Um projeto chamado World, que propunha a coleta da íris de voluntários como uma espécie de “impressão digital” mais avançada, atraiu muita atenção em São Paulo nos últimos meses. Isso ocorreu, principalmente, porque a iniciativa oferecia cerca de R$ 600 em criptomoedas aos participantes, valor que despertou o interesse de moradores de diversos bairros de renda mais baixa.
A expansão das atividades não demorou para chegar a regiões como Brasilândia, Cidade Dutra e Cidade Líder. “Fiquei sabendo pelos meus amigos, que divulgaram um aplicativo que estava dando dinheiro. Eu questionei: ‘De graça, assim?’ e confirmaram, ‘De graça’. Eu vim pelo dinheiro mesmo. Estou duro. Mas nada é de graça, né?”, disse Alex Rodrigo, de 38 anos, que se inscreveu em dezembro.
No entanto, no último dia 24, a Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) determinou a suspensão do pagamento, alegando que a prática “pode interferir na livre manifestação de vontade dos indivíduos”. Segundo o órgão, esse risco se torna ainda maior quando se trata de pessoas em situação de vulnerabilidade financeira.
Desde que o projeto chegou às periferias, o número de registros disparou. Porém, muitas pessoas não compreendiam exatamente como seus dados seriam utilizados. “Eles exibem dois vídeos e colocam seu olho no aparelho que eu também não sei o que significa. Eu vou procurar entender, porque foi do nada [que eu vim escanear]. Até agora eu estou viajando”, afirmou Josinaldo Diniz, de 46 anos.
As pessoas estão simplesmente escaneando e VENDENDO a própria íris pra uma empresa de IA pic.twitter.com/oBB7zHblCA
— Sam Luz -JOGO TAROT 🔮 (@samguaja) January 13, 2025
Especialistas em direito digital e tecnologia ouvidos pelo g1 questionam a transparência do projeto. Eles alertam que termos de uso complexos, aliados à falta de esclarecimentos efetivos, podem levar usuários a autorizarem o compartilhamento de dados sem entender as consequências. Para a ANPD, esse tipo de coleta pode ferir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
A World, por sua vez, argumenta que as fotos são convertidas em códigos criptografados e fracionados, que seriam armazenados em diferentes servidores, afastando riscos de identificação. Entretanto, com a determinação da ANPD de proibir a remuneração, a iniciativa deve enfrentar desafios para manter suas operações e seguir expandindo para outras regiões do Brasil.
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