Nova República – três personagens desfilam diante dos vitrais de um novo tempo. Levam consigo nos alforges do passado as cargas de uma utopia deixada para trás. Retalhos e molambos de uma época de conflitos, um sem número de traumas, pesadelos e cenas que deveriam também ter sido esquecidas, retomam seus lugares num obscuro palco de violências. Vinte anos depois”. (Correio Brasiliense – 15/10/1989)
“O amor nos tempos do medo: no romance A Metade Arrancada de Mim (Estação Liberdade, 236 pags,), Izaías Almada toca os nervos de um passado recente que vai além de suas personagens”. (Voz da Unidade – 07/12/1989)
“Sem ser autobiográfico, como apontaram vários críticos, A Metade Arrancada de Mim, não deixa de enfocar as dificuldades do próprio Almada por suas atividades políticas nos anos 60 e que redundaram em duas prisões: uma em 68, pouco depois de filmar o curta-metragem Domingo no Parque, e outra em 69, quando ficou detido 25 meses. A história conta sobre Ruth. Que depois de presa no início dos anos 70, volta ser perseguida pelo antigo torturador”. (Jornal da Tarde/SP – 01/03/1990)
A grande surpresa surgiu no ano de 1990 quando a Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) honrou-me com o prêmio de Revelação Literária do ano de 1989.
A divulgação do livro e as críticas escritas por jornais de vários estados brasileiros e algumas revistas semanais tornaram-se responsáveis pela escrita de outros 13 livros nos últimos 35 anos, sendo o último deles, Os Arquivos de Veneza (The Venetian Files), com a colaboração do matemático Matheus Grasselli, lançado no Canadá, mas ainda inédito no Brasil.
O cinema, a literatura, o teatro, apresentam na sua carpintaria, os elementos para a construção de uma narrativa envolvente que leva a cada um de nós às lembranças mais variadas entre o amor e o ódio, entre a compreensão e a rejeição entre a verdade e a mentira…
Mas o que é verdade, o que é mentira?
O título de uma das críticas feitas ao livro, a do Jornal de Brasília (06/12/1989), cujo conteúdo emocionou-me, dizia: A fina lâmina entre o amor e o ódio, e acrescentava abaixo, o romance de Izaías Almada usa a ficção para expor a crueldade dos acontecimentos.
Essa mesma crítica que, infelizmente não trazia o nome de seu autor, terminava por constatar uma verdade que se mantém do período colonial até os dias atuais:
“A leitura esclarece aos que acham que a liberdade é apenas o direito de andar na rua, ignorando o que se passa dentro de cada um, especialmente quando as forças políticas são de total negação aos direitos humanos”.
Direitos humanos esses que, ao completarmos o primeiro quarto do século XXI, são ameaçados, infelizmente não só no Brasil, mas em todo o mundo.
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.