Economista e ex-presidente do BNDES, Demian Fiocca avaliou, em entrevista ao jornalista Luis Nassif, do GGN, que o Banco Central (Bacen) dispõe de instrumentos ortodoxos para corrigir a “anomalia” de se aumentar a taxa básica de juros (Selic) sucessivamente. Ontem, mantendo a série de altas, o Conselho Monetário Nacional (Copom) anunciou a Selic a 13,25% ao ano, na primeira reunião chefiada por André Galípolo, nomeado por Lula para chefiar a instituição.
Demian Fiocca afirmou que o Bacen tem dois caminhos para frear e até reduzir a Selic, que não tem sido eficiente para a economia. Uma das ideias que tem sido bastante ventilada, e que foi sugerida por economistas em carta ao Copom, é o ajuste da meta de inflação de 3% para 4%. Demian, particularmente, defende um regime progressivo: 4,5% para 2025, 4,25% para 2026 e 4% para 2027. “Só isso já aliviaria uns 3 ou 4 pontos na Selic”, disse.
“A gente vai estourar as contas públicas, fragilizar as empresas, deixar toda a tensão sobre a situação fiscal, porque a inflação está caindo mas não pode cair só para 4, tem que cair para 3?”, indagou.
Segundo explicou o economista, “os juros altos estão afetando ativos e a qualidade de dívidas, o que vai piorando a situação das empresas, não só do governo. E aí as pessoas começam a se perguntar: por que mesmo temos juros cinco vezes maior do que o resto do mundo, se não estamos em crise econômica.”
Em artigo publicado recentemente, o economista Aloízio Araújo defendeu não mexer oficialmente no centro da meta de inflação, mas mirar o teto da meta, que é de 4,5% – o que, na visão de Demian, teria o mesmo efeito prático do que foi proposto na carta ao Copom. Segundo os economistas, a meta de 3% é inalcançável. Na opinião do jornalista Luis Nassif, é uma “maluquice” mover a Selic em torno de uma meta de inflação irrealista.
A segunda alternativa
Além de ajustar a meta, o Bacen tem outra alternativa para corrigir os rumos da Selic: adotar medidas macroprudenciais, que Demian Fiocca definiu como “contenção de crédito”. Segundo ele, outras economias pelo mundo têm adotado essa estratégia, sobretudo desde a crise de 2008. No Brasil, não seria nenhuma inovação nem algo complexo de se fazer, até porque as regras do Bacen permitem seu uso.
“O Galípolo tem uma saída. Não é o habitual, mas está lá escrito em algumas regras do Banco Central. Já foi usado como sucesso em vários lugares. Usa o controle de macroprudenciais. Ele pode dizer que não vai seguir com Selic ineficiente. Usa menos Selic e diz que está de olho no crédito, na alavancada dos bancos, de modo mais conservador. Não resolve a parte da meta, mas resolve a parte do custo [que a Selic alta impõe à economia]. Isso está ao alcance do Banco Central. Seria manter a mesma postura contracionista, o mesmo efeito sobre o que a gente chama de conjunto das condições de liquidez da economia, mas com menos custo.”
Assista a entrevista completa com Demian Fiocca abaixo: