Análises Superficiais e Interesses Ocultos: A Crise de Credibilidade no Mercado e o Impacto na Percepção da Realidade Econômica

por José Messias Bastos

Em um contexto global caracterizado por uma complexidade econômica e política sem precedentes, marcado pela volatilidade dos mercados financeiros, transformações geopolíticas aceleradas e avanços tecnológicos disruptivos, a necessidade de análises profundas, criteriosas e multifacetadas torna-se cada vez mais evidente. No entanto, observa-se um paradoxo preocupante: muitos analistas de mercado, que deveriam ser os principais intérpretes dessas dinâmicas, parecem agir de forma desorientada e superficial, incapazes de transcender as aparências e compreender as nuances que definem a realidade econômica e social. A expressão coloquial “baratas tontas” sintetiza, de maneira contundente, essa incapacidade de alcançar o nível intelectual e analítico necessário para enfrentar os desafios contemporâneos.

Em vez de mergulhar nas camadas mais profundas dos fenômenos econômicos, esses profissionais frequentemente se limitam a análises rasas, influenciadas por interesses particulares, vieses ideológicos ou uma visão míope das dinâmicas em jogo. O resultado são previsões e projeções que, não raro, falham em capturar a verdadeira essência da conjuntura econômica, gerando desconfiança e um desalinhamento significativo entre as expectativas e a realidade.

Um exemplo emblemático dessa falha analítica foi o Relatório Focus do Banco Central do Brasil, divulgado em 29 de dezembro de 2023. Nas suas projeções para o ano de 2024, o relatório errou de forma categórica em praticamente todos os indicadores-chave da economia brasileira. A tabela abaixo ilustra a discrepância entre as previsões e os resultados reais:

Indicador Previsão Realidade
Crescimento do PIB 1,52% 3,5%
Inflação (IPCA) 3,9% 4,8%
Taxa de Juros (Selic) 9,0% 12,25%
Câmbio (R$/US$) 5,00 6,00
Déficit Primário 0,30% 0,5%

Esses erros gritantes não apenas evidenciam a falta de precisão nas projeções, mas também levantam questões fundamentais sobre a metodologia e os pressupostos utilizados pelos analistas. O crescimento do PIB, por exemplo, foi subestimado em mais de 100%, enquanto a taxa de juros e o câmbio foram projetados de forma completamente desconectada da realidade.

Diante de tamanho descompasso, tornou-se imperativa uma mudança de estratégia por parte desses analistas e das forças que os influenciam. No entanto, essa mudança não foi motivada por uma autocrítica ou uma busca por maior rigor técnico, mas sim por uma articulação política e midiática de amplo espectro.

Essa nova estratégia foi construída de forma coordenada com setores poderosos da sociedade, incluindo a grande mídia — representada por emissoras de TV, jornais de grande circulação e até mesmo as chamadas fake news que circulam nas redes sociais —, além de grandes associações de classe, como o oligopsônio dos frigoríficos, onde as quatro maiores empresas do setor detêm mais de 50% do mercado de carnes. A alta dos preços da proteína animal, que pode se aproximar de 8% no último trimestre de 2024, foi um dos fatores que contribuíram para a inflação.

A alimentação foi responsável por 33% da alta do IPCA de 2024, que fechou o acumulado do ano em 4,83%, acima do teto da meta de 4,5%. O economista Antônio Márcio Buainain, professor do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, explica que os alimentos pesaram na inflação, mas que não há motivos para preocupação, pois “o país não passa por uma crise inflacionária”. A produção de alimentos no país foi afetada em 2024 por eventos climáticos extremos, como secas, queimadas, altas temperaturas, tempestades de granizo e inundações.

A essas forças somou-se uma operação de desvalorização do real, ocorrida no mês de dezembro de 2024, que teve impactos significativos sobre a economia e a percepção pública. O objetivo central dessa articulação foi claro: desqualificar o governo atual, especialmente diante dos anúncios de colheitas robustas previstas para os dois anos finais de sua gestão.

Esses anúncios, que poderiam ser interpretados como sinais de uma recuperação econômica e de uma gestão eficiente, foram sistematicamente desacreditados por meio de uma narrativa construída para minar a confiança da população no governo. A estratégia envolveu a disseminação de dúvidas sobre a veracidade dos dados, a desvalorização dos avanços alcançados e a criação de um clima de incerteza e pessimismo. Em resposta, o governo percebeu a necessidade de uma mudança estratégica e optou por substituir o Ministro das Comunicações, buscando fortalecer sua capacidade de comunicação e contrapor as narrativas negativas.

No entanto, essa abordagem revela uma profunda desconexão entre as análises de mercado e a realidade vivida pela população. Enquanto os números e indicadores econômicos apontam para melhorias concretas, os analistas e seus aliados midiáticos e políticos insistem em negar ou minimizar esses avanços.

Um dos destaques do período foi o recorde de exportações na indústria de transformação, que atingiu US$ 181,9 bilhões em 2024, o maior valor desde o início da série histórica em 1997. Esse desempenho reflete a atuação do governo brasileiro em políticas que impulsionam a produção nacional e fortalecem o comércio exterior. Como afirmou o vice-presidente e ministro do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Geraldo Alckmin:

“O MDIC tem atuado em projetos tanto para estimular a produção da indústria quanto para colocar o país em outro patamar de comércio exterior.”

A balança comercial brasileira também alcançou resultados expressivos em 2023 e 2024, com exportações em níveis inéditos e superávits históricos. Segundo a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, o superávit de 2024 deve posicionar o Brasil entre os 10 maiores do mundo.

Além disso, a corrente de comércio brasileira cresceu 3,3% em 2024, reforçando a maior integração do país à economia global. As exportações contribuíram de forma significativa para o desempenho do PIB, evidenciando a relevância do setor externo para a economia brasileira.

Outro ponto de destaque foi o aumento dos investimentos em infraestrutura, impulsionados principalmente pelo setor privado. Quase 500 projetos de investimentos, somando cerca de 750 bilhões de reais, serão direcionados para setores estratégicos como transporte e logística, energia e saneamento básico. Esses investimentos não apenas gerarão empregos e movimentarão a economia, mas também criarão as condições necessárias e suficientes para um crescimento sustentável no longo prazo.

Apesar desses avanços, os analistas de mercado e seus aliados insistem em negar ou minimizar os progressos alcançados. Essa postura não apenas compromete a credibilidade desses profissionais, mas também contribui para um ambiente de desinformação e polarização, onde os interesses particulares e ideológicos se sobrepõem ao bem-estar coletivo e à busca por um entendimento mais profundo e equilibrado da realidade.

Em suma, a incapacidade de enxergar além das aparências e a insistência em estratégias de desqualificação e desinformação revelam uma crise não apenas na análise de mercado, mas também na própria capacidade de construir um diálogo honesto e produtivo sobre os rumos do país.

Enquanto isso, a população continua a buscar sinais de esperança e progresso em meio a um cenário cada vez mais complexo e desafiador.

José Messias Bastos – Professor de Geografia Econômica e Social do Departamento de Geociências da UFSC. Pesquisador do Instituto Ignacio Rangel – Florianópolis/SC

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Last Update: 30/01/2025